Hoje é 12 de junho, dia dos namorados, eu estou em um prostíbulo com um copo de wisky falsificado em minha mão; bebo um gole. Desce suavemente pela minha garganta, esquentando-a como um inferno, ardendo como um arranhão. Olho para a mesa em frente, um homem jovem- como eu- conversando com uma profissional que trabalha na casa onde estou, ela sorri de forma mecânica, seus olhos brilham, ela tem muita sede, ele paga muitos drinks para ela. Ela é muito sensual.
A música é interessante, está tocando Elton John, passa por dentro de meus ouvidos todo o romantismo dos anos 80, a iluminação me faz sentir em uma peça, eu estou representando. Meu papel é o da solidão. Bocas vermelhas passeiam em minha frente, corpos esculturais, rostos angelicais, olhares demoníacos. Estou no estômago do monstro sendo digerido pela luxuria, degradado pelo pecado, salvo pelo prazer, escondido, sou um fugitivo da tristeza, um herói da solidão.
Estou pronto para a odisséia erótica, o ambiente fetichizado me agrada com sua depressão, sorrisos forçados, orgasmos fingidos, parcerias improváveis. Pago adiantado, estou no quarto. Ele é abafado, ela tira a roupa. Excitação. Corpos em atritos. Acabou. Vou em bora.
Em casa me junto novamente com o vazio. Ligo a televisão e vejo as desgraças da última hora- escândalos políticos, assaltos, assassinatos, estupros, acidentes- e no intervalo comercial pessoas bonitas e sorridentes-vendendo produtos- com seus corpos e mentes a disposição do cliente.
A noite é longa, pensei que amanheceria logo. Tedio. Quero voltar para o mundo mágico da prostituição, encontrar pessoas ávidas por momentos prazerosos. Continuo assistindo televisão, essa espada justiceira que me dá a visão além do alcance.
Anoiteceu novamente, vou para o buraco negro, sou sugado pela força que sai do nada e toma conta do espaço. é inevitável, estou novamente com um copo de bebida barata e um cigarro esfumaçando minha angustia, meu marasmo. Sou mais um ser pronto para embarcar na aventura noturna e amanhecer nos braços da saldade, entardecer no desespero e escrever para não me matar.
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