terça-feira, 22 de agosto de 2017

Pequenino texto, incomensurável dominação, possíveis orgasmos.

    Esse orvalho e orgasmo que nos molha pela manhã evapora pelos poros, e é consumido pelo calor da labuta do dia, pela burocracia ordinária cotidiana, pela disciplinarização das potências do corpo, da mão de obra produtiva, pelo cerceamento da criação intelectual. Somos devorados pela ação do mostro máquina, triturados pelas engrenagens enferrujadas no estômago da modernidade de um sistema sem libido. Precisamos de razão, mas sem eclipse da emoção, sem matar o instintual, precisamos de nos autogerirmos para não sermos guiados por razões obscuras, que se escondem atrás de propriedade privadas, de classes que desclassificam o coletivo em nome da liberdade de quem tem mais poder aquisitivo. O sol há de brilhar mais uma vez, porém, sem cegar.

sábado, 5 de agosto de 2017

Melancolia gélida de votos que alimentam monstros políticos frios

Olho pela janela, motos, carros, até um fusca vermelho e barulhento passa, o tempo passa, fluido, calmo lá em baixo, violento na alma, fluxo contínuo e inexorável! O meu ser é o que ainda não foi, dúvida constante, mudança fleumática, permanência sem palavras, inaudita permanência de dúvidas.
Duvido que seja apenas cortes leves, me parece carnificina, o tempo passa, mas o conservadorismo e as velhas práticas continuam; travestidos, novas roupagens, o corte na carne é sanguinolento, feridas abertas não cicatrizam tão rápido como passa o tempo.
Não há poesia na desgraça? Infortúnios, dores, paisagens lúgubres, melancolia sem rima, eis a poesia trágica e ácida que sai das páginas políticas; cortes no orçamento, saúde, educação, ação de meliantes em andamento, mas salvam comparsas, presidentes, economias.
Em nome da economia cortamos orgasmos, futuros, bolsas; apenas desgostos adoçam esse café frio nesses dias gélidos. Corações em brasa queimam e a flama entra em contato com a neve que sai dos céus cinzas, tristes e burocráticos, eis a política partidária que inflama o peito e continua a caminhar comendo a carne que sai das urnas eleitorais.
Vote e alimente um monstro, carnívoro e intransigente, que adora o gosto salgado de mamíferos e inteligentes. A fogueira está acesa, o frio permanece como a corrupção que evapora pelos poros e se desfaz em discursos inocentes; não há prisões para quem rouba alimento de crianças ou futuros de jovens delinquentes, apenas negritudes esfomeadas e enlouquecidas pagam o preço em celas imundas e dias sem sol poente.
Lute e quebre as algemas de gelo que lhe prendem ao monstro partidário, estatal e sem vergonha, inescrupuloso representante de seus próprios interesses, que cospe confeites verbais e lhe tira o suor da labuta diária, tudo em nome do povo, essa fantasmagoria que só serve para subterfúgios esfarrapados que encobrem ideologias parasitárias.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Internet, arte e cultura.

O progresso desmantela a tradição, desvirtua a áurea artística, mas leva inovações que deixam mais dinâmicas, acessíveis e práticas determinadas ferramentas, serviços e comodidades modernas. No mundo da arte e entretenimento, que no capitalismo está intimamente ligada ao mundo industrial, produção de mais valor, temos a indústria cultural que investe dinheiro na produção cultural artística, porém, ela está mais interessada no lucro do que na “mensagem” da obra de arte.
O progresso tecnológico está em marcha com o movimento do capital, descobertas científicas e investimentos em pesquisas para a indústria, comércio e ganho de capital em geral; e com as artes não é diferente, veja o caso do cinema e da música, por exemplo, que tinha suas plataformas “físicas”, no caso do cinema um local fixo onde as pessoas iam para assistir aos filmes, já a música passou de um local física para as residências com o rádio e posteriormente com os aparelhos toca discos, fitas e CD’s. O cinema também entrou na intimidade do lar através da televisão e as sessões nas redes de TV, mas foi nos anos oitenta do século XX com o advento do videocassete que tivemos o verdadeiro “cinema em casa”; as pessoas poderiam a partir daí ter acesso a filmes nas locadoras de vídeo, ou mesmo comprar e ter coleção de filmes em casa, para assistir quando, onde e como quisessem. A indústria de entretenimento lucrou bastante com isso.
O século XX foi o século das guerras mundiais, da expansão e mundialização do capital, ou pelo menos, de sua intensificação; isso levou a uma compressão do tempo e espaço, viagens mais rápidas, o casso do avião, comunicações em tempo real por telefone, de pois internet. Novas tecnologias levaram a uma mudança da indústria de entretenimento também, com a internet ficou mais fácil ouvir músicas, ler notícias, ver vídeos, séries e filmes, pois as pessoas podem fazer downloads, ou ver o conteúdo online, dentro desse contexto temos os serviços de streaming como you tube, e o mais famosos no atual momento, a netflix. Essas plataformas de envios de dados multimídia são uma “evolução” no campo cultural, hoje qualquer pessoa com um computador pode assistir filmes, séries, ouvir músicas onde quiser, está pulverizado na rede os conhecimentos, as ideias, as obras de arte, a reprodução em série e em massa que retiraria a áurea da arte na visão do filósofo Benjamin, hoje está sendo levada ao extremo pela internet.
Como na ficção científica cyberpunk estamos cada vez mais virtuais, mais conectados e dependentes da tecnologia e da informática, do acesso à internet, isso leva também a formas diferentes do sistema agir, seja o Estado, as empresas, indústria e mercado financeiro; não houve uma diminuição das desigualdades socioeconômicas, houve sim uma maior concentração de renda, uma maior exploração do trabalho, desemprego, na atual conjuntura neoliberal isso intensifica a alienação e o individualismo, individualismo esse que é condicionado também pela tecnologia e as novas formas de relacionamentos humanos virtuais pelas redes sociais, pelo acesso a produtos culturais por computadores, tablet e celulares, estamos conectados em rede, mas desconectados do concreto fora da matrix.
A indústria cultural lucra com essas novas formas de entretenimento, as pessoas têm mais acesso a determinados produtos artísticos e culturais, porém, nem sempre isso quer dizer maior democratização, pois o acesso à tecnologia de computadores, tablets e demais meios físicos para acessar internet não é para todos, vamos lembrar que existem milhões de pessoas passando fome, desempregadas ou sobrevivendo de subempregos. Sem contar que o caráter comercial da arte não abre espaço para uma melhor, mais profunda e crítica expressão artística, se pegarmos o catálogo de filmes da netflix veremos que a maioria do que é disponibilizado lá é arte comercial, com linguagem hollywoodiana, no caso dos filmes; temos assim um espaço limitado para o alternativo, e ainda mais limitados para o revolucionário e crítico.
Os serviços online, streaming, torrent’s, e demais meios de acessos a música e filmes na internet facilitam o acesso, apesar de alguns “canais” serem limitados ainda ao que o Capital seleciona e distribui como arte para as massas, ou seja, para a maioria das pessoas, que seus gostos condicionados, além dos locais que ocupam na divisão de classes, escolaridade, grupos de amigos, também pela propaganda e divulgação nos meios de comunicação.
A internet pode ser um local de produção de obras culturais, artísticas e de comunicação de qualidade, críticas e de cunho revolucionário, há espaço, mesmo que limitado e cheio de obstáculos para ideias que não sejam as ideologias das classes dominantes, para uma arte que não seja apenas a comercial, piegas e conservadora; como os personagens da ficção científica cyberpunk temos que lutar seja no virtual, seja no real contra o sistema que nos escraviza, desumaniza e aliena, isso pode ser feito por uma luta cultural nas redes sociais, nos conteúdos colocados na internet, ou meso na seleção de programas, filmes e músicas nos meios dominantes de streaming, como a netflix e you tube.