sábado, 30 de abril de 2011

NÃO AMO MAIS


As flores enfeitavam a paisagem, folhas verdes, laranjadas, folhas secas e suaves, toda a atmosfera cheirava a beleza, todo o belo era um suspiro de desespero nesse mundo crente em um futuro decadente. Cair no abismo e não gritar, beijar e não amar, contradições diárias, frustrações presidiárias, verdes campos, lindos bosques, flertar com o imaginário, transar com o carnaval de desejos presos nos gritos roucos, loucos e...E o vento levou toda essa passagem, essa cena, essa engraçada desgraça de nossas vidas plenas, tudo é passado, mesmo o desejo de futuro, o beijo sem recado, o amor endeusado. Folhas laranjadas, flores bonitas, a paisagem convidava a beleza para um passeio naquela tarde, aquele casal parecia tão feliz, mesmo abraçando o pecado e o imoral.
Corpos ardentes, a penetração era uma suave mensagem embrulhada em raios, em emoções, em descargas elétricas, eu via como uma boa observadora todo o frescor da pele macia presa em bocas, em orgasmos, em sexo selvagem. Cada gemido, cada suspiro, tudo fotografado pelo cérebro dessa autora sem medo da verdade. As folhas caiam em cima dos corpos em atrito, o quadro renascentista cheio de erotismo se pintava, gozava, eu sentia minha vagina molhada a cada nova investida.
Sangue, aquela mulher que um dia antes transbordava de excitação hoje não fala nada, não tem mais o calor de outro corpo, seu amante a matou, ciúmes, raiva, aquela foi a última tarde de amor.
Penso como o mundo é estranho, carrego comigo as angustia de uma existência sem sentido, vejo o andar desse corpo sem direção, essa humanidade a procura de respostas, eu procuro uma luz no fim do túnel, não encontro o final dele, ele não tem fim, não tem luz. Não amo, não sinto mais isso, o sofrimento de antes tirou de mim esse abismo, não caio mais, mas se cair não grito.
Sofri, Carlos foi o último que me fez chorar, a política foi a última utopia de minha vida escolar, a arte não enxerga mais, eu estou cega de tanta loucura. Quero me deitar nas estrelas e dormir na eternidade, quero bailar no espaço frio de minhas poesias sem rimas, minhas idéias sem clima. A imagem da mulher ressurgi nesse turbilhão de sentimentos e imagens, o sexo se mistura com a morte, o gozo se mistura com a dor, vejo ela gemendo enquanto era penetrada pelo pênis daquele homem, vejo ela sangrando.
O amor, por que matamos e morremos por amor? Ser humano não é ser vivo, é ser vivo para a morte, como posso ser uma mulher se eu não amo mais?
As folhas lutavam com o vento, as flores cobriam o mundo com seu encanto, aquele casal transando me lembrou meu último amor, Carlos, a morte da mulher me lembrou que não sou mais aquela ingênua garota. A morte me lembrou que tenho que viver, um caótico mundo me abraça nesse momento, a ópera entra em seu clímax, o fim do texto não preenche as lacunas de meus pensamentos. Queria gozar mais uma vez, amar sei que é pedir de mais. As folhas cobriam o corpo do casal.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

...E SEM PERDÃO

Ouvindo uma banda que marcou momentos de insônia, desgraças e pirraças. Abandono, fui abandonado por Deus, pela sociedade e por mim mesmo em uma estrada sem acostamento. Olho, vejo aquelas criaturas mais infelizes, mais bobas, grotescas, indecentes, elas são felizes, sorriem para o espelho imaginário em sua frente. A solidão é engraçada, a banda me lembra nostalgicamente da época de desilusões, as pessoas felizes e com sorrisos falsos me lembram que tenho que parar de lembrar e sonhar, tenho apenas que parar e andar novamente.
A música tem um tom alternativo, a música soa brega, soa um som silencioso, a noite cai, me lembro dos roucos, agudos e desafinados pedidos de desculpas, eu já havia me esquecido. Seu vestido rosa, seus cabelos negros, sua cara de alcoólatra, sua expressão de ressaca moral, choro entupido por vergonhas alheias, ela caminha pelos meus pensamentos, ela não faz parte da época de desgraças, ela não fez parte da trilha sonora romântico e brega, ela fez parte de sonhos, de pesadelos, de vidas estupradas por poesias sujas. Ela faz agora o que ninguém mais tem coragem, ela bebe  nos beijos sem amor sua felicidade.
Vanessa não chora, ela chorou de mais, ela não sorri, apenas faz cara de cômico desdém, ironia fina como pétalas de uma flor, cheiro estonteante de uma planta em chamas. Lembro-me que já chorei, hoje transo com seios, nádegas, bocas carnudas, não vejo corações, deslumbramentos, Vanessa vai no mesmo caminho, ela não beijou as lápides, não comeu o barro de Adão, ela apenas levantou um dia  e olhou para a chuva e disse para si mesma que não iria mais se sujeitar. Eu bebi a lama que escorria junto às fezes, junto ao esgoto humano de palavras sem perdão, foi após dias de escuridão que liguei minha iluminada e indiscreta raiva e cuspi todo o meu orgulho no rosto da multidão.
Um samba, uma nota de uma música que fala de amor, não choro mais, aquele vestido, aquele corpo cheio de calor, cheio de alguma coisa que não decifrei ainda, ela não me causou a náusea, a lástima, não tirou de mim o que não tenho mais, ela apenas existiu e passou perto de meus olhos, Vanessa nunca disse uma palavra, nunca me olhou diretamente nos olhos, apenas passou em minha frente.
Eu poderia defecar, expressar, exalar, metralhar com ferozes e mortíferas palavras todo o meu rancor, mas não tenho, não tenho paixão, tenho indiferença, tenho tesão, mas ela não tem nem isso, ela e seu vestido., ela passeia seu corpo por mãos, por bocas, ela chupa a inoxidável alegria, ela se esfrega em corpos calientes, ela não engana, não dissimula, é o que é, sem maquiagem. Vanessa não participou de meu passado, ela apenas passou em frente ao meu contemplativo olhar. Admiro quem abandona as frustrações por conta própria, quem mergulha no mundo sem ingenuidade e sem pedir perdão.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

ONDE OS FRACOS NÃO CHORAM


Tiros, gritos, horror, medo, sangue escorrendo em memórias aflitas, ao vivo, morto, dilacerados pelo terror, vejo a manchete, vejo dúvida, vejo o nada. Lágrimas escorrem, lacrimogêneas águas pelos olhos dos telespectadores, a dor de ver crianças inocentes terem suas vidas ceifadas por um homem aparentemente sem motivos. Monstro, assim ele é chamado pelas pessoas, elas ficam chocadas com a barbárie, eu não fico, isso também choca as pessoas.
A violência tomou conta dos noticiários, da anormalidade, o cotidiano é cheio de gritos, dor e sangue, há um espetáculo da violência, a sociedade vive essa onda de caos. Mas a violência não é uma invenção nova, não é fruto do capitalismo, do comunismo ou da pós-modernidade, ela sempre existiu com a sociedade, com a cultura, com a desgraça. Não vejo motivo para me chocar com a violência, nesse ponto sou como um vegetariano em churrasco, um estranho no ninho, um ser humano longe da humanidade.
Um circo, uma arena, gladiadores, leões, escravos, tudo montado para a diversão, para o êxtase, não é Roma, é a mídia e sua violência gratuita, não posso me horrorizar com todas as notícias fantásticas ou desgraçadas, não posso chorar toda vez que uma criança morre de forma brutal ou desnecessária. Isso não quer dizer que não sinto nada, tenho meus sentimentos, meus princípios, mas não tenho essa obsessão masoquista por sofrimento diário e com pessoas que não estão em contato direto comigo ou que tenha algum laço de amizade comigo. Não tenho um apego com a abstração fantasmagórica chamada humanidade, me apego, choro e amo pessoas concretas e que fazem parte de minha vida. Quanto a humanidade só me resta ter um  sentimento de identidade que mais parece uma razão objetivada do que algo cordial.
Uma sinfonia, uma retirada estratégica, ruas cheias, pessoas caminhando freneticamente, ouço vozes, ouço os comentários, elas lamentam, fazem comentários, xingam o psicopata do atentado de Realengo. Nada mais chocante do que morte de crianças, ainda mais em uma escola. As ruas cheias, o caminhar sem sentido, conversas não proibidas, bebidas para a alma, tudo vai e volta e acaba caindo no tabuleiro do atentado. Lágrimas, raivas, todos parecem estarem em um estado de choque, fúnebre, luto coletivo e nacional, entendo essas pessoas, elas são o que são, “sentir” é algo apaixonante. Uma sinfonia de vozes, uma música triste, não choro pela dor do cotidiano.
Em um mundo onde os fracos não têm vez só resta o choro e a pena coletiva pelas atrocidades cometidas por loucos ou vítimas transformadas em lobos. No meu mundo os fracos se tornam fortes e engolem o choro, não por serem desumanas, mas por serem sobreviventes de um mundo violento.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ateísmo, moral e crime.


O ateísmo nunca foi visto com bons olhos, temos relatos de sua existência na antiguidade clássica, até mesmo na Europa medieval, mas será somente com o advento do iluminismo e com a sociedade burguesa que veremos o surgimento dos ateus, publicamente e “oficialmente”. Mesmo com a ciência como carro chefe da sociedade da revolução industrial e com uma filosofia racionalista ainda será mau visto e até perseguido esse tal de ateísmo, os ateus continuarão a sofrer preconceitos durante muito tempo, para falar a verdade não finará esse hábito.
Se pegarmos a essência do pensamento ateu teremos algo até simples, a descrença em Deus ou em deuses, o fim do culto ou da crença em magias transcendentais, a volta do apego a Terra. Mesmo o ateísmo hoje tendo como base a ciência e o racionalismo moderno vemos muitos deles indo na contramão dessa onda abraçando o desconstrucionismo e o irracionalismo, como o de Nietzsche Por exemplo. Apesar de ser algo simples o ateísmo trouxe muitas desconfianças, os “crentes” colocam ele como algo ruim, negativo, uma das principais críticas está relacionada a moral, pois para a maioria das pessoas a moral e também a ética estão ligadas essencialmente a religião.
Sabemos que na antiguidade, seja a clássica, oriental ou na nossa indígena da América, teremos o surgimento da moral estreitamente ligada a religião, porém, se olharmos atentamente constataremos que tudo estava interligado, ou seja, moral, política, arte, religião, educação, tudo tem uma “origem” em comum, não há especialidades como terá na modernidade, uma separação mais rígida. Com esse raciocínio temos argumentos para afirmar que a moral não tem “vida” somente se estiver ligada a religião.
Assim como  a maioria das festas, da política, da arte e etc. estão separadas da esfera religiosa também temos uma moral separada da esfera do metafísico, não há uma determinação, não temos que sermos religiosos para termos uma moral ou para refletirmos e agirmos eticamente, veja um exemplo gritante, muitos dizem que o ateísmo pode estar relacionado com criminalidade, pois eles não tem amor a um “deus”, logo não tem moral e não temem o pecado e a condenação. Esse exemplo é engraçado, se analisarmos com calma podemos perceber que é um pouco exagerado, se pegarmos as pessoas que estão presas notaremos que a grande maioria (esmagadora) é religiosa, dentro das cadeias e presídios inclusive estão verdadeiros “currais” de igrejas, independentes de sua denominação e credos, isso nos leva a perguntar se não seria o contrário, a religião que estaria ligada a criminalidade. Não vejo como culpar nem um ou outro caso, a criminalidade, a falta de ética e outros temas como esses estão mais relacionados com o caráter do indivíduo do que com sua filiação religiosa, não nego a influência da família, do grupo social, das idéias e filosofias na qual determinados indivíduos estão imersos, será, entretanto, na concepção individual de cada um que estará a livre decisão para seus atos.
“Se deus está morto tudo é permitido”?