quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DÚVIDA E DESCONFIANÇA

Quando era criança ficava angustiado com minha presença no universo, achava estranho existir, me perguntava como era possível tamanha façanha, a resposta era sempre preenchida pela idéia de um ser supremo, um deus criador, eu logo era uma criatura, uma criação que respondia a um propósito. A vida adulta me retirou esse sonho mágico, esse encantamento e sentido de vida foi desconstruido, novas perspectivas foram se formando, não havia mais um sentido teleológico, religioso ou metafísico, aos poucos a política e a ciência foram ocupando esse espaço vazio, porém como tudo que já havia se dissolvido em minha consciência em metamorfose esses pilares da modernidade foram rompidos e em seu lugar veio o relativismo, a dúvida e a beleza da arte.
Não há como negar as ideologias, o papel da ciência e o raciocínio filosófico, a lógica e demais benécies da inteligência humana, mas o que há de mais elevado e humano é a arte, sua beleza, horror, amor, dor, sua visão sobre o que é a vida e o que não é, suas dúvidas, angustias e traços inconscientes, é um mergulho na alma humana, no pensar exagerado, no amar concentrado, no tesão impensado, na ira desfarsada, na metamorfose do grotesco e do desejo, o inimitável, imperdoável e impensável.
Pensar minha vida fora da arte é impossível, assim como pensar meu caminhar pela terra sem a dúvida, essa louca e importante mola que move o pensamento, a filosofia, a ciência, a religião e que nos angustia, é ela a responsável por nossa intelectualidade, irracionalidade, sem ela estaríamos adormecidos. Partindo da idéia que a dúvida é uma das coisas mais excenciais da vida humana chego em uma questão da minha personalidade, a confiança. Sempre tive dificuldade em confiar nas pessoas, trabalho em uma área onde a confiança é fundamental, ela pode salvar vidas, mas sempre fui desconfiado, nunca acreditei muito no ser humano, tive exemplos grotescos em minha família, acompanhei de perto o que a ingenuidade e excesso de confiança na humanidade faz, nem sempre é muito bonito o resultado, talvés está ai minha dificuldade em confiar e mais uma  vez cito aqui a dúvida, sempre duvido das pessoas, mesmo aquelas com caras sonsas, jeito quieto e olhar melancólico, não importa, sempre há espaço para a dúvida, confiar de imediato pode ser um preço caro de mais. Recentemente tive provas que minha posição é certa, pelo menos para mim, já que conheci uma pessoa que nunca deu mostras de ser o que realmente era, conhecia muito bem- o que passou a ser uma mentira- e achava que poderia confiar cegamente nela, mas por um pequeno e importante instante me lembrei de meu posicionamento e minha filosofia de vida, e a desconfiança e dúvida me "salvaram" novamente.
Como vermes roendo a carne podre da terra somos jogados na caoticidade da vida, mergulhados na falta de sentido e caminhando rumo ao nada da espectativa, sou forçado a me direcionar a arte, suas explicações sem noção, sua intenção sem razão, a pura emoção que me encanta em todos os momentos de minha existência e me faz aquentar a espera da morte, tormento da existência, a ciência, a política e a filosofia saiem correndo quando a luz da arte se aproxima ao lado da dúvia, esse encanto da "sapiencia" ao lado da desconfiança, essa soberba aparência da prudência, virtude humana.

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