quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A DESGRAÇADA SECA DA SEGURANÇA PÚBLICA.



Enquanto expelia liquido de meu corpo em um recipiente sanitário observava uma torneira pingando água, os pingos caiam como mágica e deslizavam dentro pia naquela manhã fria, que logo se transformou em um dia ensolarado quase infernal no cerrado. Os pingos d’água me lembraram, a priori, a seca no nordeste que vem fazendo parte da vida dos nordestinos desde o século XIX, mas se transformou em moeda política e matéria eterna na mídia brasileira, depois como um furacão veio a imagem da seca no sudeste, ou melhor, da falta de água potável em São Paulo, capital, mas a seca do nordeste sempre foi pensada como problema regional, seja ambiental e natural ou seja como político, falta de investimento governamental para solucionar o problema, já o caso de São Paulo tomou outra forma, vem como problema  nacional, é vendido assim, está ligado as mudanças climáticas e também a falta de investimento governamental para reparar esse problema escatológico, o caso paulistano vem com rótulo de crise hídrica e que pode se instalar em qualquer estado da federação, ao contrário do caso nordestino que era apenas REGIONAL! A crise nos amedronta, falar em crise seja econômica, relacionamento, crise de água, tudo nos leva ao medo e ao pânico, começamos a pensar em visões apocalípticas bíblicas, cinematográficas, no Mad Max, no apocalipse now brasileiro. Essa crise hídrica em São Paulo vem no contexto de outras crises, como a crise de paradigmas das ciências, própria da pós modernidade, ou modernidade tardia como querem alguns, crise de corrupção, crise de segurança pública, o medo da violência nunca esteve tão forte, enfático e generalizado, e essa crise de segurança não é regional, como a seca nordestina é vendida pela mídia, ela é nacional, como é colocada a crise de água de São Paulo, crise que se alastra pelo imaginário e cria pânico na população, mesmo assim a polícia ainda é atacada como violenta, truculenta e como força armada do Estado que só serve aos interesses do Leviatã, como fica essa situação na prática?

Há uma corrente que coloca o problema da segurança como sendo socioeconômica, essa corrente, ( ou correntes, pois na verdade ela se espalha por algumas ‘mentalidades” diferentes que tem esse argumento em comum) coloca o aumento das desiguales sociais, o desemprego, o consumismo, a política econômica neoliberal dentre outros aspectos como sendo as bases do aumento da violência, logo grande parte dos criminosos seriam vítimas do sistema, produtos da exploração capitalista ou atores de um teatro trágico encenado nos palcos do mercado, do capital.  Dentro dessa perspectiva o serviço policial seria apenas um serviço de higienização, serviria apenas para limpar a sujeira do sistema, retirando pobres, negros e outros excluídos das ruas e trancafiando em prisões, levando a pobreza miserável, marginal e perigoso para lugares distantes da população consumista, burguesa e branca. Já em outra ponta dessa corda de ideologias e imaginários sociais há as correntes conservadoras que colocam o problema segurança ligada a vagabundagem apenas, falta de incentivo, falta de investimento do Estado, e algumas até olham a questão sócio econômica, mas as desigualdades sociais ficam aqui como coadjuvante, apenas um tempero na carne do que já estava desgraçada pelas escolhas dos marginais.

Polêmico e efervescente o tema aqui exposto em linhas acima causa discussões acaloradas, paixões e gritos de alerta, nesse contexto vemos que a polícia hora é heroína, hora vilã, mas dificilmente é vista como ela realmente é, apenas mais uma instituição social que cumpre seu papel, pois a polícia não criou o desemprego, não criou as diferenças sociais, não criou os guetos e periferias  para onde pessoas são empurradas como gado pela economia de mercado e por falta de investimento do Estado, a polícia não cria propagandas e uma mentalidade consumista que exclui populações pobres do sonho de consumo, nem cria políticas neoliberais, a polícia cumpre com seu papel, investiga crimes, faz patrulhas ostensivas para prevenir crimes, isso não quer dizer que as vezes não haja excessos, violência, que muitos dos que são presos sejam pessoas de baixa renda, mas isso é mais fruto da estrutura social, econômica e cultural do que da polícia, a instituição policial não pode se negar a combater o crime, estaria cometendo crime também se o fizesse assim e estaria deixando a população a mercê de criminosos. Agora vem a pergunta contundente, pontiaguda como a realidade que nos fere cotidianamente, se temos consciência que parte da violência é fruto de problemas socioeconômicos e a polícia não pode parar de fazer seu serviço como faremos para humanizar essa polícia?

No parágrafo acima deixei a dúvida, que é a melhor forma de cutucar o lado argumentativo e criativo, a dúvida que nos dilacera e corrói nossas entranhas é das entranhas do social que temos que tirar possíveis soluções ou pelo menos possíveis possibilidades para o problema da segurança, eu mesmo não tenho soluções, tenho dúvidas, mas vejo possibilidades. Fica explicito e clarividente como a luz solar que devemos mudar politicas sociais, investimento que nos levem a uma melhor distribuição de renda, investimento em ações sociais, educacionais, medidas que tragam mudanças culturais e de mentalidade, o Estado, assim como a iniciativa privada, devem abraçar essa mudança contribuindo com projetos que deem possibilidades para jovens carentes, melhorar a infraestrutura de bairros periféricos dando mais dignidade as pessoas, tudo isso poderá possibilitar uma sociedade menos desigual, menos pobre, menos violenta, isso nos projetará uma sociedade com uma outra mentalidade sobre questões de segurança e direitos humanos, contribuirá para um policiamento mais comunitário, humano e menos excludente, ou seja, que trate com igualdade os diferentes grupos sociais. Mas quem é da área de segurança sabe que temos problemas internos e específicos que não vou abordar aqui devido a complexidade e o espaço, mas posso enumerar alguns como divisões entre polícias civis e militares nos estados, falta de carreira única, falta de incentivo e investimento de forma geral pelos governos em segurança e áreas afins como educação.


Precisamos de uma polícia mais humana e de uma sociedade mais segura, porém devemos começar a construí uma sociedade mais educada, menos desigual, combate a corrupção, participação popular, participação da iniciativa privada e mudança de prioridade do Estado devem estar nessa agenda que não é mágica e nem utópica, mas é difícil, trabalhosa e requer o engajamento da população.