domingo, 16 de dezembro de 2012

SAIA ROSA



Passeando pelo bosque vejo uma nuvem encobrir nossas cabeças, as pessoas que ali estavam passeavam calmamente pelo domingo, pelos caminhos abertos na natureza. O dia quente, o calor indecente, mãos dadas, crianças correndo, algodão doce, docemente eu pensava na igreja lotada no dia de domingo, era minha infância cristã evaporando por meus poros, era a crença em algo mágico perdido em algum lugar do passado. Abro as mãos, passo elas abertas por folhas com um verde estranho, um banco a minha frente, estou cansado, o banco me chama, não penso duas vezes, sento.
O sol penetra sedutor nas nuvens, olho a menina de saia rosa passando por mim,  sentado no banco me lembro dela, de Jade, me lembro de seus olhos cheios de algo impronunciável, de sua boca convidativa, se de seu cheiro de pecado, ela como essa menina também tinha uma saia rosa, também gostava de passear no bosque. A boca seca, como dá sede passear no parque, andar por trilhas como um escoteiro, volto pelo caminho que vim, ando pela trilha imaginando macacos quebrando ossos como em 2001, mas a odisseia que eu vivia não era no espaço, era na alma, no interior, a angustia da liberdade, de poder escolher me dilacerava por dentro, além da sede que fodia o pensamento, encontro água, mas não o sossego.
Angustia de escolha, não existe uma verdade imutável, em si e transcendental, o platonismo ficou para trás, mas não adianta arrotar Nietzsche, cuspir pós-modernidade sem conhecer o grego e seu mundo das ideias, sua metafísica, a física diz que o mundo gira e girando um ser humano fica tonto de tanta verdade, relativa e cheia de saudade.
A água desce suavemente pela minha garganta, enquanto me lembro que tenho que tomar uma decisão fundamental em menos de um dia vejo novamente aquela saia rosa, ela me trás lembranças de Jade novamente, me lembro quando transei com ela dentro de seu apartamento, como ela chupava meu pênis com elegância, como eu lambia sua fruta com gulosidade, eu penetrava minha língua em sua boca, salivava desejo por todo o seu corpo enquanto eu a beijava, mordia, lambia e penetrava. Ela adorava rebolar enquanto eu a devorava por trás, enquanto puxava seus negros cabelos com uma mão a outra batia em suas nádegas brancas e suculentas, o vermelho se espalhava por sua bunda, seus gritos denunciavam que estava próximo o orgasmo, eu metia com mais força chamando-a de puta e   ela pedia que a comesse gostoso.
Vibrava em meus devaneios teorias marxistas sobre a luta de classes, eu sempre achei limitado o esquema economicista, existencialista também não era suficiente, a decisão estava tomada, meu estômago já não ardia mais com a ansiedade. Caminhando vagarosamente pelas trilhas do bosque sentia que meu pênis ainda estava ereto, parei em um canto onde não avistava ninguém e entrei mata a dentro, lá retiro meu membro, começo a me masturbar, ouço um barulho próximo a mim, um casal de jovens a fazer sexo, eles me veem, não ligam, continuam, vejo o rapaz tirar seu membro e gozar na boca da ruiva, eu continuo a me masturbar pensando em Jade, termino o serviço, como era bom gozar com Jade, no fim deitava  e ela vinha se deitar em meus braços.
Vou embora do bosque, no outro dia tenho que colocar em prática minha decisão, na saído vejo novamente a menina de saia rosa, compro uma coca-cola, no carro bebendo o líquido escuro ouço uma canção do Roberto, como Jade gostava da música, ela era tão linda. O sol queimava meus pensamentos, eu sabia que no outro dia teria que fazer aquela experiência, matar alguns animais, isso pelo bem da ciência, a morte chegava cedo em minha consciência, Jade e sua saia rosa me excitavam pelo caminho, coca-cola gelada não tem preço.

sábado, 15 de dezembro de 2012

VERMES NO ESPAÇO SIDERAL.



A luz penetra em seus olhos, a lembrança chega sorrateiramente, as malas arrumadas, o corpo, o sangue, o grito, o brilho, o descaso, o beijo, a política, arrepios, sexo oral, oralidade demoníaca, a música do Radiohead, a piscina de desilusão, a bailarina dançando com Jesus, a crença no abismo, no inevitável devir. Como na letra da música ele se sente um verme, mas um verme queimando por dentro, deslizando sobre a superfície do ser, sendo ele mesmo ele deixa de ser algo que poderia não ter valor, sua vaga lembrança, a luz nos olhos, a luz do sol, memórias loucas, a música tocando, lembranças das malas, da fuga, a mulher indo embora, sua mãe arrogante, seu pai fraco, o corpo cheio de sangue, o bebê, acabou a festa.
Como um verme ele pensa no futuro, como um verme ele ouve a música pela vigésima vez, um copo de algo ardente, bebida destilada, lágrimas percorrem seu rosto enrugado de melancolia, a cena de um casamento, a igreja, santos, santidade macabra essa ideia de morte, a música toca fundo sua alma, ele toca fundo seu estômago com o álcool, ele toca os dedos na transparência do vidro, lá fora reina uma vastidão desconhecida, talvez sem vida, talvez viva um Deus lá, ele ri sozinho, no espaço a solidão é tão normal.
Seu pai caminha vagarosamente, sua mãe com seu olhar orgulhoso, com saia comprida, seu egoísmo, seu jeito de ser assim, ele se lembra de como odiava aquela velha, de como tinha dó do fraco pai, sua esposa, ele lembra que tinha carinho, mas sem amor, sem amor a vida passa rápido, sem amor, ele amava o filho, o corpo, sangue, vermes devorando, ele estava sendo devorado, no espaço sideral era anormal não sentir um prazer , uma religiosidade, ele sentia um vazio.
Sua mãe olha com raiva, olha com narcisismo, ele olha, o corpo, sua esposa chora, ele olha o corpo da criança cheio de sangue, ele vai embora, a mala arrumada, ele abandona o lar, não havia mais motivo para continuar com aquela mulher, ele lembrava sua mãe, ele vai embora, seu velho pai, deus decadente.
Um espetáculo reina na mente dele, ele olha a esfera azul perdida na imensidão, na estação espacial tudo é mais ou menos humano, já faz cinco anos, mas a bebida relembra, faz o corpo da criança girar e reaparecer, sua esposa deve estar casada com outro, seu pai deve estar respirando, sua mãe, sua mãe, sem palavras, ele bebe mais um gole e sente algo divino, a morte penetra em seus pensamentos, no espaço pensar é algo a se fazer, o pecado é lembrar, ele faz isso sem peso na consciência, como um verme, a culpa penetra junto, a criança morta, os vermes comendo sua carne.
Sem controle, sem motivo, a essência platônica, onde está o mundo das ideias, o paraíso, as cidades espirituais? Ele só vê estrelas, o cosmo desmistificado, ele olha e vê uma bola de fogo, o sol quer abraçar a eternidade, queima algo dentro dele, ele não estava olhando, a criança sumiu, o corpo, o sangue, os vermes dançam na carcaça de seu primogênito, no espaço havia até um pouco de amor, ele se lembra de sua esposa, ele não a amava. A música toca mais uma vez, não há mais tristeza, há apenas um homem olhando para a negritude do sideral, do que está além dele, como é brega beber sem companhia.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

FINAL DE TARDE.



O cachorro com seu olhar melancólico fitava o frango frito em cima da mesa, a cerveja gelada descia elegantemente pela garganta, olhando para a rua via sem entusiasmo as pessoas passando sem sentido sentindo uma vontade sem razão de mergulhar no meio da multidão que desaparecia no horizonte. A conversa passava pela rotina do serviço, por política, corrupção, sexo e relacionamentos, nada de novo a baixo do sol, a lua já brilhava, abaixo dela nada de novidade também.
O cachorro deita, seu corpo parece estar fragilizado, a fome está estampada em seu jeito lânguido de ser sendo essa coisa magra, fraca, essa coisa cachorro, esse animal coisa, esse cachorro deitado em frente a mesa do bar, mesa que tem cerveja, conversas ordinárias e homens pensando em pensar, em viver sem consciência da realidade, o cachorro a frente da mesa choca apenas a mim, mas a cerveja me entorpece e logo esqueço e não noto a presença dele.
Lembranças da noite passada ronda minha mente, a forma como ela gemia, a forma como ela engolia a sedução e cuspia o desejo em minha cara, meu rosto era espelho de meu êxtase, suas pernas em torno do meu corpo, minhas mãos segurando firmes seus seios, nosso gozo gozando a vida sexualmente, enquanto bebia suavemente o líquido alcoólico minha mente desavergonhadamente  se constrangia com o beijo dela, ao lado ouço falarem de política, algo sobre imperialismo, o cachorro está com os olhos fechados, meus amigos falam sobre corrupção, acabo de ilustrar minhas lembranças com o rosto cheio de esperma dela em minha memória.
A televisão mostra algo , sangue escorrendo pelas ruas, policiais morrendo em São Paulo, a violência explodindo na mídia, cinematograficamente vemos o horror, mas o horror sempre existiu, a violência sempre habitou o mundo, leões comendo gladiadores, bruxas pegando fogo, empalamentos, naquela hora bebo mais um gole de cerveja e penso no mundo onde os fracos não tem vez, aquele cachorro acorda, ele é fraco, jogo ossos de frango para ele, me lembro do beijos dela, mais sangue na tv, a conversa agora é sobre o horror, apocalipse now!
Chego em casa, a música toca no computador, como algo doce, a água suaviza o efeito do álcool, na tv um filme de ação, carros correndo, adrenalina, meu dia passou, anoite caiu, o gosto da cerveja aparece junto com o gosto de rotina, mas quebrada, dilacerada por conversas triviais com amigos, a imagem do cachorro fica em algum lugar do passado, meus dedos digitam o telefone dela, mais um dia, menos uma jornada, os carros correm no filme, as palavras correm para finalizar esse texto.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CRUCIFICADOS



Enquanto o sol brilhava lá fora, dentro da igreja era apenas uma imagem que brilhava na mente de Caio, um homem crucificado e pingando sangue, o sangue escorria com seu vermelho vivo pelo corpo cheio de feridas, isso é uma visão realista de um cristão. O sangue escorria quente pelo corpo cheio de feridas de Fábio, ele estava crucificado a guerra, preso ao santo ofício de matar pessoas e sofrer a angustia claustrofóbica de estar na guerra, ele era amigo de Caio, os dois eram homens santos, fieis seguidores de Deus e do seu país, sacrificavam suas vidas pela virtude, pelo nacionalismo, eram dois heróis, dois ingênuos, o mundo precisa de ingenuidade assim como precisa de água.
O helicóptero surge no horizonte, na troca de tiros o barulho das hélices se confundem com gritos de dor, de munições zunindo no espaço, com o horror pintado em faces assustadas, em rostos brutalizados, o sangue escorre sem parar, ele lava a alma e purifica o já putrefato ser em guerra. O helicóptero aterrissa, corpos sem vida são lançados dentro da aeronave, corpos feridos seguem atrás, corpos sem espírito também adentram o monstro aéreo, no ar, suspenso entre sonhos, anseios, mortes e carnificina os soldados olham para o mar de indiferença que reina abaixo, Caio e Fábio estão voando agora em sua imaginação, na terra imagina-se que há um mundo melhor.
Sentada em sua cadeira confortável Márcia escreve desconfortavelmente sobre coisas alegres para Caio, ela sente saudades dos abraços que a fazia sufocar de alegria, suspirar de prazer, os beijos que incendiavam sua boca e inflamava sua identidade, ela era agora uma mulher escrevendo a um homem perdido em algum conflito armado, ela estava armada com sua notícia, com seu amor, com sua força de vontade, queria, desejava e temia, um dia poderia vê-lo ou poderia perder, a tinta secava, o papel molhado de lágrimas, enquanto isso o sangue escorria entre os crucificados.
Uma emboscada, presos entre duas frentes inimigas o pelotão de Fábio agora estava entre duas batalhas, os fuzis cuspiam munições como pastores cospem palavras, a filosofia nietzschiana não seria mais desconstrucionista do que a artilharia que penetrava em carne viva. Correndo para um lugar mais seguro Fábio acaba caindo em um buraco, a chuva caia e molhava o soldado dentro do lugar onde estava, sua perna quebrada dilacerava seus sentidos com uma dor infernal, o inferno queimava o mundo com a guerra. Ele é socorrido, já fazia mais de um dia que estava lá, caído no buraco.
Fábio e Márcia conversavam sobre coisas banais, tomando chá e comendo biscoitos, o filho de Márcia corria pelo quintal, uma criança de cinco anos, loira como a mãe, com os olhos do pai. A carta suja de sangue e terra é devolvida a sua escritora, ela recebe com um ar de tristeza, a mesma carta que ela escrevera a Caio a cinco anos atrás. Fábio olha para dentro do redemoinho caótico de sua memória e vê um homem mancando com uma muleta chegando ao acampamento, o homem havia saído de um buraco e estava com a perna quebrada, o mesmo olha os corpos sem vida, um deles é de Caio, Caio tinha um tiro na cabeça, seu cérebro que tanto sonhou em ir embora agora não sonha mais, é uma massa fétida espalhada pela floresta, dentro do bolso uma carta, já aberta, dentro dela uma notícia, uma criança iria nascer, seu filho. Caio morreu sabendo que seria pai, ele se foi e uma criança veio, lágrimas não mudam isso, a criança agora corre no quintal, biscoitos, chá e conversas triviais fazem Fábio sorrir, Márcia não escreve mais cartas.