sexta-feira, 27 de novembro de 2015

GOVERNOS, METEOROS E O ESTUPRO DO FUNCIONALISMO.






   Um ponto de luz e energia, uma explosão, redemoinho de possibilidades, deuses, o nada, energia de buracos negros, nada explica com segurança e inseguros imaginamos como surgiu tudo dentro do nada, ou seria o nada um ser grávido de tudo como um deus que fez tudo com palavras, o verbo explodiu em páginas santas e o mundo se mostrou, compreendido. Dentro desse mundo, pelo menos do planeta azul cheio de oxigênio chamado Terra, mas tomado por água, habitavam seres colossais que desfilavam por solos ainda não desgastados pela exploração capitalista, pela ignorância religiosa ou pela intolerância sem razão de céticos sem bandeira. O que foi feito desses animais que chamamos genericamente de dinossauros? Alguns dizem que um meteoro ceifou a vida dos mesmos, seria um meteoro a ceifar a vida dos funcionários públicos que estão prestes a se extinguir também?


   Tanto a nível federal quanto estadual vemos no Brasil uma marcha que contagia mentes e corações de esquerda, direita, fascistas e, claro, dos neoliberais, sejam tucanos ou vampiros, essa marcha de exército acéfalo, mas que raciocina bem quando o assunto é exterminar tem como objeto massacrar o funcionalismo público. No plano federal vemos falta de investimento em setores primordiais, falta de reajuste do funcionalismo, mas o mais contundente nesses últimos anos foi o ataque a previdência, aumento anos de contribuição, diminuindo o teto, retirando benefícios históricos dos trabalhados, sejam da área privada, sejam públicos.


   Acima falei mais do plano federal, mas nas federações não é diferente, tanto que em uma ilha isolada da república que segue uma constituição mora um governante cercado de energúmenos que pensam igual a esse maníaco e acham que o Estado não tem como finalidade servir a comunidade, ao público, mas sim de dar lucro, como uma empresa, porém de forma ainda pior, serve como vaca leiteira para mentecaptos, corruptos e boçais da mais baixa estirpe mamarem do leite coletivo e depois jogarem o esterco do animal cornudo em cima das samambaias inertes que nada fazem para mudar essa situação, quando fazem além das fezes recebem o ferro em chamas dos infernos imaginados pelos poetas medievais. Essa ilha imaginária no centro oeste é governada por um grupo de verdugos que se acham no direito de retirar direitos inalienáveis, direitos de trabalhadores, eles com sua mentalidade, ideologia e burrice neoliberal cospem nos trabalhadores e projetam nesses a culpa pelo mal funcionamento do Estado, esse mesmo estado sucateado, roubado e maltratado que eles desgovernam.


   Recentemente foi levado a assembleia legislativo do estado de Goiás projeto de leis que foram chamados carinhosamente de “pacote de maldades”, são projetos que estupram e sangram os trabalhadores públicos do mesmo estado, dentre os elementos que fazem parte desses textos chamam atenção a suspensão de pagamento de data base, fim de licenças prêmios e descumprimentos de acordo, melhor, de leis feitas pelo próprio governador concedendo reajustes, esse arauto do tempo novo, nova temporada de caça aos funcionários públicos.


   Estamos findando o ano de 2015, mas parece que o finado será outro, será uma classe que viveu em tempos longínquos distantes da privatização do estado com as OS, com o fim da carreira pública, com o fim dos professores de carreira trocados por empresas sangue sugas, sem contar o fim da segurança pública, o que teremos agora, feudos onde senhores nobres irão proteger uma população de servos atrás de muros enquanto sadicamente exploram o trabalho, a virgindade de suas filhas e o tempo e a carne de seus homens e mulheres? O monstro que nos devora e digere nossas perspectivas, nossa dignidade é o mesmo que damos força com votos a cada quatro anos, alimentamos esse dragão que nos incendeiam e depois nos sacrificamos em nome de seus ideais mesquinhos, de sua racionalidade instrumental e de sua ganância sem igual, sem razão ou sentido.



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Prova do ENEM e o existencialismo do caralho, sem ser macho ou fêmea.






A dor na sola do pé, turbilhão, caminho com o sol a lamber minha epiderme, a escorregar seu barulho pela careca se formando em minha cabeça, passos largos, fortes e determinados, escolho atravessar a rua, escolho ou sou escolhido pela velocidade do automóvel que vem ao meu encontro, não encontro saída, corro com a dor na sola do pé, essa dor que existe e me lembra que existo, existo enquanto dor, enquanto deliberação de correr, enquanto penso, mas penso depois de existir, depois da dor ou penso em tudo isso e logo existo correndo, doendo?...Escrevo.
A frustração profissional dentro do embrulho da crise econômica, da falta de estrutura, contingências da vida, é ser muito egoísta pensar que o mundo gira ao meu redor, mas fora de mim tudo é “em si’, tudo é gratuidade, matéria sem sentido, dou sentido ao mundo ao pensar o mundo, minha consciência, esse nada, esse quase espiritual que dá vida, sentido ao mundo, o mundo é consciência, o mundo é um nada em minha mente e é tudo que não significa nada fora de minha mente, e eu fora do mundo sou uma mente sem necessidade, gratuito como tudo que tem vida, peso e não serve para nada além de estar no mundo, penso sobre isso, logo sou um ser que sabe que sou e que nada sei além disso.
Eu me escolho, o mundo não me escolhe, apenas faz de mim o que quer de forma inconsciente, nasço pobre, branco, filho de pai analfabeto, de mãe sem leitura ouvindo sertanejo, mas me escolho roqueiro, sambista, leitor de Nietzsche, Sartre e Victor Hugo, ou fui escolhido pelos acidentes da vida, me esbarrei em programas de tv que falavam de Shakespeare, vi filmes baseados nos livros de Hugo, conheci objeto e pessoas que gostavam de filmes e liam Marx, Weber e poetas gozadores, me escolhi pelas amizades e fui escolhido sem maldade pelo mundo, o mundo é uma projeção de minha mente que é produto do mundo, idealismo safado, materialismo vagabundo, fenomenologia da algazarra, muito barulho por nada, eis que minha consciência toma tudo isso como subjetivamente, condicionado pela economia, ideologia e sociedade não determinando minhas atitudes, livremente me escolho enquanto produto sem meio.
Abro a tela e vejo a polêmica no mundo virtual, jornais, a prova do ENEM, uma questão sobre feminismo:
     Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
     Não escolhemos nascer machos e fêmeas, não escolhemos nascer negros, nem mesmo pobres, mas escolhemos ser homens, mulheres, somos livres para isso, não é determinação biológica ou econômica, é projeto livre de ser a partir do que a vida nos foi legada, biologicamente, sociologicamente, somos livres para escolher a partir das determinações e determinar que nossas vidas sigam caminhos que não dominamos, pois, o futuro é como águas entre os dedos. “O essencial é contingência. O que quero dizer é que, por definição, a existência não é necessidade. Existir é simplesmente estar presente...”A Náusea. Não necessitamos ser homem ou mulher, somos livremente projeto e projetamos ser o que queremos ser a partir das necessidades de nascer macho ou fêmea, eu escolho homem heterossexual, isso não faz de mim um padrão necessário, apenas mais uma escolha ambulante que irá viver sem sentido e morrer sem necessidade.