quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Sexismo e Violência

 

A violência contra a mulher é uma constante em nossa sociedade, e ela não é a-histórica. Antes da propriedade privada e do surgimento das classes sociais não podemos falar de uma violência, de uma relação social violenta contra a mulher. Após o surgimento da desigualdade social, temos também a desigualdade entre os sexos, com a opressão da mulher- sendo ela reprimida na vida pública e coagida na vida privada.

Na sociedade classista capitalista a realidade supracitada continua, e se intensifica com a mercantilização da vida, dos corpos; com a erotização e desclassificação da mulher como objeto, mercadoria. Nesse diapasão temos a violação dos corpos femininos que são vistos como propriedades por pais, maridos; como objetos por homens de forma geral.

Na luta feminina contra essa violência tivemos avanços, como criação de delegacias especializadas- DEAM’s a partir de 1985, legislações com a Lei Maria da Penha em 2006 e de Feminicídio em 2015. Entretanto sabemos que somente isso não resolve o problema.

A prisão não consegue diminuir o número de crimes de forma geral, e muito menos de violência contra a mulher.

A luta contra a violência doméstica passa por mudanças na ideologia sexista, através de uma luta cultural e da educação; de mudanças nas relações sociais de trabalho que desqualifica e exclui a mulher.

Não lograremos êxito com prisões se não tivermos acompanhamento dos homens agressores com psicólogos, monitoramento e trabalho educativo após a saída da prisão. Não temos uma ressocialização adequada com palestras, cursos e atividades desses homens envolvendo a questão feminina.

Apenas encarcerar e soltar pessoas estigmatizadas, e sem mudanças na totalidade social, será como assoprar para apagar fogo de um fósforo dentro de um prédio em chamas.

A chamada teoria de gênero tem suas limitações, pois coloca a situação apenas no plano “cultural”, nos papéis sociais dentro e uma cultura dita “machista”; mas acaba sendo mais uma ideologia que obnubila as relações de classe, a opressão da mulher e seu caráter histórico.  

Enquanto nos limitarmos a encarcerar e tentar mudar mentalidades a nível “cultural”, sem trabalharmos a totalidade social; e sem repensarmos a acompanhamento dos infratores fora das prisões, estaremos dando continuidade ao aumento da violência sexista contra a mulher.

[Publicado originalmente no jornal Diário da Manhã no dia 08 de janeiro de 2021.]