sábado, 29 de outubro de 2011

A ESTRADA

A estrada, no horizonte não se vê o fim, na verdade ele não existe, todos os fins são provisórios, são apenas desculpas estéticas e pedagógicas, orgasmos de um final de transa, mas sempre transamos de novo e temos novos fins. A estrada continua com seus veículos, almas e corações, ela continua como um tapete mágico que nos leva para outros lugares, na estrada continua a viagem, o delírio, continua a percorrer um carro branco com três homens sem razão, mas com um destino, provisório, como os finais de filmes. Mais risadas, a viagem continua, a trabalho, mas mesmo assim uma viagem.
Formigas andam com sua velocidade contemplativa, o pé de goiaba está ali, ele não fala, não mente, ele apenas sente sem ter consciência disso, eu tenho consciência de tudo isso, mas isso não quer dizer que tenho controle, pelo contrário, tenho apenas consciência da caoticidade. A viagem é interrompida, chegamos ao final provisório, a cidade destino, lá fito com ansiedade as formigas em uma árvore, como do seu fruto e ouço o diálogo de meu colega de equipe com um condenado, um preso, uma alma enjaulada. O sol brilha no céu, minha dúvidas brilham em minha mente, a liberdade é carente, mesmo aquele preso é livre, tem dúvidas, desejos, mesmo aquele desgraçado tem poder sobre o seu destino, poder de fazer coisas limitas, poder de se mexer dentro da pequena caixa de possibilidades, no fim reina a liberdade, mesmo que seja apenas um sonho, apenas uma vontade, apenas a possibilidade de morrer.
A estrada, a volta, comida caseira, mais risadas descomprometidas, conversas sobre futebol, mulheres, sexo, conversas sobre cinema, tudo é contagiante, tudo se move como lesmas florescentes em nossa imaginação. O inferno queima em meu peito, os anjos tocam suas trombetas, mais um final provisório está chegando, essa banal e corriqueira viagem é mais um dia de minha vida, é mais um passo para o final definitivo dessa história sem narrativa chamada vida.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

COMO UM DEUS SOLITÁRIO.

Enquanto fazia a barba seus pensamentos se deslocavam para o além, imaginava o espaço sem luz, sem estrelas, sem nada, apenas um ser sem matéria vagando na escuridão, mergulhado na eternidade, perdido na imensidão. Os fios ruivos caiam na pia, sua pele agora branca e sem pelos, a imagem e semelhança do fantasma que vagava solitário pela escuridão, sim, apenas esse deus judeu e cristão já foi tão solitário quanto esse homem que agora ordinariamente faz sua barba ruiva.
A comida esfriava sobre a mesa, sua fome estava em algum lugar do passado, perdida junto com o mundo primitivo de igualdade utópica pregada pelos socialistas, sua coragem de viver era proporcional ao seu apetite, indiferente com a vida essa criatura de deus pensava na cor da toalha pendurada no banheiro, ele não refletia sobre o que estava a sua frente, sobre o futuro, ele apenas usava desculpas para não pensar em si mesmo. Agora sem barba, sem apetite e sem otimismo esse ser solitário como um fantasma , como um deus, irá colocar seu corpo sobre uma cama e curtirá sua insônia com toda a alegria do mundo.
O sol ilumina o mundo com seus raios, metáfora de sabedoria esse astro rei enche nosso lindo planeta com um calor infernal, enquanto trabalhadores soam em sua labuta cotidiana Carlos, agora sem barba, soa seu corpo em uma tarde de luxúria. Gemidos, tapas, mordidas, enquanto puxa os cabelos negros de Daiana e lhe dá palmadas em sua linda bunda ele pensa como é estranho viver em um mundo como esse, suor, suspiros, danação, ele goza com jatos quentes no rosto da garota de programa, sim, ele é medíocre de mais para ter uma namorada ou uma amante, ele paga pelos serviços da moça com seios fartos e cabelos longos.
Jornal, noite novamente, mais um jantar chato, mais comida que sobra no prato, notícias chatas, mais violência, o mundo sempre foi violento, sempre ouve guerras, estupros, sempre ouve alguma coisa, Carlos acha que sempre foi assim, ele não se anima facilmente, nada pode chocar esse homem.
Mais um dia, trabalho, estudos, agitação, crianças no parque, adolescentes apaixonados, pessoas estressadas, disputas eleitorais, axiomas, epistemologias e filosofias baratas, o mundo gira, mas Carlos não vê com bons olhos mais um dia rumo a morte.
Deus já sabia tudo que iria acontecer, com a sua onisciência ele já sabia do nazismo, das guerras, fomes, mentiras, já sabia que um dia Carlos iria existir e iria passar pelo mundo despercebido, ele é sacana, por isso Carlos negava que esse ser sobrenatural existia.
O espelho a sua frente, ele se masturba, enquanto sente o prazer mundano seus olhos sentem o terror da solidão, eles fitam um homem sem barba, sem emoção, sem amigos, sem rumo, enquanto Carlos goza lágrimas descem pelo seu rosto, ele se entristece, mas sabe que nascemos e morremos sozinhos.

sábado, 22 de outubro de 2011

LOVE HURTS

 Saio a noite a procura de um lugar, esse lugar não sei onde fica, na verdade não seio o que é, só sei que estou a procura de algo, alguma coisa falta em minha vida, eu ainda não sei bem o que pode ser esse "algo", saio sem destino certo, sem ideia de onde começar, apenas saio, sem rumo, direção, nenhuma orientação, minha bússula está quebrada, sem norte, nem o sol para me ajudar, a lua que está me olhando com vergonha nesse instante também não colobarora, vou assim mesmo, sou corajoso, não perco tempo, a ansiedade ronda meu ser, sou uma fera na noite.

A solidão embala meus sonhos, me alcança, beija e cospe fora, como a vida costuma fazer as vezes, ela é filha da maldita, bandida, deliciosa vida, nos momentos que me encontro sozinho olhando em volta percebo um vazio em meu peito, alguma coisa falta em mim, não é um braço, nem uma perna, é outra coisa, como um verme continua a rastejar pela Terra, esse planeta é claustrofóbico, o mundo é pequeno demais para mim, sou um ser que tem alergia do universo, não me contento em apenas respirar, as vezes penso se não seria melhor o suicídio, não sei, quem sabe, vou pensar melhor, refletir nunca faz mal.

A noite me encobre, ainda estou procurando aquele lugar, para o carro em frente a um bar, desço timidamente, bebo uma cerveja, todos olham desconfiados, uma pessoa sozinha bebendo é estranho, dá medo, a minha direita está aquela mulher de vestido roxo, ela pega elegantemente no cigarro, é excitante a forma como ela o leva boca, a fumaça sai magicamente por suas narinas, seu pulmão deve ser uma bola de câncer. Barulho, um grito, escuto risadas seguidas de um tapa na mesa, são pessoas abobalhadas e alegres, no mundo ainda existem essas pessoas, eu e minha melancolia ficamos calados, não damos bandeira, discrição é a alma do negócio, vou sair daqui, decisão tomada, vou embora.

Qual a diferença entre um verme e eu? Quase nenhuma, os dois não tem razão de ser, os dois irão morrer, a diferença é que eu tenho consciência disso, por isso sofro mais do que um verme, se fosse um burro seria mais feliz, como adoro a ignorância, ela é bela, tolo somos nós seres pensantes de plantão.

Continuo a caminhada noturna, esse manto negro de paixão, romantica, misteriosa, a noite é um convite para o beijo, para o amor, para o estupro, para a violência, para o choro, para a solidão, eu convido a dúvida, estou cansado de certezas, elas limitam, quero o aprendizado da pedagogia, não quero arrependimentos, faço o que quero e o que eu acho certo, na maioria das vezes eu me dou mal, mas a vida é assim mesmo, um dia eu gozo, no outro levo ferro, vida mais sem graça, por isso temos que sorrir de qualquer bobeira, ela é rara, temos que aproveitar cada momento.

Acho uma prostituta em uma esquina, paro o carro, pergunto quanto é o programa, ela entra, vamos ao encontro da brincadeira. Pergunto a prostituta seu nome, ela responde, Rafaela, digo o meu, Weniscley, ela ri, que nome esquisito, eu concordo, puta que pariu tenho que mudar de nome, eu também acho graça, adoro rir de minhas próprias desgraças, fazemos sexo, ela chupa como ninguém, peço para gozar em sua cara, ela topa, jorro meu prazer em sua face,. Ela se lambuza com meu orgasmo, com meu tesão. De volta as ruas, ainda não encontrei o lugar.

Rodo a noite inteira, volto para casas, tomo um gole de vinho, ouço uma música, me lembro dela, de seu sorriso, de suas curvas, seu jeito de me desprezar, falar, encantar, para cérebro maldito, assim você me mata, com essas lembranças vou chorar. Ligo o som, a música que toca é love hurts, o amor machuca mesmo, as recordações ainda mais, vai fundo, o âmago dos miseráveis. Ela se foi, não volta mais, brincadeiras, sexo, beijos prolongados, selinhos de manha, adorava seu penteado, Raquel era mesmo meu maior amor, meu tesouro, nunca vou me esquecer dela entrando na igreja, só Deus para iluminar assim minha vida, aquele desgraçado a tirou de mim, nem sei se ainda acredito no fantasma.

A cama é grande, não troquei, rolo nela abraçado com a insônia, junto do travesseiro há uma poça de água, são as lágrimas dessa noite, uma chuva de infelicidade que molhou meu desespero, o ônibus saiu desgovernado, ela atravessou a rua e chegou no inferno, sua vida foi parar em baixo de peneus, ela não me olhou mais, nunca mais ouvi sua voz, ela estava grávida de cinco meses, meu filho ficou na memória junto da mãe, a música se repete, só toca ela, o amor machuca, as lembranças dela também, já faz seis meses, como o tempo não apagou nada em mim, só intensificou, ainda não encontrei o lugar, vou continuar procurando, ainda há vida em mim.

No dia seguinte passeio com o sol em meu rosto, no parque vejo crianças, borboletas, moças bonitas, sento em um banco, adimiro tudo aquilo, contemplom a vida em sua maestria, um dia me fode, no outro me dá esperança, a beleza é um mistério, penso sobre isso e pergunto sem respostas, olho para a paisagem, a vida continua, assim penso enquanto olho.