segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CORAÇÃO DAS TREVAS E CONTEMPLAÇÃO NO ESPAÇO SIDERAL

Abro os olhos, em minha frente há uma floreta, em minha volta ela toma conta, rodeando minha alama, fechando meu corpo em seu ventre, ouço gritos e soluços, estou dentro do coração das trevas. Fecho os olhos e abro novamente, pedaços de corpos espalhados pelo chão, sangue inundando o ventre da floresta, explosões e tiros, soldados com gosto de morte na boca e olhos cheios de pavor degladiando dentro do inferno verde no qual fui engolido, em cada corpo sem vida uma nova esperança de ir para casa respirando, sonhando e amando. Passeio com minha consciência pela desgraça humana, a guerra é mais uma bela e agradável sinfonia infernal de morte, dor, angustia e louvor, um  braço da política, uma língua da ignorância, um forte abraço de violência e o ser humano está embebido do sofrimento e do sadismo da luta armada.
No espaço a solidão deve ser normal, como seria interessante penetrar na escuridão solitária e nos dar ao luxo de ficarmos sozinhos com o universo, contemplando e olhando de longe a agonizante e aterrorizante bola azul que chamamos de casa, deixando para trás as atrocidades e a loucura do mundo, mas mesmo na lua ou no sol, em outra galáxia, não importa, em qualquer lugar estaremos levando com nós a cultura, nossa visão de mundo, memória, amores, sonhos terrenos e humanos, ir para o espaço sideral e abraçar a solidão calma e contemplativa nos privaria também das amizades, belos momentos de conversas, sexo, amor e frustrações, sairíamos da tristesa, da dor, da alegria da comunidade e mergulharíamos no marasmo de nossas próprias companhias.
Um grito, estupros inevitáveis, fome, tiros em carnes apodrecidas, vermes tomam contam de corpos ainda em vida, estou saindo da mata, a guerra e o horror me acompanham em sonhos, minha consciência sonham com um mundo utópico, meu corpo perde sua alma, estou fora do coração das trevas, a falsa alegria contagiante, a paixão constante e o eterno retorno das coisas me engolem, a dor, o sofrimento e a tristeza ainda estão presentes, não é um privilégio da guerra, por uns poucos instantes viajo em uma nave espacial e solitariamente tento esquecer do mundo, mas ele não se esquece de mim, ele me acompanham. As metáforas brilham nessa palavras, não vou mais negar o mundo e sonhar com paraísos religiosos ou sociedades socialistas, vou encarar a dor, o amor, a angustia, a liberdade e a dúvida da vida, entrando e saindo de loucas chamas, trevas e doces momentos e viajando pela Terra em busca de momentos de vida antes da morte que nos espera.

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