segunda-feira, 17 de abril de 2017

O corpo acéfalo na ideologia do burocrata que se acha o cérebro dessa máquina



As lembranças surgem sorrateiramente, pulam por cercas herméticas que obstaculizam qualquer momento de relembrança, que ânsia em viver de novo o que não mais existe mais! Carros correndo, trânsito dantesco, o inferno que surge com a morte do sol que entra no horizonte como quem dança a dança fúnebre; de repente um pensamento do passado cavalga e quebra a monotonia dessa fila interminável do congestionamento nasal dessa narina urbana. Me lembro de uma conversa onde fui apenas observador, nela agentes, e um escrivão, de polícia conversavam com um delegado; ânimos exaltados, conversa afiada, o bate papo informal que tinha a forma de tragicomédia versava sobre sindicato único para a categoria polícia civil, pasmem, existe dois sindicatos para um única polícia, que na prática são duas; sindicato dos delegados, chefes com salários altos, e um sindicato para a plebe de agentes, escrivãs, papiloscopistas e demais apêndices de organismo que carrega o piano dessa valsa triste.
A conversa fluía sob a égide da desconfiança, do embate de ideias dialeticamente conflitante, e nessa verborragia antitética o delegado solta a pérola de sua boca: não pode haver um sindicato único, vocês [a plebe] são a maioria e as decisões seriam sempre a favor de vocês!
A fala do chefe de polícia judiciária não é incoerente, ela é a expressão ideológica dominante em uma sociedade classista que se assenta na exploração de uma classe sobre a outra; como pode alguém de uma classe que depende do domínio ser a favor de igualdade de decisões ao lado da classe dominada? Isso vale para qualquer instância, veja a questão política burocrática e partidária, não é a maioria das pessoas que tomam decisões importantes no Estado, é uma minoria de “representantes” do povo, da massa, que tomam essas decisões; seriam essas decisões coerentes com os anseios, desejos, necessidades e vontades dos mais pobres, explorados e miseráveis? Ou seriam decisões, em sua maioria, a favor da manutenção da ordem e a favor de uma minoria que se mantém pelo domínio, exploração e diferenciação social?
O caleidoscópio do social reflete vários prismas, incomensuráveis interesses que se harmonizam em um discurso que prega, com pregos dourados e suaves, banhados com antitetânica, cantando uma música que hipnotiza, como aquela saídas das bocas das serieis do mito; nessa canção somos embalados pelos sonhos de uma justiça alicerçada na ordem da desordem, onde somos convencidos que não podemos tomar decisões, isso seria anarquia, a elite pensante, econômica e política fará isso por nós através da subclasse burocrática de políticos, baluartes da democracia e do bem estar.
A fala do delegado é a fala do coronel, do médico, do comerciante, do industrial e do bancário; do fazendeiro, do gerente, da classe média que quer ser burguesa, mas pisa nas fezes juntamente dos porcos do chiqueiro do Capital, esse ser metafísico que nos digere com sua saliva monetária e nos vomita com as mercadorias putrefatas de suas entranhas metálicas.
Como vamos deixar um vendedor de picolé, um mecânico, essa massa de pedreiros, metalúrgicos e vendedores de lojas de calçados, roupas e produtos eletrônicos tomarem decisões sobre suas próprias vidas? Estapafúrdias são essas pessoas, mentecaptas e utópicas que acreditam nessa tal democracia fantasmagórica, onde a base comandaria a vida social. O certo é termos sindicatos diferentes, representantes políticos, dirigentes, pois somos quadrúpedes não emancipados necessitados da coordenação do capitalista, do burocrata, do gerente capitão do mato.
Votar é dar o chicote para um novo capataz, se rebelar é tomar a arma que dilacera as carnes, conspurca a alma, sangra na madrugada dos mortos. Apoiar essa ideologia de chefe estatal é apoiar a falta de autonomia e representatividade do trabalhador.