quinta-feira, 9 de abril de 2009

soldados

Estou andando, em minha frente corpos apodrecidos, carnes dilaceradas, mentes vazias. A trás de mim uma saudade, uma vontade. O odor que penetrava em minhas narinas vinha acompanhado pelo gosto dos vermes que mergulhavam na massa amorfa e decomposta em minha frente.
Alguns tinham sido mortos com tiros na nuca, outros foram estuprados, torturados e mortos com um tiro na nuca. Todos tiham sido assassinados, todos já não sonhavam mais...
Amanhã vou embora para uma terra distante, açucarada, em baixo do arco iris, perto dos cogumelos cor de rosa, longe da casa cinza. Amanhã estarei longe dos corpos que ajudei a enterrar, do sangue amargo que pingava em meus pés, dos homens que gritavam de dor enquanto eu sorria. Gargalhadas de desespero, tiros na noite, corpos inertes, vidas perdidas, perdidos soldados para o mundo dos mortos.
Amanhã estarei longe da guerra, não pegarei mais nas armas que me empolgavam, vou respirar outros ares e tentar esquecer das nucas que serviram de alvos para minhas saudáveis sandices sádicas, sacras, assassinas.
Enquanto atirava naqueles soldados desarmados minha alegria se esgotava, não sorrio mais. Só me arrependo de ter saido antes das torturas e só voltado para dar fim aos suspiros daqueles soldados.
A guerra acabou, só sobrou manchas vermelhas em minha memória, simulacros de doces momentos no inferno.

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