terça-feira, 30 de novembro de 2010

PUTAS TAMBÉM CHORAM

Me lembro com uma certa nostalgia grotesca do dia em que cheguei naquela cidade (Porangatu), quente como um vulcão, feia como a fome, fui a trabalho, lá ficaria um bom tempo, a ansiedade na chegada, a decepção logo de cara, mudar de cidade não é fácil, no fundo viver não é fácil, respirar é uma odisséia. No início não se tem amigos, sozinho tive que me aventurar pelas noites no meu antigo clio preto, eu depois o batizei carinhosamente de corvo movel, ele não me pertence mais, assim como os sonhos, a fé e as crença no futuro socialista e no papai Noel. Pela noite eu caminhava em busca de companhia, logo na primeira semana conheci aquela jovem, pele morena, conversa estranha, não me importei, estava atrás apenas de sexo e alguma diversão, não transamos na primeira noite, mas depois fluiu como um encanto, ela era demais, eu a vi algumas vezes depois, faz tempo que não tenho notícias dela, mas o importante é que foi naquela noite que conheci sua amiga, uma prostituta, ela se tornou uma pessoa com quem conversar, chegamos a ter alguns encontros, pensei que era apenas prazer, pelo menos para mim foi, assim é que nos enganamos, no fundo nunca entendi as mulheres, incógnitas do universo, beleza sem tamanho.

A chuva não esfriou essa cidade, o barulho do ventilador se mistura a música erudita que sai do meu computador, as batidas das teclas são sons que se espalham pela sala, o cheiro de sacanagem e arroz ainda passam pelas minhas narinas, a possibilidade de felicidade nos mantém vivos, ela vivia como queria, nunca fomos amigos, ela talvez achasse que fóssemos, no fundo acho que só me aproveitei dela, meia culpa, é difícil falar sobre os próprios erros, tive pequenos momentos de canalhice, nunca quis ofendê-la, eté tinha uma certa consideração por ela,. ela era bacana, gostava de conversar com essa mulher.

Uma festa, eu já estva enturmado, já tinha amigos, me acostumei com o trabalho, cheguei a gostar por pouco tempo daquela desgraçada cidade, som estrondante, pessoas provocantes, ela estava lá, tinha vindo do seu trabalho, entre alguns beijos e danças com nossos corpos colados bebíamos cerveja e respirávamos o ar da luxúria e da inocência, acabou a festa, hora de ir embora, vejo uma linda menina loira, conhecia de vista, queria apenas saber o nome dela, perguntei para minha colega, ficante e amante casual, ela se ofende e me xinga, continuamos a anadar, acho ela estranha, olho com calma e vejo algumas lágrimas a rolarem pelo seu rosto, no carro o silêncio, fico sem palavras, transamos naquele dia, fiquei triste por vê-la triste, putas também choram, todos tem esse direito, em Porangatu percebi isso. Faz tempo que não a vejo, um amigo meu durante um tempo manteve um relacionamento com ela, ele chegou a gostar dela, eram quase namorados, eu apenas queria uma pessoa para conversar e transar. Sempre que estou triste e sem graça me lembro daquela cena, as lágrimas, assim como aquela garota de programa todos nós choramos, mesmo um coração de pedra machista e sem fé como eu. A transcendência do sentimento em minha mente eloquente ganha força com reminiscências como essa.

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