domingo, 4 de outubro de 2009

Sozinho em um bar


Sento sozinho, na mesa somente eu e meu olhar pessimista sobre as pessoas, olho e vejo cigarros frenéticos, bocas sedentas por cerveja, línguas loucas e tagarelas, pessoas sorridentes, olhos descomprometidos, conversas passageiras, estrelas cadentes. Pensamentos sacanas me rondam, meninas velhas com olhar infantil bebem e conversam sobre a futilidade mundana, filosofam sobre a cor do batom, rapazes descolados discutem com profundidade a última partida de futebol, colocam na mesa a sofisticação intelectual e toda a erudição sobre jogos de video-game, eu escuto atento toda essa bagagem de informação que me chega junto com uma trilha sonora regada a rock nacional.
Está tocando RPM, figurinha carimbada dos anos 80, não é a melhor banda, mas é melhor do que muita coisa indigesta que sou obrigado a degustar com meus ouvidos sensíveis. As feras bebem ferosmente, comem como verdadeiros animais gulosos, e conversam anarquicamente numa ordem irregular, caoticidade da vida, ouço risadas tolas, alegrias ingênuas, se eu fosse burro seria feliz também.
Olham com pena para mim, sou o único solitário do bar, o único corajoso a enfrentar a odisséia noturna sem um exército de camaradas e mulheres calientes ao meu lado, rajadas de ironia são jogadas através de meus poros, a naúsea está tomando conta de todo o meu ser, sou realmente anti-social.
Pernas apressadas marcham rumo ao fundo do bar, garrafas brilhantes e cheias de bebida fermentada são transportadas para a mesma direção, os seres humanos que habitam as profundezas sobem para respirar, a noite é repleta dessas criaturas que caçam fugas da rotina, sexo casual e papos bacanas. Sou o único a acreditar que posso continuar cético e feliz ao mesmo tempo, a cerveja esquenta, bebo rapidamente, freneticamente, meus lábios beijam com brutalidade o copo e encho minha boca e alivio minha alma. A noite já está indo em bora, mas ainda está tocando velhas canções nas caixas de som, vou ouvir mais algumas e irei me despedir da deusa noturna e seguirei para outro ato desse monólogo com a vida.

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