sábado, 3 de outubro de 2009

ESCREVER EM MANHÃ DE CHUVA

Acordei hoje com vontade de escrever, queria analisar o panorama político atual, criticar a cultura de massa, fazer piadinha com minha própria desgraça ou falar de amores platônicos e muita sacanagem, mas na hora de começar a produção textual não saiu nada, o famigerado branco tomou conta de todo o meu ser, me encobrindo como uma camisinha, me sufocando como um casamento. Olho pela janela e vejo o ceú cinza, triste e chorando lágrimas geladas que caiem perto de mim, a chuva trás um alívio, um frescor, junto dela vem uma nostalgia, uma memória escondida.
Escrever é um martírio gostoso, um esforço delicioso, uma canseira recompensante, escrever é cagar nos outros, é pintar arco-íris inenarráveis, viajar pelo espaço sideral, escrever é mergulhar na política e boiar na economia, escrever nos leva ao inferno, nos abandona no paraíso e nos faz sonhahor com a terra. Escrever em manhãs de chuva é caminhar por terras virgens e desconhecidas rumo ao passado lembrado, rumo a lembranças escondidas, envergonhadas.
Quando me dou conto já estou em outro mundo, minha infância, desenhos como caverna do dragão, queda do muro de Berlin, eleição de 1989, pop rock nacional, medo da AIDS, medo apocalíptico do futuro. Voltar ao passado é levar junto um presente louco, triste, emocionante e frustrante, é deixar a maturidade racionalista mergulhar na emoção infantil, no tesão juvenil, na loucura da vida.
Tenho que voltar para a rotina cotidiana, para as tarefas mundanas e finalizar esse texto com um ponto final, com um sinal tão pesado quanto o destino trágico humano, mas voltarei e continuarei rumo... chega, tenho que ir agora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário