sábado, 31 de outubro de 2009

ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO


O que um ser humano é capaz de fazer por dinheiro? Tudo. Esse é o fio condutor do filme ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE ESTÁ VOCÊ MORTO, essa obra mostra o quanto uma pessoa pode descer para alcançar seus objetivos, no caso aqui tratado o dinheiro.
Dois irmãos com problemas financeiros, um é funcionário de uma imobiliária, é esperto,viciado em cocaína e heroina, tem problemas sexuias com sua linda esposa. O outro é um fraco e medroso, deve muito dinheiro e não paga a pensão da filha. O mais velho dos irmãos resolve arquitetar um plano de roubo para sanar seus problemas financeiros e acaba chamando seu irmão para a jogada, só que o plano está relacionado com o roubo da joalheria dos pais. Para sintetizar, o roubo da errado e ai começam os problemas.
Traição, falta de escrupulo, familia desestruturada, ambição e fraquesa são elementos desse drama policial que faz uma leitura desses seres humanos entregues a loucura da vida, desejos e tentações do dinheiro, a falta de limites para suas ações dão um tom de desespero para as necessidades humanas. O ponto alto é a relação familiar, traições, raiva e ciúmes. O arrependimento dos atos criminosos não freia a continuidade da ação dos personagens que são retratos da realidade inescrupulosa da sociedade. Banalidades que vemos nas manchetes das páginas policiais são colocadas aqui com maestria e bom gosto, o roteiro brilhante com personagens ricos e uma história chocante são enriquecidas pela ótima direção de Sidney Lumet.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Caminhando

Estou caminhando, sem destino certo, não tenho para onde ir, como Max do MAD MAX estou apenas caminhando, não vejo progresso,comunismos,finais felizes ou tristes, a minha frente só vejo o futuro, esse tecido cortado sem custura, essa massa amorfa, um ser sem sentido, sem rumo e freios.
Olho para trás,vejo fumaça, é difícil enchergar o que já foi, revoluções,brigas,casais desfeitos,amores perdidos,beijos roubados,mortes impregnadas de susto,sangue e vida. Olho ao meu redor e enchergo tudo embaçado, o cheiro de mofo me diz que ainda há restos de passado, passado vivo como tradição, ou modificado pelo processo dinâmico, embalado para presente o atual tempo caminha sem direção ao futuro ainda não traçado,gritado pela tragédia,descrito pelo progresso iluminista e socialista.
A marcha da história é bêbada e desequilibrada, engraçado como minha jornada pessoal se parece com o desenrolar da humanidade.
Estou olhando para o mar, as ondas brincam de subir e descer, como todo homem sertanejo tenho alegria e extase em ver esse monstro de água, medo de mergulhar em suas entranhas e sumir no meio desse paraíso salgado.Andando pela praia com a boca seca de saudade grito baixinho para mim mesmo que você não me esqueceu, ouço o barulho das ondas se misturarem com a sua voz, sua imagem começa a sumir, assim como as lembranças das últimas eleições você teima em desaparecer, evaporando junto com essas emoções.
Ouço música, ela vem do fundo de minha memória, as lágrimas acompanham o toque do violino, a melodia embala meu coração. No seu casamento tocou essa música, no seu casamento desisti de lutar por você,lutar por esse amor tão improvável como a sociedade utópica e platônica da minha juventude vermelha, vermelho como o sangue que escorre das guerras e revoluções, giram o mundo assim como essas lembranças giram minha cabeça,tonteando minhas idéias,abalando meu sofrer.
Continuo caminhando junto com a humanidade,com passos de inseto,desejo de criança,realismo desgraçado,mas no fundo o mar desagua no infinito,meu amor seca deixando apenas gotas para refrescar minha memória com sua boca a me beijar.
Olho para o horizonte e tudo some, vou caminhando até ele,até chegar onde devo continuar, eternamente e bruscamente penso em você,você,vo...

domingo, 25 de outubro de 2009

ANTICRISTO






No fundo uma música erudita, um tom magistral e grandioso, a cena em preto e branco revela um certo charme, as imagens com detalhes e closes precisos desfilam em câmera lenta, o sexo entre um casal é mostrado de forma sensual e provocante, a criança que dormia próxima a cena de luxúria acorda,caminha rumo ao fatal destino e pula para a morte. Essa é a cena inicial do filme ANTICRISTO de Lars Von Trier.
Com o acidente a mulher passa a ter problemas com a falta e com a culpa que carrega pelo incidente, para solucionar esse problema seu marido resolve viajar com ela para uma cabana no "ÉDEM", que é uma floresta, lá eles passam a interagir com a natureza e com seus conflitos íntimos e psicológicos.
O filme trata da dor, da perda e da culpa, o diretor utiliza-se de um arsenal simbólico que complica a compreensão da obra, mas a deixa com ar de mistério, o inconsciente e a repressão de instintos e sentimentos são levados a superfície da tela com uma fotografia que privilegia o cinza, a tristeza, o tom de desespero da mulher é transformado em loucura e obssessão nos levando de um filme dramático e intimista ao terror sanguinário e nauseante, que não deixa de ser reflexo da mente pertubada de nossos protagonistas.
Com cenas chocantes de mutilação,animais mortos,sangue e sexo bizarro a obra nos remete ao lado obscuro do ser humano,suas angustias,medos,perversões,como podemos ser solidários e mesquinhos ao mesmo tempo, o tom sombrio e fantasioso leva o espectador a momentos de deleite e nojo, mas o resultado é uma película de mensagem profunda e complexa, um filme difícil de digerir e agradar, não é uma obra prima,porém é um esforço estético profundo que resulta em um filme bom, tanto em conteúdo quanto em forma, divide opiniões como tudo que envolve nossos pecados mais íntimos.

sábado, 24 de outubro de 2009

Brincar de Lembrar


Andando com minha bicicleta para driblar o sedentarismo sou atingido por ventos fantasmas, alegrias masoquistas e muito cansaço, o suor escorre pela minha face vermelha e sem graça, o sol vai deslizando lentamente pelo horizonte, pessoas correndo passam por mim sem me dar atenção, sou mais um estranho na mutidão. Durante minha tarde de exercício físico me deparo com um rosto familiar, de onde eu o conheço? Não consigo me lembrar, a memória é uma ladra, nos rouba momentos, lembranças e nos deixa confusos, sem respostas. Como é engraçado a brincadeira de lembrar, não consigo lembrar o que comi no almoço, mas me lembro de assistir pela tv a queda do muro de Berlim, me lembro de voltar da escola mais cedo e ligar a caixa mágica televisiva e ver aviões mergulhando e atingindo prédios em Nova York.
As coisas marcantes e algumas insignificantes ficam presas em nossas memórias, nesse tunel enigmático,confuso e mágico, o programa dos trapalhões, a macarronada dos domingos, a abertura da sessão das dez, seriados de ficção-científica, como esquecer do olho de thundera, do mestre dos magos ou de filmes como Highlander, minha infância nostálgica é sinônimo de STAR TREK e muitos filmes de aventura. Passar pela adolescencia e não se lembrar do primeiro beijo é inimaginável, assim como nunca me esqueci de CINEMA PARADISO ou do livro A NÁUSEA do guro do existencialismo, as aulas de história, trabalhos sobre o nazismo, o lanche que comíamos nas vasilhas azuis e as meninas com sorrisos febris não saem de minha memória.
Amizades fortes, poemas tolos, medo do futuro, são alguns dos elementos fotografados no meu album de lembranças guardado no transcendental arquivo do nada de minha mente.
Música do QUEEN, Caetano e Roberto Carlos, sons inesquecíveis junto com melodias infantis do Balão Mágico, como não se emocionar quando criança com Dumbo, ou na juventude com OS INTOCÁVEIS. Impossível mergulhar nas águas turvas de minhas lembranças sem mencionar a literatura francesa de Zola e Victor Hugo, ficção-científica de Guerra nas Estrelas ou os filmes de Fellini. Sempre me lembrarei de minhas investidas socialistas na juventude e de sonhos revolucionários.
Fecho meu texto nesse parágrafo com minhas lembranças perdidas no espaço da minha fantasia cinematográfica e emotiva, poesia encantada e realismo bruto de minha vida para continuar rumo ao infinito até chegar ao fim nada planejado.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

MODERNIDADE, POLÍTICA E MUDANÇA

Acordo em uma manhã com chuva, o sono persiste em me perseguir, mas mesmo assim desperto para mais um dia de caminhada sobre esse solo, como na caverna do dragão cumpro minha jornada em busca de um caminho que nunca encontro, talvés não exista tal caminho ou saida dessa realidade. Ano que vem tem eleições novamente e novamente temos propagandas eufóricos, políticos emocionados, promessas de mudanças e muita gente decepcionada com a política.
A modernidade transferiu a fé e a esperança no futuro para a política, criou a idéia de progresso e um futuro rico, igualitário, tecnológico e utópico, na mesma batida veio os "socialismos" e demais sonhadores de plantão, na prática vemos revoluções burguesas como a francesa de 1789 tentando construir um mundo parecido com o sonhado pelos iluministas, ou revoluções socialistas que através da praxis impõe um modelo estatal e burocrático de Estado e organização social. Tanto a utopia capitalista quanto a socialista não deram certo, porém mesmo de forma imperfeita é o capitalismo que triunfou, ele não trouxe as maravilhas que o iluminismo sonhou, porém, conseguiu mudanças significativas na sociedade como é o caso do Estado Democrático de Direito.
Como já havia escrito algumas linhas acima ano que vem tem eleições, será que temos que ser utópicos, socialistas ou iluministas para lutar por mudanças? O fato de colocarmos em dúvida algumas certezas que a modernidade política nos trouxe não quer dizer que não devemos lutar por mudanças, mesmo sabendo que não estamos "necessariamente" caminhado para um mundo perfeito aos moldes do positivismo e demais ideologias progressistas e otimistas podemos perceber transformações significativas no mundo contemporâneo e estas vinheram através de lutas políticas, sejam elas de trabalhadores, de mulheres e outras "minorias" ou partidárias, o que importa é que não abandonemos o sonho de um mundo melhor e continuemos a brigar por ele. Acreditar que há possibilidade de construirmos uma sociedade melhor não é infantilidade, mas ficarmos sonhando com paraísos terrestres e pré-destinados sim.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

TWITTER E O PONTO DE INTERROGAÇÃO



Ouvindo música francesa e pensando na melancolia e na epopéia da vida sedentária sou arrastado para o mundo virtual, sites de sexo, política, filosofia e cinema, notícias sobre corrupção, amor, fofocas, fantasmas reais, mundos imaginários, sangue, estupro, novela e muita cultura inultil. A internet é a porta da esperança em um mundo mais pervertido, divertido, informado e cultural, a matrix me leva pelos bosques da pornografia, mergulho nas águas escuras da dúvida, me excito com notícias culturais, coloco minhas idéias desconcertantes dentro do redemoinho erudito e refinado da literatura maldita, da política sociológica, do mundo sem sentido.
No meio desse espírito capitalista e global acabo seduzido pelo diabo, dou meus passos na comunicação, no modismo, no mais atual momento da troca de informação, apelação, inutilidade, piada, educação, contraditoriamente o melhor e o pior da atual rede social da net, estou falando do TWITTER, essa ferramenta tão adorada, seguida e discutida ultimamente, como todo bom humano malvado estou entre os seres loucos e sedentos pelo contato com a humanidade globalizada e bem informada, por isso faço parte dessa "galera" do twitter, desse amontoado de cabeças eletrizantes, com pensamentos transcendentais, pragmáticos, iluministas, fofoqueiros, humoristas, comunistas e humanos, estou dentro desse turbilhão ainda mal compreendido, mas muito difundido entre os internautas.
O mundo da internet realmente foi uma revolução da comunicação, trouxe o mais refinado da informação e discução, porém também libertou demônios estupidos e desnecessários, ai se encaixa o twitter, miniblog que acompanha a maravilha do mundo cão rumo ao paraíso infernal da informação, passa tempo, entretenimento, trabalho, jornalístico, cinematográfico, literário, cultura, monumental.
Não tenho muito o que dizer, relatar e explicar sobre o twitter, sou um novato nesse carrocel da tecnologia, informação e internet no mundo globalizado, tenho sim dúvidas, mas elas são saudáveis, já que, a maior invenção humana foi o ponto de interrogação.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

BASTARDOS INGLÓRIOS




Quando assisti pela primeira vez o filme TEMPO DE VIOLÊNCIA do Tarantino achei um pouco bobo e pretencioso, na época era um adolescente descobrindo filmes clássicos como o PODEROSO CHEFÃO e diretores renoamados como Fellini, porém alguns anos depois fiz uma "releitura" da obra, assisti mais umas duas vezes até conseguir compreender a genialidade do diretor, do mestre do cinema contemporâneo. Esta semana fui ao cinema ver mais um filme do famigerado diretor aqui citado, as espectativas em relação a obra eram enormes e o medo de me decepcionar também, mas assim como aconteceu com Kill Bill eu fui levado ao mundo do extâse e da loucura- no bom sentido- cinematográfica, vejo em minha frente um show de imagem e som, uma narrativa com uma linguagem própria, estou falando da mais recente ousadia artística de Quentin Tarantino, estou falando de Bastardos Inglórios.
Resumir o enredo do filme não é fácil, a história se passa durante a 2ª Guerra, no filme uma jovem judia tem sua família massacrada pelo exército nazista, anos depois da tragédia ela tem a oportunidade de se vingar tentando matar um grupo de nazistas que vão ao seu cinema assistir a uma sessão de gala, nessa sesssão estão Goebels e Hitler, só que , faz parte dos planos de um grupo de assassinos também atacar o evento matando os grandes líderes "cabeças" do nazismo, esse grupo chama-se OS BASTARDOS, ele é liderado pelo tenente Aldo Raine vivido pelo ator Brad Pit em uma performance extrardinária, com sotaques e exprerssões exageradas ele dá vida a um personagem frio e irônico, ironia é o que não falta nesse filme, Tarantino conduz seu filme com uma narrativa repleta de sarcasmo, sangue e aventura nos levando a cenas com diálogos memoráveis, ação e muita diversão.
O diretor me lembra Sergio Leone ao controlar o termpo e criar espectivas em cenas monumentais como a 1ª com um diálogo entre um fazendeiro e um coronel nazi chamado Hans Landa, que é um personagem chave na trama com um humor e uma lábia que são encorporados com maestria pelo ator Waltz- devo dizer que ele rouba as cenas! Além da questão do tempo temos uma fotografia maravilhosa que mostra uma natureza viva e deslumbrante e um vermelho intenso nas cenas banhadas com sangue. A trilha sonora com músicas pop e trilhas de filmes de western nos leva a nostalgia, a um mosaico de referências a cultura cinematográfica e pop.
Com uma narrativa bem estruturada esse filme inteligente, colorido e divertido é mais uma obra prima desse diretor que está entre os melhores dos últimos vinte anos, um poema violento, uma sátira histórica, um amontoado de anti-heróis pós-modernos onde o protagonista é o filme e o prazer é do espectador.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

MST: BALBÚRDIA OU JUSTIÇA SOCIAL?


A reforma agrária não é brincadeira, bandeira política ou simples pretexto para balbúrdia, é uma questão de justiça social e econômica, dentro dessa perspectiva vejo o movimento dos trabalhadores sem terra como algo importante, pois são eles os principais atores sociais que lutam pela melhoria da distribuição de terra nesse país. Está até na constituição de 1988 que terra improdutiva será desapropriada para reforma agrária, não é por motivo gratuito que na lei máxima da nação há menção sobre a questão da reforma agrária.
Apesar desse meu apoio a causa dos sem terra me vejo na obrigação de tecer críticas as ações de muitos dos membros desse movimento, não é com atos ilegais, com destruição de patrimônio público e privado que terão o respeito e credibilidade perante a sociedade, porém é assim que vem atuando muitos desses senhores e senhoras, quando vejo uma atitude dessa não há como não criticar a ação dessas pessoas, ação criminosa que vai contra o direito de propriedade e liberdade dos cidadão dessa pátria.
O poder público tem como dever coibir atos criminosos praticados por qualquer pessoa, inclusive membros do movimento dos trabalhadores sem terra, não podemos deixar que covardes criminosos manchem a luta de cidadãos honestos e humildes que tanto lutam pela justiça social e agrária no Brasil. Esta minha atitude não é comunista e nem capitalista, é apenas uma visão sincera do que eu acho justo e direito dentro do estado democrático de direito.

domingo, 4 de outubro de 2009

A GAIOLA


Sou um pássaro preso em uma gaiola, essa prisão me impedi de voar, de levar meu corpo rumo aos meus desejos, a falta de liberdade me sufoca, minha vontade é gritar por socorro, mas não posso. Vejo espaços para soltar minha imaginação, essa louca e tarada amiga que me acompanha rumo ao delírio. O amor é passageiro, minhas penas, meu bico, tudo em mim é frustração, o matemático não consegue resolver todas as equações, o filósofo não chega a verdade última e absoluta, a ciência não impede o irracionalismo e a religião de respirarem o ar dos ingênuos, minha ansiedade por voar não me leva aos ceús assim como seu orgasmo te leva ao topo.
Abriram a gaiola, posso pular no infinito, caminhar sobre a terra, sorrir de piadas idiotas, refletir sobre o aquecimento global, ter opinião sobre o liberalismo, escrever textos filosóficos e, quem sabe, até amar.
A erudição me deu gabarito para discutir música, li Shakespeare e Sartre, posso falar palavras bonitas, escrever poesia, citar autores clássicos, mentir sobre o sentido da vida, falar a verdade sobre a falta de explicação da existência, sou um pássaro livre, meu corpo não tem barreiras, meu sopro de otimismo corre junto com o pessimismo rumo ao realismo do mundo.
Metáforas claras não compreendem a alma confusa, o contraditório e absurdo do mundo não choca a caoticidade da vida, a utopia de uma felicidade plena e eterna não passa pelos muros da realidade, o abismo grita para mim e eu caio nele sorrindo pois aceito a vida como ela com seus loucos e atormentados dias, ensolarados e góticos dias de tristeza e noites amenas de alegrias. A gaiola está aberta,sou um pássaro, posso voar, mas minhas asas estão quebradas, me arrasto junto aos vermes com minha liberdade.

Sozinho em um bar


Sento sozinho, na mesa somente eu e meu olhar pessimista sobre as pessoas, olho e vejo cigarros frenéticos, bocas sedentas por cerveja, línguas loucas e tagarelas, pessoas sorridentes, olhos descomprometidos, conversas passageiras, estrelas cadentes. Pensamentos sacanas me rondam, meninas velhas com olhar infantil bebem e conversam sobre a futilidade mundana, filosofam sobre a cor do batom, rapazes descolados discutem com profundidade a última partida de futebol, colocam na mesa a sofisticação intelectual e toda a erudição sobre jogos de video-game, eu escuto atento toda essa bagagem de informação que me chega junto com uma trilha sonora regada a rock nacional.
Está tocando RPM, figurinha carimbada dos anos 80, não é a melhor banda, mas é melhor do que muita coisa indigesta que sou obrigado a degustar com meus ouvidos sensíveis. As feras bebem ferosmente, comem como verdadeiros animais gulosos, e conversam anarquicamente numa ordem irregular, caoticidade da vida, ouço risadas tolas, alegrias ingênuas, se eu fosse burro seria feliz também.
Olham com pena para mim, sou o único solitário do bar, o único corajoso a enfrentar a odisséia noturna sem um exército de camaradas e mulheres calientes ao meu lado, rajadas de ironia são jogadas através de meus poros, a naúsea está tomando conta de todo o meu ser, sou realmente anti-social.
Pernas apressadas marcham rumo ao fundo do bar, garrafas brilhantes e cheias de bebida fermentada são transportadas para a mesma direção, os seres humanos que habitam as profundezas sobem para respirar, a noite é repleta dessas criaturas que caçam fugas da rotina, sexo casual e papos bacanas. Sou o único a acreditar que posso continuar cético e feliz ao mesmo tempo, a cerveja esquenta, bebo rapidamente, freneticamente, meus lábios beijam com brutalidade o copo e encho minha boca e alivio minha alma. A noite já está indo em bora, mas ainda está tocando velhas canções nas caixas de som, vou ouvir mais algumas e irei me despedir da deusa noturna e seguirei para outro ato desse monólogo com a vida.

sábado, 3 de outubro de 2009

ESCREVER EM MANHÃ DE CHUVA

Acordei hoje com vontade de escrever, queria analisar o panorama político atual, criticar a cultura de massa, fazer piadinha com minha própria desgraça ou falar de amores platônicos e muita sacanagem, mas na hora de começar a produção textual não saiu nada, o famigerado branco tomou conta de todo o meu ser, me encobrindo como uma camisinha, me sufocando como um casamento. Olho pela janela e vejo o ceú cinza, triste e chorando lágrimas geladas que caiem perto de mim, a chuva trás um alívio, um frescor, junto dela vem uma nostalgia, uma memória escondida.
Escrever é um martírio gostoso, um esforço delicioso, uma canseira recompensante, escrever é cagar nos outros, é pintar arco-íris inenarráveis, viajar pelo espaço sideral, escrever é mergulhar na política e boiar na economia, escrever nos leva ao inferno, nos abandona no paraíso e nos faz sonhahor com a terra. Escrever em manhãs de chuva é caminhar por terras virgens e desconhecidas rumo ao passado lembrado, rumo a lembranças escondidas, envergonhadas.
Quando me dou conto já estou em outro mundo, minha infância, desenhos como caverna do dragão, queda do muro de Berlin, eleição de 1989, pop rock nacional, medo da AIDS, medo apocalíptico do futuro. Voltar ao passado é levar junto um presente louco, triste, emocionante e frustrante, é deixar a maturidade racionalista mergulhar na emoção infantil, no tesão juvenil, na loucura da vida.
Tenho que voltar para a rotina cotidiana, para as tarefas mundanas e finalizar esse texto com um ponto final, com um sinal tão pesado quanto o destino trágico humano, mas voltarei e continuarei rumo... chega, tenho que ir agora.