Quando era criança tinha inveja do sofrimento alheio, eu era masoquista? Não, eu era uma criança solitária, minha companhia era o cubo mágico audio visual, era a caverna televisiva de platão, essa porta de entrada para a diversão,informação e contraditoriamente alienação. Através dessa companheira fiel tive acesso as telenovelas, seriados, desenhos animados e ao que mais me influenciou na minha vida-além da literatura e da filosofia existencialista- os filmes, a arte cinematofráfica com seus épicos monumentais, seus enlatados, trash, romances lacrimogênicos, dramas existencias e psicologia banal, foi através desses elementos artísticos,culturais e comerciais que fui jogado no redemoinho absurdo da existência humana, nesse caos de sentimentos, estruturas, crenças, desejos, amores e violências, a imagem louca e pertubada da harmonia, da beleza e do grotesco estavam boiando nas águas de minha imaginação e no fundo desse aquário burbulhante havia o que mais povoa o imaginário desses seres culturais, a alegria e a tristeza.
Os extremos da moeda do destino humano são simbolizados pela alegria e pela tristeza, dois momentos que são constantes em nossas vidas, um desejado e buscado, outro temido e evitado, mas tanto um como o outro estão impregnados em nossa epiderme, exalando seu cheiro por nossos poros e poluindo nossas mentes. É nesse ponto que volto ao que havia dito logo no início desse texto, eu tinha inveja do sofrimento alheio, pois nos filmes, novelas e seriados parece que é no sofrimento que as pessoas superam os obstáculos, intensificam suas vidas e chegam a felicidade, nunca vi um personagem ser feliz de forma gratuita, sempre há lutas, amores impossíveis, problemas financeiros e outros obstáculos a serem ultrapaçados em busca do cálice sagrado da felicidade e da alegria.
Como a tristeza é fato importante para chegarmos a alegria e a felicidade eu acabava desejando sofrer para poder lutar e chegar ao pódio dos heróis cinematográficos e televisivos, pois aparentemente quem não sofre não chega a alegria e consequentemente a felicidade, logo não vive, vegeta, apenas respira o ar da monotonia. Essa imagem foi se desfazendo a medida que eu caminhava rumo a vida adulta, mas uma coisa permaneceu, não precisamos ser necessariamente tristes e sofrermos para depois termos alegrias e sermos felizes, mas não podemos negar a dor e a tristeza como constituintes da vida e de esperiência nesse mundo, não precisamos ser mazoquistas e desejarmos a dor e o sofrimento, porém temos que ser realistas e sabermos que a felicidade e a alegria não são eternas e que os momentos ruins são fundamentais para termos uma certa dinâmica na vida e temos que aprender com eles.
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