quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

NOITE DE CHUVA


A agonia é uma das deusas da vida, ela me persegue nesses dias em que a chuva teima em cair sem parar, parece que ela vai inundar o universo, assim como minha alma está inundada com a agonia, meu corpo parece está mofando, já me sinto um mamífero aquático. Cançado de esperar o fim desse dilúvio saio heroicamente pelas ruas atrás de diversão noturna, passo por bares, bebo cerveja gelado como o tempo lá fora e sonho com dias menos úmidos. Acabo de ingerir o líquido amargo e suave e já estou pronto para mais uma odisséia rumo ao estômago da noite, indo até as entranhas desse monstro misterioso e romântico, que deita seu olhar triste sobre os solitários e sua sensualidade sobre os amantes.
Cavaleiro das trevas, assim me sinto dentro desse carro com vidros embaçados mergulhando nesse túnel de água e escuridão, como um vampiro sedento por sangue corro desesperadamente pela gótica noite atrás de algo que me destraia e amenize minha náusea e alergia desse universo. Paro meu velho carro em frente a uma casa de shows, entro contemplativo no lugar, sento em frente ao palco e bebo mais um copo de cerveja. Começa o show, mulheres lindas e sensuais com movimentos de fadas e olhares demoníacos tiram peças de roupas de seus corpos, passeiam pelo espaço da casa indo parar no espaço dos sonhos masculinos, um estranho na mesa ao lado suspira e dá gritos de alegria, eu sozinho com meu copo me excito e aprecio a beleza do mundo, o exemplo dos animais, não estou plagiando Shakespeare com essas últimas palavras, estou tomando emprestado construções do mestre para enfatizar o cenário de beleza e prazer que rodeia minha alma, ilumina meus olhos e provavelmente vai me custar dinheiro.
Saio novamente pela noite, agora a chuva está mais forte, quase não enchergo a rua a minha frente, a lembraça daqueles lábios, daquelas pernas povoam minha mente solitária e noturna nesse dia de chuva e frio.

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