terça-feira, 18 de agosto de 2009

FIM DA ESTRADA


Piso em uma barata, vejo seu corpo esdrúxulo se espatifar, seu cheiro fétido avança pelo ar, penetra em minhas narinas, a naúsea já toma conta de mim. Reparo naquele pedaço orgânico destruído e disforme decorando o chão, ocupando o ambiente, enchendo meus olhos de horror e espanto frente a natureza morta, ao fim de um ser, ao fim de uma caminhada pela terra. Não choro, é apenas o fim, por isso não há lamentações, lágrimas de emoção, compaixão cristã, pensamentos solidários, tristezas solitárias, ânsia pelo perdão.

Ligo a televisão, imagens de pessoas nuas, notícias de desastres, fogo nas matas, árvores sendo queimadas, fumaça cobrindo o ar, corpos vegetais dilacerados pelo calor, vidas assassinadas pelo sopro quente do inferno humano. Novamente não chorei, assisti a um espetáculo sádico de morte e dor, mas meu coração não se preocupou. Não há motivos para a naúsea voltar e ela não voltou.

Não sou diferente daquela barata morta ou dessas árvores queimadas, então por que elas morreram e eu serei eterno? Continuarei minha caminhada rumo a eternidade, com destino ao inferno ou ao paraíso gélido, calmo e branco com nuvens sem graça? Sou melhor que a barata, sou mais importante que a árvore, faço parte de uma elite divina, tenho alma. Não, não sou melhor que a barata nogenta que percorria com suas patas feias o lixo da minha cozinha, não sou mais importante nesse universo do que a árvore em chamas, não tenho uma alma transcendental e metafísica que irá flutuar sobre o espaço sideral ou perfurar o solo até o inferno imaginário e apocalíptico. Sou mais inteligente que o inseto estúpido e fétido que decorou minha cozinha hoje de manhã com suas entranhas, por isso tenho consciência de minha ignorância e da desnecessidade humana nesse vastíssimo universo. Por acaso existimos, absurdamente estamos aqui, vivemos para a morte, a vida é uma sala de espera para a tragédia determinada pela biologia, pelo fim inevitável, sim vivemos para deixarmos de viver, sorrir, chorar, amar e respirar, por isso que não me desespero, a queda no abismo é inevitável, simplesmente caio, sem gritaria, choro ou desespero. Aceito a vida como ela é, sem sentido, lógica e destino, apenas caminho rumo ao deserto, ao nada, tendo o sol como guia e a morte como fim da estrada.

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