terça-feira, 4 de agosto de 2009

ANTÁRTICA


Percorro com o meu olhar a vastidão em minha frente, o infinito parece ser o limite, o branco da neve congela minha alma, meu coração bate acelerado junto ao meu corpo trêmulo de frio. A imensidão branca que me rodeia denuncia a solidão, a falta de tudo que não me falta.

A noite sonho tranquilo, minha imaginação inconsciente projeta viagens intergaláticas na escuridão do espaço, na infinitude do universo. Acordo, estou sozinho novamente, o frio me acompanha em minha odisséia terrestre, sou Adão, a neve minha Eva. Pinguins mergulham na água gelada, meus pensamentos penetram no líguido e endurecem com o gelo. Estou sozinho com minhas angústias, sonhos e desejos.

Minhas lágrimas aquecem meu rosto, são labaredas infernais nesse ambiente angelical. Deus é mais uma idéia esdrúxula, o sentido da vida não passa de ouro de tolo, a morte é um preâmbulo do entardecer rumo ao anoitecer do ser.

Pensar em um fim, em utopias e escatologias teleológicas me faz dar risadas sem graça, gargalhadas solitárias, gritos ensurdecedores no silêncio que paira em minha alma. A desgraça se transveste de névoa, caminha por todo o vale, tenta ceifar minha vida como uma moléstia fatal. A esperança não mora no calor do meu corpo, não floresce no bosque da minha consciência, não toca meu desejo. Vejo o futuro quente derreter toda a névoa que cobre esse continente levando a destruição de sonhos, a efervescência de vidas monótonas, a raivas caninas de humanos envaidescidos.

A multidão de pessoas que vejo em meus sonhos não preenchem os espaços vazios, não ultrapassam a barreira gélida de meus pensamentos. Minha vida unitária prevalece nesse continente. Meu amor, minha paixão pela vida ferve nessa lama branca, os seres humanos me comovem com suas vidas exatas, calculáveis e amáveis.

Sozinho posso chorar da vergonha de não estar dentro do olhar de outra pessoa, posso sentir o medo de não ter um propósito divino, achar graça dessa paródia. Acreditar que vinhemos do nada é ridículo, um absurdo, crer em uma força mágica e transcendental como origem de tudo é um grito de desespero intelectual! Não tenho explicações para minha solidão nesse universo, nem respostas para a origem desse caos que povoa nossa existência. O amor, a loucura, a política e o sexo são elementos soltos nesse caldeirão sem lógica, inexplicável.

Refletindo sobre todas as possibilidades chego minhas angústias perto de uma fogueira, o fogo existindo em minha frente nesse continente gelado é engraçado. A vida aqui não tem sentido, mas não há razão de ser em nenhum lugar. A vida se resumi a um grande absurdo e aceitar isso é um passo decisivo na maturidade humana.

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