domingo, 9 de agosto de 2009

carta


Mais um tiro, gritos de dor, olhares apavorados, olhos cheios de sangue. No meio da fumaça sai um homem, atrás dele vem um exército, uma bandeira, uma causa, uma desculpa para a desgraça. Corpos ao chão, casais separados, filhos sem pais.

Uma bomba explode, civis, inocentes, pessoas respirando a morte, vidas ceifadas por nada, batalhas. Vejo crianças correndo, fogo, vermelho latente, choro na escuridão, já não reconheço esses seres que caminham rumo a destruição.

Abro a carta, ela tem cheiro de mulher, um tom doce e agradável, é seu perfume impregnado nesse pedaço de papel, é sua lembrança dentro do meu aquário cheio de saldades. Sinto falta de seus beijos, seu sexo, nossas brigas. O verde da grama do parque enche meus olhos lacrimejantes, minha boca seca não sorri mais de suas travessuras de menina, não morde mais sua carne de mulher madura, fruta broibida.

Aqui não é o inferno, apenas há morte, estupros, torturas e descaso com o ser humano, esse animal estúpido, egoísta, bélico. Amar você não me fez um homem menos bruto, não pisco ao atirar em outro ser que bebe cerveja, não me surpreendo ao ver corpos pegando fogo, mesmo eles estando vivos ainda!

Fascismos, comunismo, liberdade, capitalismo, descuplas vibrantes, bandeiras fajutas para o caos e absurdo, batalhas mau pagas, sangue quente e fresco, minhas mãos estão cheias desse brilho hediondo da guerra.

Mulheres estão sendo estupradas, seus filhos assistem a tudo, perplexos, animalizados. O telfone toca, é você do outro lado da linha dizendo...que pena não é verdade.

Ouço uma ópera, é Albione, a música me arrepia, seu tom triste e melancólico não combina com a alegria dos campos de batalha, as lágrimas que brotam com sentimentos tão profundos não se adaptam a profundidade das gargalhadas desgraçadas, amaldiçoadas da guerra. Seu perfume é banido de minha memória, só sinto cheiro de putrefação, meu orgasmo é fruto de imagens cadavéricas, meu poema é um campo em chamas ao som de munições, estrondos e emoções. escrevo mais uma vez para saber que ainda respiro, mas o ar é poluído de más intenções, me desculpe por não dizer palavras bonitas e não mencionar meu eterno amor por você. Vou dormir e acordar para dar mais um pouco de minha vida pela pátria. Adeus.

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