quarta-feira, 26 de agosto de 2009

CAMILA

Camila caminha pelos corredores da escola com seus passos tímidos, guarda em sua boca um sorriso metálico, uma língua dormente, palavras presas e suaves. Camila se depara com o sol, a alegria matutina não combina com a melancolia noturna presente nos pensamentos da menina, ela é iluminada pelo astro rei, mas as trevas teimam em acompanhar seus passos, seu rosto comprido e branco não mente, seu semblante triste e adolescente não passa despersebido pelos olhos fuzilantes dos jovens na esquina, sua respiração calma não acompanha a dinâmica de seus pensamentos rápidos e preocupados.
Não havia mais interesse na vida, as pessoas não lhe agradavam, conversas sobre política eram chatas, a cultura não passava de um amontoado de símbolos sem razão, de representações sem sentido, o simples fato de existir já era razão de frustração, o azul do ceú não sorria para o seu coração, ela sentia alergia do universo!
Camila não era sexy, mas tinha um olhar de menina, uma beleza simpática, um encantamento de flor selvagem, suas idéias não transmitiam efervescência, não arrebatava as almas aflitas desse cosmo borbulhante, dessa vida escaldante, desse inverno brilhante. Camila deslizava seu corpo pelos espaços vazios, suas angústias passeavam pelos salões lotados de gente, de mentes aborrecidas, de mentecaptos e vermes de toda a sorte e sina, suas lembranças não lhe agradavam, suas espectativas futuras beiravam a catástrofe, era o sem sentido do ser, ser o que ninguém quer ver, a imagem apagada do pessimismo, a derrota com pernas.
Abraçar o destino que não está escrito, traçar seu caminho rumo ao desconhecido, libertar suas prisões e gritar calada palos corredores da vida, esse é o trajeto diário dessa menina solitária, dessa larva roendo a carne da terra, respirando a poluição que sai dos pensamentos impuros desses medíocres que passam pelos intestinos do mundo.
Camila olha a vastidão da galáxia com seus olhos internos, mas não vê o fim da cidade com suas órbitas castanhas e míopes que decoram seu rosto, ela consegue apenas enchergar o tapete negro estendido abaixo , ela senti o atrito do vento com o seu corpo enquanto cai rumo ao solo, ao encontro do fim da jornada. Sua beleza não resistiu ao impacto que ceifou suas memórias, angústias e desejos, que levou embora aquele silêncio que reinava na boca daquela menina.

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