segunda-feira, 20 de setembro de 2010

LUCIANA

Você diz que eu vivo te citando em meus textos, esse já vai ser o terceiro onde você não será parte integrande, o primeiro foi sobre minha saudade de Goiânia, o segundo foi sobre o filme "500 dias com ela", deixarei de lado essa pequena introdução e irei para o meu texto.
Ouvindo Across the Universe dos Beatles me sinto vagando pelo espaço sideral, sou um astronauta de mármore vagando por sonhos, solidão, nostalgia, progresso sem sentido, escuridão reflexiva, vejo o azul agonizante, esperança terrena, beleza humana, do espaço posso visualizar a desgraça humana, o encantamento artístico, ouço o silêncio que reina nesse salão sem oxigênio, sem encanto, sem religião, daqui posso sentir o nada e não vejo deus me recriminando, nem parísos metafísicos, sinto o calor se apagar no gélido hálito de romance que passa pelos meus olhos lacrimejantes de emoção ao notar minha solidão no espaço, reflito amargamente o doce da vida nesse momento e me lembro que estou no mundo de passagem.
Detalhes, pequenos, mas importantes detalhes são as lembranças, contemplando o infinito do universo nesse negro e tenebroso campo onde estou flutuando me lembro que a memória é feita mais de esquecimento do que de lembranças, mas no meio dessa brincadeira cósmica de lembrar e esquecer me recordo de passeios no zoológico, filmes no cinema, trepadas gostosas, fantasias realizadas, livros lidos, bebidas ingeridas, eu num táxi ouvindo scorpions, brinquedos infantis, mas é claro, não poderia deixar de mencionar aquele rosto branco, cabelos negros e olhos pequenos, sua voz some no tempo, lembro bem de seu sorrizo, do penteado, de sua calça amarela, do seu cachorro branco com bolas pretas e com nome de personagem de desenho animado, meus primeiros beijos, suspiros, sonhos e angustias amorosas, como não me lembrar dela, daquela criança que me fazia menos criança, porém mais tímido, época encantada e perdida no tempo que o vento levou e a saudade recordou. O nome é lindo como uma sinfonia, Luciana. Será onde está aquela branquela, nunca mais ouvi falar dela, não coloquei mais meus olhos sobre seu corpo, ouvi sua voz manhosa, será que está viva? Não ouso pensar na sua morte, mesmo sendo algo natural.
Volto minha imaginação para o deserto do espaço sideral, como no filme 2001 me sinto um feto azul e brilhante suspenso no universo, olho com ingenuidade para a desgraça, amor, guerra e violência, berro o apocalipse, grito de dor e prazer no infinito, mas pouco a pouco sou tomado pelas lembranças daquela época sem esperança, infância se perdendo, juventude efervescente, amores indescentes e ela lá, sorrindo, me beijando e sumindo no vendaval do tempo, presa em minhas lembranças, Luciana, onde andará você? Se não te ver mais, se não te ouvir mais, tenho a certeza que você também deve ter pensdado em mim e que não passo de uma leve e obscura lembrança.

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