terça-feira, 28 de julho de 2009

Valsa das flores


Ainda ouço a valsa tocar, ainda vejo aquelas duas criaturas a rodar pelo salão, não acredito que possa ter passado tão rápido o tempo, ele cai como água na cachoeira e desmaterializa como espirro no ar. Pequenas lembranças vão correndo em meu cérebro como raios de luz, memórias se formam e desaparecem sem deixar recado, músicas nostalgicas ecoam em meus ouvidos e junto surge a imagem daquele casal.

Estou velho, minhas mãos enrugadas não são mais sensuais, meus velhos e reluzentes olhos verdes não encantam mais as mulheres, sou apenas uma esperiência de pernas, um oráculo desnecessário, sou um bobo-alegre triste,cheio de esperança em relação a morte, pessimista em relação a lembranças, o futuro é apenas uma palavra sem significado para mim.

Você deve se lembrar melhor do que eu, em sua mente ainda deve estar a imagem daquele casal, aquela noite foi importante, mágica, excitante! Posso não chorar mais, mas meus olhos ficam lacrimejantes ao som daquela valsa.

Abro a porta do meu quarto, o escuro do nada clareia minha memória, junto dela vem a música e sua dor que rasga meu peito e dilacera minha alma, mais forte que a fé religiosa, mais quente que o inferno é a saudade daquele casal.

Você estava linda, esse corpo enrugado e delgado era liso e cheio de curvas, nós dois nos amando e dançando aquela valsa era motivo suficiente para viver e aguentar todas as desgraças dessa existência. Você deve se lembrar, mesmo estando pedrificada nesse caixão. Minha linda. Meu amor. Minha valsa das flores.

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