quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mais uma foto de jornal


Suco de manga, torrada e café, esse é meu café da manhã. Tomo essa refeição e saio para trabalhar. Entro no meu carro, ligo e me delicio com o barulho do motor, esse é um dos males masculinos. Estou caminhando em uma praça, vejo sangue, um corpo feminino deitado, mais uma vítima da perversão, da tara, de prazeres morbidos. Seu nome era Solange, menina morena de 12 anos, na noite anterior foi estuprada por João Campos. Ela deve ter gritado por socorro enquanto aquele senhor de quarenta anos introduzia seu pênis em sua virgindade, ela suava enquanto ele salivava de prazer, sangrava manchando o chão com seu líguido vital.
Tiro fotos, meu olhar curioso mira na desgraça alheia, naquele corpo sem vida. Crime bárbaro, cotidiano de delegacias, ganha pão de jornalistas fotográficos como eu.
Vladimir chegou em casa e pegou sua esposa Lindalva na cama com Fernando, seus corpos quentes de prazer sederam ao ruído de tiros indiscretos, o cérebro do amante se espalhou pela cama como goiaba madura decorando com sadismo e cores fortes o quarto de Vladimir. Tiro fotos, sinto cheiro de podre no ar, a imagem do casal é excitante, ver uma mulher tão bonita com orifícios sobre seus seios e barriga é interessante.
Um homem pula do vigésimo andar de seu predio, seu corpo se junta ao solo em um impacto extraordinário, pedaços de carne humana estão espalhados pela calçada, olhares famintos por desgraças fitam aquela massa biológia, suicida, sem lógica. Tiram fotos. Aquele ser que não tinha mais esperança, amor ou sentido pulou rumo ao nada, se juntou ao ar, planando rumo a morte, caindo no asfalto. Eu não posso mais sentir prazer com esse tipo de cena, agora sou apenas uma foto nas páginas de jornais, mais uma cor no arco-íris, mais um homem de vida infeliz sem nome, sem destino, sem vida.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Valsa das flores


Ainda ouço a valsa tocar, ainda vejo aquelas duas criaturas a rodar pelo salão, não acredito que possa ter passado tão rápido o tempo, ele cai como água na cachoeira e desmaterializa como espirro no ar. Pequenas lembranças vão correndo em meu cérebro como raios de luz, memórias se formam e desaparecem sem deixar recado, músicas nostalgicas ecoam em meus ouvidos e junto surge a imagem daquele casal.

Estou velho, minhas mãos enrugadas não são mais sensuais, meus velhos e reluzentes olhos verdes não encantam mais as mulheres, sou apenas uma esperiência de pernas, um oráculo desnecessário, sou um bobo-alegre triste,cheio de esperança em relação a morte, pessimista em relação a lembranças, o futuro é apenas uma palavra sem significado para mim.

Você deve se lembrar melhor do que eu, em sua mente ainda deve estar a imagem daquele casal, aquela noite foi importante, mágica, excitante! Posso não chorar mais, mas meus olhos ficam lacrimejantes ao som daquela valsa.

Abro a porta do meu quarto, o escuro do nada clareia minha memória, junto dela vem a música e sua dor que rasga meu peito e dilacera minha alma, mais forte que a fé religiosa, mais quente que o inferno é a saudade daquele casal.

Você estava linda, esse corpo enrugado e delgado era liso e cheio de curvas, nós dois nos amando e dançando aquela valsa era motivo suficiente para viver e aguentar todas as desgraças dessa existência. Você deve se lembrar, mesmo estando pedrificada nesse caixão. Minha linda. Meu amor. Minha valsa das flores.

domingo, 26 de julho de 2009

Na madrugada


A noite cai, sua frieza penetra em meus poros, seu ar de mistério e magia acelera meu coração. As ruas são túneis negros de beleza e paz, gatos no cio gritam seu prazer sobre os tetos, cirenes ecoam na madrugada. Meu carro percorre o tapete asfáltico em busca de lugares tranquilos, a lua ilumina rostos pálidos e drogados, a vida é mesmo bandida.

Sinto o gosto da morte, a noite ela está mais presente, viva... ela atormenta. Posso respirar aliviado, pois já vejo rostos marginais, viciados, bêbados, prostitutas e bares. Posso sorrrir para o inferno.

No som do meu carro vibra distorções de guitarra, é a música love hurts, ela é melancólica, combina com o meu estado masoquita. Paro e olho ao meu lado, um jovem está fumando um cigarro. Ele sorri, acho que devo ser o diabo para retirar sorrisos de demônios noturnos. Duas adolescentes me pedem chicletes, elas são sensuais, novas e tentadoras, o primeiro passo para a perdição!

Continuo na minha peregrinação automotiva rumo ao acaso, quero encontrar o que nunca procurei, mas só acho o que nunca desejei. O calor de uma boca envolve meu fruto, meu corpo num prazer oral e profundo. Sinto meu líguido inundar esse quente espaço. Me conforto em um copo de cerveja gelada em um bar horrível ao som de música sertaneja, é mesmo o caos.

O sol ainda não iluminou meus pensamentos, a noite permanesse por mais uns minutos, mas já vou embora rumo ao monótono dia, quente como larva, estúpido como uma vaca. Ele chegou. Bom dia paraíso infernal.

sábado, 25 de julho de 2009

Anos 80






















Ainda posso ver o azul da piscina, crianças pulando na água como loucas, mulheres bronzeando, homens jogando bola e bebendo cerveja. O calor da areia do campo de futebol não saiu de meus pés, o gosto do refrigerante adoça minha imaginação. Revistas eróticas, música pop, teclados e dança. Michael Jackson deslisando sobre o chão, ou dançando com mortos vivos no clip da música thriller, o performático Fred Mercury liderando a banda Queen, Cyndi Lauper com seus cabelos coloridos, são ondas que percorrem meus ouvidos, colorem minha mente, levam meu ser a nostalgia.






Roberto Carlos já tinha saido do estilo jovem guarda, sua música detalhes já era um clássico, mas derrepente surge uma música intitulada caminhoneiro e temos novamente um estrondoso sucesso romântico do rei. Caetano ainda era um artista de talento cantando seu "podres poderes", mas era o pop-rock nacional que embalava as "fm" da vida; Legião Urbana, Engenheiros do Havaí, Titãs e etc.






O maior herói do cinema dava seus pulos com chicote na mão, sim é ele, o eterno e inoxidável Indiana Jones, enquanto replicantes insubordinados eram caçados por Blade Runners ou o menino totó levava multidões ao choro no filme Cinema Paradiso.






A Guerra Fria já estava descongelando, muros eram derrubados na Alemanha, a ditadura estava derretendo ao calor de uma democracia ainda morna, mas atrevida com sua Constituição no Brasil.






Na televisão loiras animavam as manhãs e tardes de crianças e adolescentes, desenhos como Caverna do Dragão e He- Man levavam esses jovens a mundos mágicos e sobrenaturais, enlatados de ficção-científica para adolescentes era a novidade do momento, como o Jaspion, já eternizado na memória de muitos garotos. Novelas como QUE REI SOU EU e a politicamente instigante Salvador da Pátria levavam temas sobre política as casas brasileiras, é nesse contexto que temos o clássico ROQUE SANTEIRO, onde José Wilker interpreta o protagonista ao lado de Regina Duarte que dá vida a viuva Porsina, não posso deixar de mensionar o maior personagem da tv brasileira: Sinhosinho Malta.






Entre luzes fortes e exageradas, com uma arte mais preocupada com a forma do que com o conteúdo, os anos 80 são os anos mais nostálgicos do século XX, povoam o imaginário artístico de muita gente, leva a memórias desoladoras quando o assunto é economia e política, a suspiros efervescentes quando paira no ar imagens vibrantes e chocantes das festas com som eletrônico pós EMBALOS DE SÁBADO A NOITE.






A década de oitenta é apenas mais uma entre outras, mas algo de mágico leva ao êxtase, arrepios percorrem toda a pele, inesplicavelmente somos tomados por uma saldade estrondosa quando o assunto é sobre os anos...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

2001- UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO
















O som de ASSIM FALOU ZARATUSTRA invade a atmosfera da tela, a imagem de um planeta azul ilumina nossos olhos, um ar de magia e mistério está começando, é o início de uma das maiores aventuras filosóficas e enigmáticas da história do cinema, é o início do filme maior do gênio e arrogante- sem dizer perfeccionista- Stanley Kubrick, a obra que aqui me refiro é o emblemático e revolucinário 2001-UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO.





A obra prima de Kubrick tem como primeiro capítulo a origem do homem em um cenário árido e rústico, para não dizer selvagem. Macacos brigam pela comida, por fêmeas e por sua sobrevivência, animais e esqueletos, no meio desse ambiente um monolito, um enigma, um estranho no ninho. O contato do primata com esse obejeto que aparece do nada faz surgir uma mudança que é simbolizada em uma das cenas mais famosas do cinema na qual um macaco quebrando pedaços de ossos ao som da música clássica some e dá espaço a uma nave espacial no ano 2000. É um dos maiores saltos históricos, nada menos do que 10ooo anos!





Já no espaço temos um segundo capítulo onde o ser humano se depara com o monolito na lua e num terceiro momento- agora no ano 2001- onde uma nave com destino a marte é sabotada pelo computador Hall em um dos mais simbólicos embates entre homem e máquina.





Com um tom contemplativo e alternativo o filme é uma mistura de tecnologia e música clássica, uma dança rumo ao progresso, um mergulho no desconhecido, das origens da humanidade para o futuro metafísico da imagem do feto pairando na eternidade, com um jogo de luz a película dá um show de efeitos visuais. Com cenas psicodélicas como a do túnel de luz e com um final complexo, enigmático e extraordinário 2001 entra para o rol dos filmes que revolucionaram o cinema e a ficção-científica.

sábado, 18 de julho de 2009

apenas uma lembrança

Não sei por que ainda persisto com essa idéia, com esse anseio, desejo, loucura. Não sei de onde vem essa obsessão, esse calor que queima meu peito, ferve minha alma, me fere como espinho. O sangue que corre por meus poros são gotas de alívio, as lembranças de seu rosto torturas incríveis.
Tomo mais um gole daquela bebida amarga e espero sua forma se materializar em minha frente, vejo sua silueta, sinto o cheiro de seus cabelos, suas unhas raspam minha pele. O seu hálito quente penetra em minhas narinas e vai explodir em meu cérebro como uma droga. Meu quarto é palco de uma fantasmagórica cena sensual, psicodelicamente caliente para um humanamente carente ser solto no universo, preso na angústia, embebido no suor da paixão, afogado nas águas do desespero. Saudade de um tempo que não veio, lágrimas quentes e salgadas deslizam sobre meu rosto e caiem no abismo que se abre em minha frente.
A felicidade toma conta do meu ser, sua imagem paira no ar,mas depois some na escuridão do meu quarto, agora a melancolia penetra por meus orifícios até desaguar em minhas entranhas. Você derrete em minhas lembranças, é sorvete exposto aos raios solares, sua calda penetra na terra e some deixando no ar a saudade e um homem. Não tenho mais sua presença que não existia, não tenho mais sua imagem nem seu cheiro, bebo mais um pouco daquela bebida amarga e beijo sua boca nos sonhos mais lindos e loucos que minha mente desesperada pode imaginar, sonhar e matar. Seu cheiro é afrodisíaco, sua voz massageia o que há de mais profundo em mim. Não quero mais esquecer...não posso mais me livrar de você, mesmo sendo apenas uma lembrança.

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA







Visualmente épico, nostálgico, com um ar operístico, monumental. O que há de melhor no cinema foi feito por Sergio Leone, o que há de mais sofisticado no diretor foi eternizado nessa obra fantástica e emocionante chamada ERA UMA VEZ NA AMÉRICA. Com um controle fenomenal sobre o tempo o diretor constroi cenas poéticas e emocionantes, tornando essa obra um show de violência, lágrimas, memórias e romances; mas acima de tudo uma expressão da alma humana.



Era Uma Vez na América conta a história de um grupo de amigos criminosos em três épocas distintas, a adolescencia, a vida adulta e velhice. Nessa ópera cinematográfica temos como protagonista o sério e violento Noodles vivido pelo ator prefirido do Scorsese, o magnífico Robert de Niro, que nessa película dá um show de interpretação! Noodles após perder os amigos é perseguido por um grupo de criminosos com a suspeita de ter traído seus companheiros, ele foge sem conseguir levar o dinheiro economizado durante sua vida criminosa, já velho ele volta para sua cidade após receber uma carta com uma proposta de um último serviço e é a partir daí que vemos em flashback a sua juventude e vida adulta, sua amizade com Max ( James Woods) ,seu amor quase platônico por Deborah- amor esse que beira a obsessão e rende uma cena de violência sexual.



Essa obra prima do cinema é um épico sobre a máfia, sobre a amizade e sobre homens violentos, porém humanos, com seus anseios, cobiças e desejos. A trilha sonora do mestre Ennio Morricone é um fator essencial no filme, é ela que dá o tom monumental a obra em cenas como a da emboscada aos jovens criminosos que acaba levando a morte um deles, ou a cena do jovem comendo o doce nas escadas do prédio.



Com um enquadramento que é só dele o diretor consegue nos levar ao extase visual em cenas como a da troca de bebês, ou criar um tom de suspense, aflição e espectativa.



Um filme obrigatório, uma obra monumental de um dos maiores e geniais diretores de todos os tempos, um exemplo de como tornar uma expressão artística sobre violência e sangue em poesia e beleza.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PEDALADAS




Pedaladas, movimento, asfalto deslisando sob meus pés. Minha bicicleta dança a valsa das flores entre os carros, meu suor cai em minha face quente e vermelha, meus pensamentos se dividem entre o percurso e minhas angústias hodiernas, o tapete asfáltico me leva até o infinito, perto do fim. A música de gritos e freiadas percorre meu ouvido, imagens de sangue e desgraça se materializa em minha frente. É só mais um acidente insignificante, mais um corpo sem vida, mais sangue jorrando no chão.


Estou virando a esquina, tenho a memória curta, já não me lembro do sangue, dos gritos e da mini-saia com cabelos loiros que observava curiosa o teatro no meio da rua. Em minha mente sádica e desocupada brotavam flores de desespero, corro, a ansiedade toma conta de todo o meu ser, mas não tenho para onde ir, não tenho destino. Me acalmo então, deixo a bicicleta ir mais devagar, meus pensamentos se fixam no nada, meus sonhos se adoçam, meu humor diabético se emburrece. Já não tenho mais força para pedalar. Paro. Penso. Já não existo, apenas penso, penso, penso...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

HISTÓRIA: CIÊNCIA E POLÍTICA

Em uma conversa regada a cerveja, sorrisos e nostalgia veio a tona uma velha e conhecida polêmica entre os historiadores: A HISTÓRIA é ciência ou arte? Na discução ficou "provado", ou pelo menos era o mais provável, que a história é uma ciência; como diria Rusen, ciência é método e, como a história se utiliza de uma metodologia ela é uma ciência.
Apesar da conversa ter se iniciado com tal polêmica foi em outro ponto que nos prendemos mais, o papel político do historiador e de sua narrativa histórica. A questão estava relacionada com o caráter ético-político e do papel revolucionário do cientista marxista, este não só construia conhecimento, mas também tinha uma missão política e um dever revolucionário. Já o historiador dito "pós-moderno" não tem um engajamento político, sua narrativa é apenas mais um produto científico ou cultural sem uma proposta politica. Vamos lá, nunca tinha ouvido falar que para uma pesquisa científica ter relevância deveria "obrigatoriamente" ter uma proposta política, já imaginou uma pesquisa sobre DNA com objetivos políticos de luta de classes, ou de caráter liberal? Poderíamos argumentar que as ciências humanas são diferentes das biológicas e exatas, não temos simplesmente que analisar, mas sim compreender, a história é uma ciência de caráter hermenêutica e com uma narrativa que visa o entendimento das intensõs humanas, mesmo assim não vejo o descrédito dela por não ser "obrigada" a ter uma proposta política.
Se tudo o que formos fazer estiver que estar ligado a programas políticos estaremos limitando o conhecimento e a imaginação humana, concordo com a importância de uma politização de todo o saber humano, não nego a possibilidade de mudanças, mesmo que não sejam tão radicias, porém não posso condicionar tudo a visões políticas, a reducionismos ou simples produtos de propaganda ideológica.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Não tire seus olhos dos meus


Não pare, continue percorrendo esses olhos gulosos sobre o meu corpo magro e sedento de prazer, não pare de fitar meus olhos verdes alegria com suas órbitas estelares, bolas de sedução, olhos de perdição. Não diga que não me deseja, que não me quer, diga apenas palavras maliciosas, sacanagens gostosas, palavras de amor sem entonação, paixões verborrágicas, corpos falantes, língua suave.

Não tire seu olhoar do meu, não me ignore, finja que sente atração, tesão, paixão, finja não sentir dor, abra-se como uma flor e se entregue ao prazer.

Sim. Não diga sim a melancolia que desliza sobre seu rosto, grite ao silêncio sua angústia, sua decepção com os homens lindos, príncipes góticos, contos doces de terror, romances sem amor, abra seu coração aos sonhos escondidos.

Não desligue a energia cósmica que rola entre nós. Sei que não quer admitir, mas não se desespere, terei paciência.

Não pare, continue deslizando sobre meu peito essa suave e quente língua, sugue minha pele, morda minha carne, coma o meu fruto, mergulhe no pecado e salve sua alma da solidão.

Terei paciência. Amor. Desejo. Não se iluda, não te amo, mas isso é ululante e o óbvio não dá prazer. Feche os olhos e deixe seu corpo amar o meu. Você sonha com outros homens, mas é no calor das minhas entranhas que você aquece seus desejos.