sábado, 19 de setembro de 2009

QUADROS IMPROVÁVEIS


o calor estava infernal, o ventilador do meu quarto parecia um dragão cuspindo fogo com seu ar quente, com suas labaredas vermelhas. O suor escorria pela minha pele, salgada como lágrima o líquido percorria meu revestimento biológico desidratando meu corpo, umidecendo minha visão. A chuva veio e com ela a esperança de dias mais frescos, mas o que se sucedeu foram dias mais quentes, a água que descia do buraco negro e sombrio não aquietou minha alma, não trouxe mais alívio para esse ser que caminha pelo mundo em busca de nada.

O azul voltou a encobrir nossas cabeças, moscas, roupas curtas, sorvetes e línguas de fogo continuavam a me lamber. Num cômodo abafado e sem ventilação começo a pensar sobre o que pensar, falta imaginação nessas mentes humanas, falta tesão na vida, falta comida nas mesas de algumas famílias. A morte prematura, a fome, o sofrimento humano de uma forma geral veio até minha imaginação, molhou minhas idéias com cachoeiras de indignação, me lembrei do meu passado socialista.

A falta de sentido na vida não conseguiu aliviar a dor moral que percorria meus nervos, tanta coisa passou pela tela dos meus pensamentos, amores perdidos, leituras distorcidas, brigas infantis, mas era a desgraça, a tragédia da vida que tomava de assalto minhas mais profundas reflexões.

O que fazer para mudar a vida de milhões de pessoas que passam fome, que não tem emprego, que estão a mercê de traficantes, ditadores e governos bêbados? Chorar não adianta, sonhar com utupias e mundos fantasmagóricos tabém não; pedir ajuda a divindades nd além é loucura, acreditar que a população irá acordar do sono alienatório e irá participar anergicamente das tomadas de decisões políticas é um pouco ilusório.

Eu sozinho não irei fazer um novo mundo, não consigo nem mudar minha vida, não consigo colocar nos trilhos o trem que carrega minhas espectativas, como poderei dar um novo sopro de vida nesse moribundo mundo?

A esperança já cansou de esperar, o carro não chegou, a transformação não alcansou os desgraçados, os humilhados, os sem amanhã. Eu continuo acreditando no ser humano e na sua incrível capacidade de destruição, má distribuição e dominação.

Vou ser um pouco egoista e mesquinho enquanto corro atrás de alguns sonhos pessoais, prazeres individuais, beijos molhados, leituras transcendentais, oportunidades materias, mas não abandonarei esses sonhos tão coloridos de uma humanidade mais feliz e saudável, bem alimentada e em paz, mesmo que seja apenas um sonho, não faz mal mentir um pouco para nós mesmos, alimentar espectativas impossíveis, pintar quadros improváveis.

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