sábado, 28 de março de 2009

fim das utopias


Ainda me lembro da época em que perdia noites de sono pensando em uma maneira de acabar com as desigualdades do mundo, uma vez quase chorei ao pensar na vida dura e desumana dos catadores de papel. Realmente não é fácil conviver com as amarguras do mundo!

Na época da facu (pelo menos nos dois primeiros anos) andava com livros de Marx debaixo do braço e bebia vodka pura, eu era um aprendiz de intelectual revolucionário. Eu era romântico, acreditava na revolução, no fim do capitalismo, da injustiça e com a vitória do proletariado- e consequentemente da humanidade- sobre a burguesia e seu IMPÉRIO DO CAPITAL. Mas um dia a criança cresce e começa a enchergar o mundo com outros olhos, ela sai da matrix, deixa para trás fantasias e sonhos coloridos como paraísos, papai Noel, evolucionismos, comunismos... é ai que vem um certo desencanto e frustração. O sonho acabou.

É triste viver sem sonhos, na verdade não vivemos sem eles, inventamos outros, algumas vezez revivemos a nostalgia dos sonhos passados, mas sempre com a consciência que a magia é apenas estética e artística e não mais "mágica" no sentido espiritual, mitológica ou religiosa.

Quando nascemos o mundo já existia, suas contradições, sua forma caótica e irregular, não somos nós com discursos filosóficos ou ações para-militares que iremos mudá-lo. Sem essa possibilidade dinâmica de revolução parece que só nos sobra a dura e cruel possibilidade conservadora de nos conformarmos com todas as desgraças mundanas. É uma questão complicada e sensível de se tratar, pois de um lado temos uma visão romântica e desacreditada de mudança radical das estruras socioeconômicas, de outro temos a visão trágica de estarmos condenados as desigualdades e infelicidades, como Prometeu acorrentado no auto de uma montanha nosso fígado é devorado pelo abutre retrógado do sistema.

Continuar acreditando em mágica e soluções revolucinárias como a dos anarquistas e marxistas é um pouco infantil para os dias de hoje pós queda do muro de Berlim, mas não abrir nenhuma possibilidade para mudanças e ficar idolatrando o sistema -seja ele qual for- é uma posição desconfortante. Não devemos cruzar os braços só por que o socialismo ideal não dá certo, ou por que sabemos que o paraíso cristão é uma mitologia fora do contexto, devemos sim lutar por mudanças, seja na educação, na cultura, no modo de ver o mundo, nas relações de trabalho ou de gênero, o que não podemos é ficar com utopias enquanto o mundo possível está em nossas mãos.

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