sábado, 30 de maio de 2015

DIREITOS SEM HUMANOS



         O liberalismo com seu espírito iluminista nos coloca uma dádiva como manjar, como alimento quase espiritual, o respeito a igualdade perante a lei e a liberdade, como são belas essas ideias libertárias que colocam ricos, pobres e miseráveis em pé de igualdade frente a justiça burguesa, porém, quando vamos olhar o respeito as diferenças e a diminuição da desigualdade sócio econômica vemos que esse paraíso liberal está cheio de labaredas infernais, dentro desse caldeirão fumegante os direitos humanos são desumanizados e vemos como são feitos de nuvens certas ideias tão defendidas e aplaudidas nas ribaltas intelectuais e ideológicas.
            As desigualdades sócio econômicas são camufladas em nome de uma igualdade jurídica e de uma liberdade política, mas como igualar desiguais e como ser livre quando se está preso na estrutura de exploração do capital? Não vou aqui vomitar palavras esquerdistas e sonhos utópicos marxistas, mas olhar apenas um lado da moeda é se esquecer que a vida social é mais complexa do que é pregadas nas igrejas ideológicas dominantes, sejam elas as mais conservadoras liberais ou mesmo algumas chamadas de esquerda no mundo acadêmico. O mundo vai além da bipolaridade capitalismo socialismo.
            Falar em direitos humanos é falar em direitos universais que transcendem fronteiras de pátrias e nações, o ser humano ser respeitado em qualquer parte do planeta pelo simples fato de SER HUMANO é algo até hoje subversivo, direitos como alimentação, habitação, liberdade de expressão, dignidade humana, são coisas ainda a se lutar, e a labuta nesse sentido não é fácil. Não tem como pensar democracia sem pensar em cidadania, não tem como pensar cidadania sem direitos humanos e direitos humanos sem o mínimo de condição sócio econômica fica inviável, logo, apenas igualdade jurídica e liberdade política não são suficientes para contemplarmos uma pessoa com seus direitos ditos humanos.
            Uma das primeiras barreiras que encontramos são as próprias cidades onde moram a maioria das pessoas, pelo menos no Brasil, pois essas são excludentes, varrem para as periferias sem estrutura, sem água tratada, pavimentação, segurança e educação o lixo da sociedade, o lixo analfabeto, o lixo negro, o lixo desempregado, logo acumula nas bordas da cidade um lixão humano sem educação, sem condição econômica, sem dignidade, nesse lixão cresce a falta de dignidade e a falta de direitos mínimo e humanos, cresce ai o monstro da violência, assaltantes, latrocidas, jovens drogados, jovens violentos que brigam em torcidas organizas, ai cresce o que a sociedade quer combater com a força punitiva do Estado, a polícia, o antibiótico contra a doença criada pela desigualdade social.
            Não há democracia sem participação popular, como participar sem tempo para debater, sem estudo para compreender, sem dignidade para poder se ver como cidadão, como membro político da polis? A desigualdade e a exploração do trabalho e o desemprego criam pessoas cansadas pela labuta ordinária e desumana, alienadas pela falta de conhecimento acadêmico, pela falta de vontade política, os direitos humanos são esquecidos dentro dos lixões humanos criados pela falta de respeito e compromisso com o outro. Isso vai além do capitalismo, mas como o atual sistema que colabora e amplia essa desigualdade é o capitalismo será ele o sistema nocauteado pelas críticas aqui urdidas nesse texto.
            Não criemos ilusões com sistemas totalitários como os fascismos, nazismos e comunismos, eles não só não diminuíram as desigualdades e ignorância humana como ampliaram o Estado Leviatã que  engole os direitos e a humanidade e torna a razão irracional, a modernidade com sua ciência sem afeto, nossa cultura masculina e machista com seu falocentrismo também colaboram para a falta de direitos humanos, falta lutarmos por menos desigualdades e por mais afeto na política, no direito, na sociedade como um todo.
            Não há como haver direitos iguais quando não se tem respeito a individualidade e enquanto não se diminua a desigualdade social e econômica, vamos apenas ver crescer a rosa de Hiroshima, atômica, desumana e irracional, veremos apenas perpetuar a falta de dignidade de ônibus lotados, pessoas sem educação, sem comida, veremos o cogumelo atômico de violência engolir os pobres da periferia e ceifar a classe média e a alta burguesia em seus castelos encantados. Sem direitos humanos, sem dignidade, cidadania e uma democracia forte seremos varridos para a periferia do humano e apodrecer na latrina da falta de direito.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Mad Max E O Caos Educacional

  Nostalgia é algo traiçoeiro, nos aperta, afaga, constrange e dá esperança, no fim a agonia é tremenda, caminho rumo a sala de cinema, já vou imaginados se o que vou ver na tela é algo que me remeta a surreal e longínqua infância ou que derrube os castelos de areia de minha memoria imaginativa. Uma tela com uma fotografia agradável, loucura, correria, muita ação e pouca história, onde está o roteiro, onde está a construção dos personagens, onde está Max? Perguntas, questionamentos vão dilacerando minha mente que trabalha freneticamente, no ritmo do filme na tela. Mad Max-Estrada da Fúria decepciona por faltar vida, construção de personagens, trama e roteiro, é apenas imagens bonitas e cenas de ação, cinema de sensação como diria o critico de cinema Lisandro Nogueira, ou vídeo game cinematográfico, como gosto de chamar por falta de termo melhor. Mad Max é uma franquia, ou série cinematográfica que tem início em 1979 na Austrália, traz uma visão pós-apocalíptica do mundo e tem como protagonista um patrulheiro da polícia em um mundo decadente que irá enlouquecer após a perda de sua família e irá mergulhar no deserto de caos, destruição e falta de humanidade. A trilogia original é clássica e o primeiro filme é um dos maiores cult's da história do cinema com sua distopia violenta,seu ar alternativo que nos faz pensar qual é o mundo que estamos construindo, ou mesmo destruindo.
   O mundo moderno com o iluminismo nos legou uma cultura de otimismo político, o cristianismo, religião predominante no ocidente é uma religião otimista quanto ao futuro de redenção e prega a esperança, essa possibilidade positiva sobre o futuro, no meio desse romantismo piegas ideológico político há as divergências sobre o futuro imagens de pessimismo e distopia enchem a imaginação dos seres humanos, no cinema e literatura de ficção científica é rica a produção nessa perspectiva, Mad Max é um bom exemplo, sempre que imagino Max, o protagonista, mergulhando no deserto de barbárie e falta de perspectiva penso ele como metáfora do ser humano pós moderno caminhando para o nada, mas recentemente sua imagem brilhou  em minha consciência turva como algo que represente  o deserto educacional, pois a educação no Brasil, vem passando por uma onda de barbárie, desprestígio e, diria mesmo, de loucura jamais vista por esse autor amador que aqui escreve. Nesse ano que ainda corre como cachorro enraivecido tivemos a notícia de movimentos de professores por melhorias de estrutura, salário e lutando contra o ataque neoliberal de governantes famintos com projetos excêntricos que retiram benefícios dos servidores públicos. Dentre esses movimentos grevistas destaco o dos professores municipais de Goiânia e os estaduais do Paraná. Os dois movimentos citados aqui foram brutalmente reprimidos pelas forças policiais ostensivas municipais e estaduais , professores que trabalham com instrução, construção de conhecimento e formação de seres humanos foram brutalmente desumanizados e constrangidos pelas forças repressoras. Agora eu pergunto, como não comparar a educação sem estrutura, sem salário digno, sem humanidade e alvo do gladio do Estado com o deserto caótico de Mad Max?
    Os cristãos criaram o paraíso, os marxista a utopia da sociedade sem classes, todos os seres humanos já sonharam alguma vez em sua vida com um mundo lindo e encantado, sem sofrimento, sem exploração, sem desgraças como as desventuras da fome, estupros, ou dívidas bancárias, mas o mundo de carne e osso não é feito de paraísos ou sociedades alternativas, é feito de contradições, conflitos, lutas e sangue, mas também de amor, tesão, compreensão, é isso que talvez falte, compreensão, mas também sensibilidade, falta discussões filosóficas, arte, humanidade no sentido acadêmico, político e existencial, com isso afirmo que falta educação e no lugar dela está crescendo um deserto distópico, apocalíptico e nossos governantes apoiados pelo silêncio da população colaboram com maestria para essa desertificação. Não há sociedade mais igualitária, fraterna, com direitos humanos e menos violenta sem investimento social, político e cultural na e pela educação, enquanto não mudarmos esse quadro continuaremos como Max, caminhando para dentro do caos sem humanidade.

domingo, 8 de março de 2015

DIAS DAS MULHERES, POUCO A COMEMORAR, MAS MUITA POESIA.



Falar sobre o dia internacional das mulheres nos condiciona a tecer elogios eloquentes, a poetizar com lirismo cintilante, efervescente, somos jogados no turbilhão de léxicos emotivos, construções contundentes que enfatizam a luta épica das sensíveis moradoras de nossa terrena bolha azul, mas é difícil apenas deslumbrar o leitor com pomposas construções literárias ou melodramáticas narrativas sem mencionar “dissertativamente” os ocasos e acasos, os eclipses que obstaculizam uma maior liberdade e igualdade entre os sexos.
Todo dia é dia de mulher, mulheres, mas nem todo dia é dia de comemorar, de refletir, de colocar em pauta a questão do gênero, de elogiar, as datas tem essa função, colocar em pauta o que nos dias rotineiros são esquecidos. Falar em dia das mulheres é falar das recentes declarações de atrizes americanas sobre a desigualdade entre elas e os atores do sexo masculinos (em pleno 2015!), é falar das notícias de jornais que ainda colocam as mulheres ganhando cerca de 27% a menos que os homens, mesmo tendo nível de escolaridade mais alta e já dividindo ao meio o mercado de trabalho, falar nessa data é colocar explicitamente o implícito preconceito, a discriminação sub-reptícia que assola corações e mentes, o machismo não é uma palavra sobre seres primitivos, resquícios arqueológicos, mas sobre homens que ainda resistem com sua mentalidade forjada historicamente nos longínquos sítios de formação de nossas sociedades de classes, masculinas, guerreiras e dominadas pelas elites com propriedades privadas.  Mas e a poesia?
A nossa sociedade pós guerra mundial abriu mais portas para as  mulheres no ocidente do que em épocas anteriores, a saída das mulheres para trabalharem nas fábricas durante a guerra, o acesso ao ensino universitário, mudanças de mentalidade e novas formas tomadas pelo capitalismo, movimentos de “minorias” como gays, negros e o feminismo, contribuíram no século XX e início do XXI para uma maior e melhor participação feminina na sociedade de mercado, o mundo pós moderno tende a ser menos fechado para as mulheres com suas leis como a brasileira “Maria da Penha” que garante juridicamente uma pequena segurança aliada as delegacias de especializadas de atendimento a mulher, uma mentalidade  menos tradicional e provinciana nos grandes centros urbanos também colaboram para uma cultura menos machista, porém tudo isso ainda é pouco, são ganhos parciais, a poesia ainda é muito melancólica.

Apesar de todos os problemas ainda podemos comemorar os pequenos, mas significativos ganhos pelas e para as mulheres, podemos ousadamente também banharmos em palavras calorosas, em soberbas e magnificentes elogios ao sexo forte e meigo ao mesmo tempo, com suas vitórias estrondosas que ainda precisam ser mais grandiosas, com sua artilharia mortífera com elegância e estilo, ainda há espaço para a poesia, mesmo tendo que jogar no ventilador todo material putrefato das latrinas de nossa sociedade machista. Feliz dias das mulheres e que isso não seja subterfúgio para estacionarem na vida e verem a morte chegar preguiçosamente.

terça-feira, 3 de março de 2015

MANIFESTAÇÕES, DEMOCRACIA E SEXO ORAL.



Sempre que vejo manifestações e protestos contra o governo me vem lembranças nostálgicas de obras de arte e momentos históricos eternizados em narrativas literárias e películas memoráveis. Temos o impulso de ficarmos do lado da população protestante, não confundir com evangélicos, pelo motivo de vermos sempre o Estado como Leviatã, vilão, explorador e devorados de corpos de cidadãos mais miseráveis, com menos poder político e mais ignorantes, mas temos as pessoas que também tem o impulso contrário, geralmente tidas como conservadoras essas pessoas geralmente incriminam as manifestações colocando elas apenas como desnecessárias, palanque para demagogia e locomotiva para vandalismos e crimes dos mais variados tipos.
Quando adolescente tive o prazer de ler na biblioteca do colégio estadual Bandeirantes, em Goiânia, a volumosa, épica e descomunal obra literária do romântico francês Victor Hugo intitulado OS MISERÁVEIS, livro que narra a saga de Jean Valjean, Cosette e Marius. Não vou me estender aqui na obra, sumariamente posso dizer que ela conta a história de Valjean, um condenado a trabalho forçado por ter roubado pão e nos leva aos desdobramentos de sua riqueza, seu acossamento pelo inspetor Javert, a exploração infantil da órfão Cosette e sua libertação pelas mãos do agora rico, porém ainda perseguido, Valjean. Mas o momento que mais nos interessa aqui é quando estoura os movimentos revolucionários na França de 1830, a contestação política leva a insurreição da população parisiense e formação das famigeradas barricadas de Paris, onde se deu o confronto entre civis e forças repressoras do Estado, utilizando um jargão weberiano e utilizado com tom pejorativo pelos marxistas. As barricadas mostram a luta por direitos políticos, contestação política, insatisfação popular e a repressão do Estado, vendo com uma certa distância somos tomados por um ideal romântico de apoio a aqueles insubordinados, miseráveis e “nacionalistas”, porém eu me pergunto, e pergunto a você leitor que ousa a metralhar com seus olhos ansiosos e gulosos por novidade, se olharmos para nossas manifestações mais recentes, manifestações contra a copa do mundo, contra o aumento da passagem de ônibus por exemplo, com seus tumultos, vandalismos, abusos por parte do Estado, depredações, não estaríamos vendo um movimento com características parecidas com a do livro do velho Hugo?
Quando falamos das manifestações atuais no Brasil somos tomados logo de início por duas opiniões bem contrárias e com defensores apaixonados, de um lado pessoas que defendem inexoravelmente as manifestações como bandeiras democráticas e constitucionais, como direitos inalienáveis e fundamentais de uma democracia, essas pessoas também são contra qualquer tipo de criminalização ou críticas as manifestações democráticas, justas e necessárias. Por outro lado, como num maniqueísmo religioso, temo os de opinião de que as manifestações são extremante criminosas, antidemocráticas e que servem apenas como subterfúgios para as explosões de bombas de vandalismo, locomotiva para vagões de marginalidade, crime e desordem. Entre os dois lado extremistas há a corrente dita de bom senso, ou que pelos tenta ser, ela vê a efervescência dos movimentos populares sociais e políticos com bons olhos, a priori, pois são manifestações do descontentamento dos cidadãos com mazelas, desmandos e abusos  advindos ou promovidos pelo Estado com sua ação ou omissão, mas essa vertente também vê o lado criminoso, não das manifestações em si, mas de alguns indivíduos, ou grupos, infiltrados nas manifestações com intuito de promover balburdia, vandalismo e demais crimes.
É difícil fechar os olhos para ônibus depredados, lojas saqueadas, policiais e jornalistas  feridos, incluído nessa lista uma morte de um cinegrafista da rede Bandeirantes, de outro lado não podemos negar o direito constitucional, social e político d liberdade de expressão, manifestação que a democracia, mesmo com toda as suas limitações e infortúnios, promove e nos garante, daí vem a angustia existencial e fenomenológica sartreana da liberdade em tomar partido, em deliberar, o “ser ou não ser” do Hamlet shakespeariano, incriminar ou apoiar tal ação, atitude e vontade? Olhar apenas os abusos do Estado, olhar apenas os crimes de uma minoria, dar voz aos anseios populares em forma de protesto em manifestações, coibir tais atos?
O excesso de interrogação acima é coerente com o excesso de extremismos de ambas as perspectivas aqui analisadas, compreender a caótica realidade é nossa intenção quase hercúlea de dar uma ordem cósmica em nossa consciência a essa realidade que, em si, nos escapa e é desorganiza, mostra como é grandiosa a ação de pensar e tentar agir politicamente em um mundo cada vez mais apático politicamente. O texto aqui não traz soluções, não traz salvação e nem o passo a passo para a felicidade, pois não é um livro religioso, de auto ajuda ou panfletário, é apenas um cuspe quase literário de uma mente condicionada pelo “sociologismo” de redes sociais, por memória nostálgica de leituras literárias e por um gosto pelo debate na vida pública que vai além do sexo oral no Big Brother da rede globo ou fofocas da revista Caras.