domingo, 8 de março de 2015

DIAS DAS MULHERES, POUCO A COMEMORAR, MAS MUITA POESIA.



Falar sobre o dia internacional das mulheres nos condiciona a tecer elogios eloquentes, a poetizar com lirismo cintilante, efervescente, somos jogados no turbilhão de léxicos emotivos, construções contundentes que enfatizam a luta épica das sensíveis moradoras de nossa terrena bolha azul, mas é difícil apenas deslumbrar o leitor com pomposas construções literárias ou melodramáticas narrativas sem mencionar “dissertativamente” os ocasos e acasos, os eclipses que obstaculizam uma maior liberdade e igualdade entre os sexos.
Todo dia é dia de mulher, mulheres, mas nem todo dia é dia de comemorar, de refletir, de colocar em pauta a questão do gênero, de elogiar, as datas tem essa função, colocar em pauta o que nos dias rotineiros são esquecidos. Falar em dia das mulheres é falar das recentes declarações de atrizes americanas sobre a desigualdade entre elas e os atores do sexo masculinos (em pleno 2015!), é falar das notícias de jornais que ainda colocam as mulheres ganhando cerca de 27% a menos que os homens, mesmo tendo nível de escolaridade mais alta e já dividindo ao meio o mercado de trabalho, falar nessa data é colocar explicitamente o implícito preconceito, a discriminação sub-reptícia que assola corações e mentes, o machismo não é uma palavra sobre seres primitivos, resquícios arqueológicos, mas sobre homens que ainda resistem com sua mentalidade forjada historicamente nos longínquos sítios de formação de nossas sociedades de classes, masculinas, guerreiras e dominadas pelas elites com propriedades privadas.  Mas e a poesia?
A nossa sociedade pós guerra mundial abriu mais portas para as  mulheres no ocidente do que em épocas anteriores, a saída das mulheres para trabalharem nas fábricas durante a guerra, o acesso ao ensino universitário, mudanças de mentalidade e novas formas tomadas pelo capitalismo, movimentos de “minorias” como gays, negros e o feminismo, contribuíram no século XX e início do XXI para uma maior e melhor participação feminina na sociedade de mercado, o mundo pós moderno tende a ser menos fechado para as mulheres com suas leis como a brasileira “Maria da Penha” que garante juridicamente uma pequena segurança aliada as delegacias de especializadas de atendimento a mulher, uma mentalidade  menos tradicional e provinciana nos grandes centros urbanos também colaboram para uma cultura menos machista, porém tudo isso ainda é pouco, são ganhos parciais, a poesia ainda é muito melancólica.

Apesar de todos os problemas ainda podemos comemorar os pequenos, mas significativos ganhos pelas e para as mulheres, podemos ousadamente também banharmos em palavras calorosas, em soberbas e magnificentes elogios ao sexo forte e meigo ao mesmo tempo, com suas vitórias estrondosas que ainda precisam ser mais grandiosas, com sua artilharia mortífera com elegância e estilo, ainda há espaço para a poesia, mesmo tendo que jogar no ventilador todo material putrefato das latrinas de nossa sociedade machista. Feliz dias das mulheres e que isso não seja subterfúgio para estacionarem na vida e verem a morte chegar preguiçosamente.

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