A
enxurrada desgovernada de ideais descem liquefeitas pelas ladeiras da
alma, como em dia de chuvas torrenciais o volume incomensurável de
ideias caiem pelos becos escuros, sujos e distantes da mente, essas
mesmas ideias são sugadas por ralos imaginários e deságuam em
mares desconhecidos.
Quando escrevemos vemos muitas coisas parecidas
com isso, muitos insights são
obnubilados de repente, na esquina o carro do raciocínio derrapa e
batemos no muro da falta inspiração deixando a respiração
ofegante.
Falar do que é justo é difícil como escrever, boas ideias são
esmurradas por punhos da realidade, boas iniciativas são
descaracterizadas por colocarem em perigo status quo; opiniões
diferente agressivamente varrem com a vassoura da falta de
compreensão, opiniões contrárias em relação ao que é justo ou
injusto. Se falar de justiça no modo genérico é complexo, no modo
específico da segurança pública não é diferente.
Pena
de morte é uma das polêmicas na segurança pública, muitas pessoas
acham válido ceifar vidas de pessoas criminosas, outras acham
desproporcional e desarrazoado; assim como a pena de morte temos
outras questões polêmicas, dentre elas destaco os linchamentos.
Muitas pessoas são a favor de linchar criminosos, nos últimos anos
recrudesceu o número de linchamentos no Brasil, esse ato aconteceu
para os mais variados tipos de crime como furto, roubo e estupro, no
meio dessa festa mórbida sobrou até para pessoas “inocentes”
que eram suspeitas de atos ilícitos.
No
mundo carcerário também temos valorações de tipos criminais, tem
aquelas condutas que não são aceitas, como por exemplo, agressão a
mulheres, estupro, pedofilia. Há os crimes mainstream e os
underground; roubar, matar, traficar, furtar são atos aceitáveis
pelo mundo criminoso, mas agredir mulheres e estuprar não pode, isso
é cruel, abominável, coisa de “marginal”.
Dentro
dos antros carcerários desse país ouvimos histórias de estupros e
espancamentos de homens acusados de abusar sexualmente de crianças,
de baterem em mulheres, idosos. Mesmo no mundo da criminalidade há o
que é visto como justo e injusto pelos detentos nas cadeias e
penitenciárias, como no filme O Poderoso Chefão
há uma axiologia da justiça, como também um código de éticas
subterrâneo e paralelo ao
kantismo, aristotélico e utilitarista; Dom Corleone não manda matar
os homens que espancaram e estupraram a filha do dono da funerária,
pois eles não a mataram, seria injusto, ele faz o mesmo que eles
fizeram com ela.
Todos
nós temos uma opinião formada sobre justiça em relação a
segurança pública, mas não podemos deixar que nossas paixões
sejam guias cegas de nossas ações, pois dessa forma faremos o mesmo
que os criminosos fazem com sua ética e senso de justiça paralela;
temos que colocar a vontade acima dos desejos, e as paixões para
dialogarem com a razão, sem abandoná-las em troca de uma razão
mecanicista e sem coração.