O gelo parece
eterno, ele desagua e inunda as esperanças, tentamos enxugar as águas gélidas
que escorrem pelas frestas dos dedos, desesperadamente, mas não obtemos êxito,
mesmo sendo excepcionais enxugadores de gelo.
A polícia é
uma ótima enxugadora de gelo, como se diz popularmente por aí, pois ela não vai
ás raízes dos problemas, fica na superfície, para não dizer nas consequências, pois
ao combater o crime não estamos combatendo os problemas, entretanto, estamos
combatendo as consequências dos problemas.
Ao ver o crime
como problema primeiro caímos no engano de estarmos resolvendo as mazelas da sociedade
no que se refere a segurança pública; não é em vão que policiais se frustram ao
lutarem contra a criminalidade e não verem muito resultado nisso.
No campo dos discursos
temos uma guerra verbal em torno das soluções viáveis na área de segurança
pública, e muitas vezes as soluções dos governos são policialescas, já que não
deram conta, pelos mais variados motivos, de equacionar os problemas sociais,
socioeconômicos, educacionais etc. Com isso tratam o social de forma criminal.
Nesse contexto quem é contrário a essas ações faz duras críticas as ações
policiais, que por sua vez, fazem críticas aos “utópicos” acadêmicos com seus
projetos a longo prazo.
O gelo está
derretendo, o calor que emana da indiferença com as desigualdades, com a má
escolaridade, falta de cidadania na forma mais ampla da palavra, tudo isso
derrete o cubo gélido, temos que enxugá-lo para não afogarmos nas águas violentas
da criminalidade. A curto prazo não tem como parar a máquina policial, ela é o
suporte entre a civilização bárbara e a criminalidade civilizada. Porém, se a
longo prazo não tomarmos medidas mais democráticas de participação
autogestionária, com distribuição mais justa de renda, com escolaridade de
qualidade, e para todos, talvez não tenhamos nem força policial mais que dê
conta do recado; vamos naufragar nessas águas mortíferas que se liquefazem no
calor a partir do gelo que enxugamos eternamente, com os serviços da polícia
que não deixa a população se afogar, mas não contribui para o fim desse cubo
gélido dentro da sala, que derrete e sempre se refaz, recrudesce e não para
jamais.
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