quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Sujeira e Vidraça

    As paredes sujas, os olhares imundos de pessoas com corpos cheios de lodo, rastejando por putrefatos detritos orgânicos, ferros enferrujados, pisos encardidos, vidas sem brilho. De repente um barulho, nada higiênico ou salutar, apenas um barulho de vômito, palavras sem nexo são expelidas enquanto comida mal digerido é regurgitada nos ouvidos de pessoas crentes em metafísicas e partidos políticos.

    As ruas são becos sem saída, por onde andamos nos perdemos, e nos perdendo nos encontramos em meio a papéis usados, pessoas famintas, marginais loucos, depressões na epiderme que recobrem os espíritos desgraçados; são esses humanos rotos, moribundos e sem banho que passeiam pelas ruas degradas, por essa cidade em pedaços, que diluem sonhos e conspurca nossos porcos corpos já fétidos.
    Uma mosca gigante sobrevoa uma massa gigante de fezes, esse produto que foi expelido por milhares de corpos e está em decomposição na praça central da cidade atrai ratos e todos seres rastejantes, e alados, que saboreiam esse nojento manjar; do outro lado da praça uma vidraça separatista, higienizadora separa esses animalescos seres imundos das pessoas bem nutridas, limpas, vestidas com roupas sedosas, perfumadas, essas pessoas tão ilustres olham com nojo para os seres humanos animalizados e jogados nesse lixão urbano.
    Reza a lenda que um dia a maioria das pessoas foram parecidas com essa minoria isolado dentro da bolha de vidro, que observa de longe a degradação social, moral e corporal dos indivíduos presos no grande lixão humano. O que teria levado o mundo a ficar desse jeito? Muitos se perguntavam, mas a imensa maioria não pensava nisso, o mundo sempre foi assim e sempre será, uns aproveitando a sorte de estar dentro do vidro em um mundo de riquezas, bem estar, e outros se chafurdando nesse chiqueiro. Talvez alguns sejam burros, cegos, ou não querem aceitar a verdade, mas o mundo nem sempre foi assim, ele já foi diferente, e poderia, ou poderá ser também diferente.
    As eleições se aproximam, pessoas brigam para votar no melhor candidato, engraçado, o melhor, ou pior, candidato não vive fora da redoma de vidro, não respira a sujeira, não bebe água ácida, não tem a pele lambida pelo câncer, por parasitas e sujeira; todos os candidatos estão engravatados, limpos, bem alimentos dentro da redoma olhando para essa imundice e esperando os votos ao lado de banqueiros, empresários, fazendeiros e alguns burocratas, intelectuais, meia dúzia de serviçais que vivem na límpida vida envidraçada.

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