A neblina escura, espessa, o volume
de indecisão, a fumaça das paixões, tudo evapora do sólido sonhar, do forte
desejar desenfreado, apenas projeção do que odiamos em nós, do que sai pelos
poros da ignorância, da mendicância.
A neblina paira sobre as
consciências, o ser ou não ser da sandice se desdobra pelos nervos, pelos
dedos, por todos os membros do corpo social, ele surge do nada e do nada ele
some, mas esse nada é alguma coisa, é um debate, é o momento atual.
Uma pedalada, um desvio, petróleo,
dinheiro, compra de votos, votar é uma compra de alma. Escândalo, começa um
jogo, sangue sai das espadas verbais, movimentos sociais, impeachment, tudo
montado, um circo onde leões querem derrubar e devorar o poder, elefantes
querem manter o peso de suas nádegas na cadeira do governo e dirigir esse
zeppelin desgovernado, desnorteado, sem mais a dizer.
Extremos, polos árticos, gelados como os corações psicopatas,
quentes como os vulcões que soltam o magma das dicções estridentes, críticas ao
liberalismo tucano, críticas ao socialismo cubano, ataques a social democracia
e nada de urbanidade democrática, apenas ataques, dentadas, selvagens da
política, e no meio...O povo alienado e tomando partido sem pensar.
Mas não pode piorar, porém, já piorou
sem nunca ter melhorado. Se já não bastasse a estupidez da esquerda, a boçalidade
da direita, agora paira no ar essa neblina, essa fumaça que sai de hálitos jurássicos,
de mentes arcaicas, discursos retrógrados, passados sangrentos são idolatrados,
torturas de corpos e mentes, estupros de bom senso, perfurações carnais,
inconstitucionais, razão bárbara, civilização fascista que deflora virgens
suicidas.
A extrema direita toma seu lugar de
destaque, apoio popular, figuras folclóricas com caras e bocas e discursos pela
família, homofóbicos, religiosos, ataques a socialização, demonização de tudo
que lembra a utopia dos primeiros cristãos, aqueles quase anarquistas. Dentro
desse diapasão uma nota mais aguda perfura os ouvidos mais sensíveis, é o grito
de Bolsonaro, representante máximo dessa nova horda, ordem da desordem, da
razão sem libido, dos machões defensores da nação contra trabalhadores, contra
estudantes, contra o que é contra o sistema, antítese da democracia, resíduo da
loucura iluminista que se tornou obscura, dialética do esclarecimento que
esclarece essa neblina sem sentimentos, essa coisa sem forma que paira no ar e
nos asfixia.
A política já era essa luta de todos
contra todos hobbesiana, o príncipe maquiavélico
já jogava a ética fora em nome do poder que justifica qualquer meio, o contrato
social de Rousseau já foi burlado, agora tudo vale em nome da ordem segura que
protege a propriedade, a moral e o capital, viva Bolsonaro e que venha outro
eclipse, pois, esse sol cancerígeno já ceifou o bom senso, agora só nos resta
gritos e truculência.
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