domingo, 13 de maio de 2012

FELIZ DIA DAS MÃES, ELIZABETE!


O sol brilhava com uma intensidade ímpar naquele domingo, sorrisos abertos, corações flamejantes, comida farta, declarações sinceras, algumas talvez falsas, mas tudo dentro do espírito de confraternização. O sol queimava o rosto daquele garoto correndo na rua, ele trazia um embrulho pequeno, era o tal presente, dentro do papel cheio de desenhos maternais havia algo simples, humilde, havia o presente que Jorge tinha comprado para a sua mãe Elizabete, nome de rainha, nesse dia ela era a rainha de Jorge, era dia das mães, dia de comer macarronada, carne assada e comprar presentes peara aquela senhora de rosto redondo, voz brava e sorrisos de madona.
Enquanto pensava no pai que o tinha abandonado a boca frenética de Jorge mordia um pedaço de carne, não é todo dia que uma criança pobre tem o prazer de se deliciar com pedaços de um animal morto em sua boca, e aquele pedaço era algo especial, era a nutrição dos deuses. O presente na mão, um porta retratos, comida no estômago, beijos e abraços, estava na hora de ir embora para casa, Elizabete e seu filho se despedem dos familiares, eles voltam para sua humilde residência na periferia da cidade.
A noite ainda era comemorado o dia das mães, já em casa Elizabete e seu filho se preparavam para dormir, já haviam banhando, jantado a comida que trouxeram da casa dos familiares. Uma batida na porta, quem seria aquela hora da noite, pensou Elizabete, ela pergunta quem é, a voz do lado de fora diz ser Sebastião, um membro da igreja que ela freqüenta, mesmo não se lembrando desse nome ela abre a porta, concomitante a entrada do homem em sua residência foi também o soco que ela recebeu em seu rosto, a porta se fecha e o show começa.
Enquanto a roupa daquela mulher em prantos era rasgada seu corpo era alvo de murros e chutes, lágrimas se misturavam a sangue, o menino atônito chorava, gritos roucos saiam de sua boca, ele não podia fazer nada. O pênis de Sebastião penetrou inúmeras vezes na vagina e no ânus da mãe de Jorge, não satisfeito em ejacular seu esperma sobre o corpo da mulher por duas vezes o homem movido por seu espírito bondoso resolve enforcar Elizabete.  
Já era cerca de meia noite, a polícia está no local, uma criança sem fala e com os olhos inchados, um olhar perdido no espaço, na sala da casa um corpo molhado de vermelho e do asco, o medo emitia odores que se misturavam com suor, sangue e esperma, o horror tomou conta da noite de domingo, o dia das mães passou a ter um novo significado para o menino Jorge.
Viaturas passam gritando, o giroflex brilha na noite, todos mobilizados na procura de Sebastião, estuprar e matar uma mãe em frente ao filho em uma data tão festejada não é nada prudente. Matas, casas, ruas, até o inferno é vasculhado na procura do marginal, a indignação e revolta são combustíveis que aceleram e dão força a caçada humana, a paixão se sobrepõe a razão, não é mais uma questão de justiça, passa a ser uma vingança coletiva, uma espécie de questão de honra banhada em sangue.
Uma noite alucinante, ela, como outras, dá lugar a mais um dia de sol e polêmica, logo pela manhã as rádios, televisões e todo tipo de mídia noticiam o fato ocorrido na noite anterior, pessoas chocadas com a monstruosidade do estupro tomam conta das ruas, nos bares, escolas, igrejas, prostíbulos, em todos os lugares há quem comente sobre o caso.
O caos brilha na mente indigente, nas periferias da consciência tomam formas todas as angustias, todas as labutas da mente, já faz um ano que Elizabete morreu, outro dia das mães, outra data comemorativa, outro dia de horror, Jorge olha para as pessoas felizes, para os pratos de comida, tanta felicidade, tanta crueldade, seu olhar petrificado não fita os rostos alegres, fita o nada, ele se perde em suas lembranças, esse carnaval de dor, tortura e encanto. Nunca mais ouviu falar do homem que retirou a vida de sua mãe, nunca mais viu aquele rosto, Sebastião foi uma ruptura entre Jorge e que chamamos carinhosamente de humanidade.

2 comentários:

  1. No universo dos seus textos tem elementos recorrentes .. sexo, estupro,violência. esperma, vagina, sodomia , assassinato ...rs

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