O
que leva uma pessoa a escrever um livro? A dor, o amor, a aventura, a
existência em conflito, a contemplação do infinito, a falta de problema, a
angustia, a vontade de criar um novo mundo, a crença na desgraça, a consciência
da tragédia humana, a cômica desventura do ser, a falta do que fazer, perguntas
não respondidas, óperas malditas, não há uma resposta, a pergunta é genérica, a
questão aqui não é dar respostas, ser educativo, pedagógico ou qualquer coisa
do nível, quero apenas dividir minhas angustias, minhas derrotas, meus saberes,
meus erros, minha tragédia pessoal, meu tesão espiritual, não quero ensinar,
enganar, falsificar a realidade, peço desculpas pelas mentiras ainda não ditas,
mas prováveis, posso me rebelar, mas vou apenas criar uma realidade paralela ao
mundo que imagino ser o meu, o que me levou a escrever? Ainda não sei, mas a
última desventura da minha vida me influenciou a dar continuidade a esse
projeto, a esse tormento, a essa odisséia literária pelo campo da insanidade da
mente amante desse autor sem caráter, desalmado e humilde, não sou cristão,
socialista, otimista ou romântico, sou apenas a dúvida pulsante nesse universo
caótico, nessa vida sem sentido, no labirinto violeta da psique, na tortura
carnal do espírito ateu, vou dar pausa a essa esdrúxula dramatização e vou
passar para o próximo parágrafo.
O ato de escrever é sexual, agressivo, porém é
contraditoriamente calmo, contemplativo, assim como a vida a escrita é absurda,
um acaso do improvável, uma lógica irracional, um tapa no destino, um coito
anal, uma desfiguração da beleza, uma romantização da violência, ser deus no
inferno e gritar de prazer com a navalha presa na carne, cortando o gemido,
perfurando a alma aflita e angustiada. Escrever é escutar o silêncio, dar vida
a inocentes, ser maltratado pela palavra, criar mundos já existentes,
desconstruir idéias e pensamentos, flutuar num tanque de sangue e beijar
prostitutas e serpentes, ler o que já está escrito é sofrer novamente, amar
irresistivelmente, é ter em mente o universo nadificante de nossas consciências.
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