quinta-feira, 5 de outubro de 2017

BLADE RUNNER 2049, belo e existencial, mas menos profundo que o original.



Em 1982 foi realizada uma da obras mais importantes da ficção científica, estamos falando da obra cinematográfica Blade Runner- o caçador de androides, baseada em livro de Philip K. Dick o filme é um precursor do cyberpunk, subgênero que tem como características o alto desenvolvimento tecnológico e o baixo desenvolvimento humano, geralmente aliado ao technoir, uma releitura das histórias de detetive noir, sombrias; mas agora em cidade futuristas, degradantes, repletas de androides, cyborgs, e com tecnologia de ponta.

O filme dirigido por Ridley Scott tem quase todas as características descritas acima, sendo um precursor do cyberpunk, mesmo não tendo um dos elementos centrais que é a realidade virtual como no livro Neuromancer e no filme Matrix. A história se passa em 2019, o personagem Rick Deckard, vivido por Harrison Ford, é um Blade Runner, um policial especializado em “aposentar”, ou remover replicantes, seres chamados de androides pelo título do filme, mas que não são robôs, são seres humanos fabricados por engenharia genética, mais fortes e inteligentes do que os humanos tradicionais, mas com apenas quatro anos de vida. E é o fato de terem poucos anos de vida que traz alguns desses replicantes de volta ao planeta terra, pois os mesmos são feitos para trabalharem em colônias espaciais e proibidos de virem ao planeta, que é destinado aos desfavorecidos, pobres, doentes, desqualificados sociais e a uma minoria de empresários e pessoas ligas ao controle social que administram a Terra.

O filme de 1982 é sombrio, enigmático e melancólico, traz questões como o que é ser humano, a fluidez do tempo, da vida, o real e o simulacro, ou real e virtual, luta de classes e uma visão distopia e pessimista sobre o futuro, sobre o meio ambiente e, principalmente sobre a vida.
Existe mais de uma versão do filme, na lançada para os cinemas os produtores inseriram uma cena final mais otimista, narração em off com a voz de Ford para explicar didaticamente o filme, que para eles era confuso, e foi removida cenas, como a do sonho com unicórnio que leva a dúvida se o protagonista também não era um replicante. Na década de 1990 é lançada a versão do diretor sem essa narração, sem a cena final piegas e otimista e com o sonho do unicórnio, é essa versão que é a base da continuação da obra intitulada Blade Runner 2049.
Blade Runner 2049 é dirigida pelo canadense Denis Villeneuve, o filme é mais claro, ensolarado do que a obra original, logo, menos melancólica e com um final mais otimista, porém, essa continuação mantém o ar sombrio, traz uma Los Angeles degrada, cheia de lixo em sua periferia, noites chuvosas, a cena diurna tem um aspectos menos noir, com uma fotografia deslumbrante; mesmo assim ainda mantém o ar decadente e insalubre da cidade distópica. Na história desse filme temos o Blade Runner K, que ao remover um replicante acaba descobrindo um segredo que pode mudar a relação entre humanos e replicantes, esses agora fabricados por uma nova empresa e com nova tecnologia; esse segredo faz com o protagonista mergulhe em uma investigação que o leva a questionar sua subjetividade, assim como Deckard no primeiro filme. Temos aqui também o romance entre humano e máquina, intrigas, segredos, e desfechos surpreendentes, e claro, o segredo que é o estopim do filme tem ligação com o personagem de Deckard, que aparece no final da segunda metade da obra fazendo um link com o primeiro filme.

A priori Blade Runner não deixa brechas para continuação, o final da versão do diretor, que é mesma do corte final de 2007, é propositalmente enigmática, pois nos leva a refletir sobre o destino dos personagens fugitivos e seu tempo de vida. Mesmo assim criaram com criatividade uma sequência bonita, que tem o ar existencialista, porém não traz aquele embate de luta de classes que tem o primeiro, a melancolia sombria technoir, mesmo fazendo referência a esses.  Blade Runner 2049 é um filme homenagem, e ao mesmo tempo uma obra fruto de seu tempo, das inquietações nesse século XXI, desse regime de acumulação do capital, das lutas classistas, do pessimismo em relação ao eclipse da razão que tem sido essa marcha de progresso tecnológico e regresso humano. O cinema cyberpunk continua sendo uma saída crítica para refletir sobre tecnologia, política e a alma humana, mesmo de forma pessimista, ou seria apenas uma forma crítica de ver as sombras de dominação e exploração atuais projetadas no futuro?

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