Em
1982 foi realizada uma da obras mais importantes da ficção científica, estamos
falando da obra cinematográfica Blade Runner- o caçador de androides, baseada
em livro de Philip K. Dick o filme é um precursor do cyberpunk, subgênero que tem como características o alto
desenvolvimento tecnológico e o baixo desenvolvimento humano, geralmente aliado
ao technoir, uma releitura das histórias
de detetive noir, sombrias; mas agora
em cidade futuristas, degradantes, repletas de androides, cyborgs, e com
tecnologia de ponta.
O
filme dirigido por Ridley Scott tem quase todas as características descritas
acima, sendo um precursor do cyberpunk, mesmo não tendo um dos elementos centrais
que é a realidade virtual como no livro Neuromancer
e no filme Matrix. A história se
passa em 2019, o personagem Rick Deckard, vivido por Harrison Ford, é um Blade Runner, um policial especializado em “aposentar”, ou remover replicantes, seres
chamados de androides pelo título do filme, mas que não são robôs, são seres
humanos fabricados por engenharia genética, mais fortes e inteligentes do que
os humanos tradicionais, mas com apenas quatro anos de vida. E é o fato de
terem poucos anos de vida que traz alguns desses replicantes de volta ao
planeta terra, pois os mesmos são feitos para trabalharem em colônias espaciais
e proibidos de virem ao planeta, que é destinado aos desfavorecidos, pobres,
doentes, desqualificados sociais e a uma minoria de empresários e pessoas ligas
ao controle social que administram a Terra.
O
filme de 1982 é sombrio, enigmático e melancólico, traz questões como o que é
ser humano, a fluidez do tempo, da vida, o real e o simulacro, ou real e
virtual, luta de classes e uma visão distopia e pessimista sobre o futuro,
sobre o meio ambiente e, principalmente sobre a vida.
Existe
mais de uma versão do filme, na lançada para os cinemas os produtores inseriram
uma cena final mais otimista, narração em off com a voz de Ford para explicar
didaticamente o filme, que para eles era confuso, e foi removida cenas, como a
do sonho com unicórnio que leva a dúvida se o protagonista também não era um
replicante. Na década de 1990 é lançada a versão do diretor sem essa narração,
sem a cena final piegas e otimista e com o sonho do unicórnio, é essa versão
que é a base da continuação da obra intitulada Blade Runner 2049.
Blade
Runner 2049 é dirigida pelo canadense Denis Villeneuve, o filme é mais claro,
ensolarado do que a obra original, logo, menos melancólica e com um final mais
otimista, porém, essa continuação mantém o ar sombrio, traz uma Los Angeles
degrada, cheia de lixo em sua periferia, noites chuvosas, a cena diurna tem um
aspectos menos noir, com uma fotografia deslumbrante; mesmo assim ainda mantém
o ar decadente e insalubre da cidade distópica. Na história desse filme temos o
Blade Runner K, que ao remover um replicante acaba descobrindo um segredo que
pode mudar a relação entre humanos e replicantes, esses agora fabricados por
uma nova empresa e com nova tecnologia; esse segredo faz com o protagonista
mergulhe em uma investigação que o leva a questionar sua subjetividade, assim
como Deckard no primeiro filme. Temos aqui também o romance entre humano e
máquina, intrigas, segredos, e desfechos surpreendentes, e claro, o segredo que
é o estopim do filme tem ligação com o personagem de Deckard, que aparece no final
da segunda metade da obra fazendo um link com o primeiro filme.
A
priori Blade Runner não deixa brechas para continuação, o final da versão do
diretor, que é mesma do corte final de 2007, é propositalmente enigmática, pois
nos leva a refletir sobre o destino dos personagens fugitivos e seu tempo de
vida. Mesmo assim criaram com criatividade uma sequência bonita, que tem o ar existencialista,
porém não traz aquele embate de luta de classes que tem o primeiro, a
melancolia sombria technoir, mesmo fazendo referência a esses. Blade Runner 2049 é um filme homenagem, e ao
mesmo tempo uma obra fruto de seu tempo, das inquietações nesse século XXI,
desse regime de acumulação do capital, das lutas classistas, do pessimismo em
relação ao eclipse da razão que tem sido essa marcha de progresso tecnológico e
regresso humano. O cinema cyberpunk continua sendo uma saída crítica para
refletir sobre tecnologia, política e a alma humana, mesmo de forma pessimista,
ou seria apenas uma forma crítica de ver as sombras de dominação e exploração
atuais projetadas no futuro?
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