Hoje
o dia amanheceu com fanfarras, foguetes, algazarra, balburdia midiática,
pessoas atônitas, pessoas em êxtase, cheguei a me lembrar de Guilherme Arantes
e sua brega canção. Hoje um furacão jornalístico nos varreu com a notícia
bombástica da ação coercitiva que levou Lula, nosso ex presidente, a prestar
declarações à polícia federal. Mas o que isso nos diz? De um lado ouço o
coração quebrado e as vozes chorosas dos partidários do PT, vozes meio
rancorosas que colocam a culpa no conservadorismo, na mídia burguesa, no ódio
classista. A defesa ao presidente Lula é ferrenha, lágrimas, gritos e muita
paixão. De outro lado ouço vozes roucas, gritantes, uma direita conservadora
que teme projetos social democratas, que tem pretensões políticas, muitos
ligados ao PSDB, muita paixão corre pelas veias desses aguerridos guerreiros da
justiça. No meio disso tudo uma meia dúzia de pessoas indignadas com a
corrupção, não partidárias, não rancorosas com a direita ou odiosas com
esquerda.
Difícil
não se indignar com a corrupção, ela sempre existiu em nossa história
republicana, não foi inventada pelo PT, mas foi com os governos petista que,
axiologicamente, se valorou mais os escândalos de corrupção, isso não diz que a
corrupção petista é melhor ou pior do que tucana, ou outro qualquer, apenas que
num determinado momento histórico se deu mais ênfase sobre as denúncias de
corrupção, e isso tem seu lado positivo, mostra que a democracia vem desempenhando
um de seus atributos, mas é somente isso? Sabemos que há um jogo político por
traz disso também, há interesses partidários, econômicos e , além disso, uma
cultura ante esquerda de alguns grupos reacionários, porém, também contribui
com isso as provas e condenações de algumas pessoas ligadas ao partido dos
trabalhadores.
Um
show pirotécnico, uma lona, picadeiro, luz, câmera, ação, uma explosão de mil megatons,
Lula é notícia, odiado, celebrado, xingado, idolatrado, uma contraditória dança
macabra em torno dessa entidade, isso me lembra o “Fora Collor”, outro show da
democracia, caras pintadas, juventude transviada e politicamente revoltada, uma
guerra justa, democrática e cívica contra o dragão da maldade. O que mudou com
todo o alvoroço em torno de Collor, e sua consequente cassação? Quase nada, os
corruptos continuaram, alguns bodes expiatórios caíram, bois de piranha, Collor
voltou à ativa, se aliou a inimigos, mensalões tucanos, pemedebistas,
cachoeiras de corrupção em Goiás, merendas sendo fraudadas e furtadas em São Paulo,
desvios do governo federal petista. Luz, câmera, show, apenas fogo de palha,
depois da fumaça tudo volta ao normal.
Difícil
defender o PT depois de tantas provas e condenações, difícil defender partidos
que são contra o PT depois de tantas provas de corrupção, difícil cair no
apaixonado grito contra a esquerda ou no doloroso choro contra a fascista
classe burguesa, porém, temos que mudar, lutar e sair desse lamaçal no qual
estamos atolados e conspurcados.
Sem
mudanças no jogo eleitoral, na participação popular, democracia direta, sem mudança
de mentalidade e luta política, não mudaremos o quadro de corrupção, se apenas atacarmos
pessoas e partidos não sairemos do lugar, temos que mudar estruturas, temos que
estar na arena das decisões, fiscalizar, opinar e não apenas seguir, como ovelhas,
pastores partidários, midiáticos ou rancorosos que querem jogar pedra na
esquerda, direita ou outra denominação que assuma o governo. Não podemos
transformar nossa indignação com a atual conjuntura em palanque político ou
ofensas gratuitas, brigas sem sentido, temos que transformar isso em combustível
de lutas mais holísticas, em emancipações do controle classista, político
partidário e da indústria cultural, ou mudamos isso ou ficaremos presos nessa
luta de galos sanguinolenta que só dá lucro para os parasitas que sugam nosso
labor, esperança e amor.
É
broxante ver tanta potência de existir desperdiçada em ataques caninos,
intolerantes e sem reflexão, seria muito mais excitante nos unirmos contra a
corrupção de todos os partidos, contra toda manipulação midiática, contra todo
abuso econômico, mas sem cair na pieguice de defender X ou Y, acusados e comprovados
em ações imorais, ilegais e nada democráticas. Por uma política com mais
participação popular e menos burocracia partidária, eis o orgasmo democrático fluindo,
eis a libido popular tomando os caminhos racionais sem negar seus afetos e sem
afetar sua dignidade.
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ResponderExcluirSó não pontuou a postura antidemocrática do Lula... que para se defender questionou toda as instituições estando acima delas... algo muito comum entre ditadores sul americanos, um personalismo acima das instituições democráticas... um discurso de perseguismo político que não condiz com todo um processo investigativo e uma delação de seu líder político no senado a pouco tempo.... penso que Collor foi a primeira cabeça de um dragao cortada de onde renasceram várias cabeças... a corrupção não nasceu com Lula ou com o PT... mas a aceitação mórbida dela é um decreto de uma falência total. Prender o Lula caso seja comprovada sua culpa, é uma chama de esperança democrática. O que estamos vivendo não é um anti-petisco mas um grito desesperado de chega de corrupção. De um coronelismo político ideológico. Particularmente não vejo que o psdb seja a solução para o país, não mesmo. Creio que a politização do povo seja. Um alerta a todos políticos que o tempo de não punição está acabando. Parabéns pelo texto meu jovem. Muito lúcido.
ResponderExcluirSó não pontuou a postura antidemocrática do Lula... que para se defender questionou toda as instituições estando acima delas... algo muito comum entre ditadores sul americanos, um personalismo acima das instituições democráticas... um discurso de perseguismo político que não condiz com todo um processo investigativo e uma delação de seu líder político no senado a pouco tempo.... penso que Collor foi a primeira cabeça de um dragao cortada de onde renasceram várias cabeças... a corrupção não nasceu com Lula ou com o PT... mas a aceitação mórbida dela é um decreto de uma falência total. Prender o Lula caso seja comprovada sua culpa, é uma chama de esperança democrática. O que estamos vivendo não é um anti-petisco mas um grito desesperado de chega de corrupção. De um coronelismo político ideológico. Particularmente não vejo que o psdb seja a solução para o país, não mesmo. Creio que a politização do povo seja. Um alerta a todos políticos que o tempo de não punição está acabando. Parabéns pelo texto meu jovem. Muito lúcido.
Valeu pela participação em nosso programa Diogão!
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