Dirijo, a noite encobre meus desejos, meus sonhos, os mais belos, os mais coloridos, os mais indecentes. Vozes roucas penetram em meus ouvidos, dirijo. Músicas sacanas, óperas escaldantes, pop, brega, rock, o inferno e o céu, tudo embala a noite, essa cortina negra romântica, sombria, sem medo, sem perdão. Dirijo.
Ela não está lá, eu a via todos os dias passando no mesmo lugar, seu sorriso, sua pele refletindo meu tesão, meu olhar cheio de angustia sobre o mundo, essa noite quente, ela não apareceu, perdi a oportunidade, não vou mais vê-la, dirijo.
O grito, munições voam de um lado para o outro, sangue, pessoas chorando, o fogo, apocalipse agora, essa noite, acordo, o sangue escorre em minha imaginação, em minha frente vejo um corpo, esse não é um soldado, estava na guerra, agora estou na batalha do submundo, da marginalidade noturna, dirijo, polícia, prostitutas, boêmios, lésbicas, todos os charutos, passeio por cantos mórbidos, por lugares luminosos, alegrias desdentadas, carros desgovernados, dirijo.
Essa noite fui ao centro do universo, entre no estômago do monstro, sai sem rumo, sem destino, apenas uma direção a tomar, a primeira que aparecer. Sigo rumo a algum lugar, chego em algum lugar, não quero saber, sem itinerário, dirijo, subo com meu carro pelo tapete asfáltico, dirijo mergulhando no nada, no vazio de minha alma, dirijo, dirijo, dirijo...
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