sábado, 14 de abril de 2012

O VELHO CLAUDIO.


Os cabelos brancos não escondem sua idade, seu jeito curvado, seu olhar perdido, sua boca parece beijar o cigarro, a fumaça toma conta do ar, o cinza reflete lembranças amargas, às vezes o azul do céu o lembra de pequenas alegrias.
Um barulho, carros a correrem pela massa asfáltica, luzes a brilharem na noite, pessoas conversando, marginais perambulando, alegres, tristes, seres humanos boêmios, seres humanos noturnos, o barulho se choca com a contemplação do velho Claudio, com a insônia do enrugado homem e seu cigarro.
Toques de violão, música que parece brotar do passado quebrando a vegetação na qual vive Claudio, levando certa emoção a suas veias congeladas.
O chá chega com o calor da tarde, Mercedes senta ao lado do velho pensativo e fica imaginado como foi a vida desse ser taciturno, melancólico e misterioso, mal sabe ela que esse ser foi um homem violento, que feria mulheres, matava homens, batia em crianças, destroçava felicidade, queimava alegrias. Claudio era um assassino frio, um ser desprezível, imperdoável, porém humano, todos os seus defeitos, todos os seus pecados eram a mais pura essência humana, ele fazia o que era de sua natureza ignorante, de sua estupidez marcante, sua cultura arrogante.
O sol está se pondo, um laranjado poético colore o horizonte, os olhos quase cegos de Claudio se enchem de lágrimas,ele se lembra de Débora, se lembra de seu grande amor, de seus filhos, de sua casa, mesmo os monstros, mesmo os mais imperdoáveis tem seus sentimentos, tem suas manifestações mais fraternais, nas entranhas desse homem repousava um amor pela vida que lutava com sua ira e sua raivosa ação homicida. Dentro de todos nós há algo de horror que se espalha pela alma.

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