segunda-feira, 31 de julho de 2017

Direitos Humanos, como criticar algo que ainda não existe?

O conservadorismo morde ferozmente, contundente e dilacerante são as opiniões cegas que abordam os direitos humanos; direitos fundamentais, alicerces jurídicos, filosóficos e sociais de garantias de humanidade a esses seres desumanizados pela coleira do social; mas seriam essas críticas as verdadeiras, ou melhor, as críticas certas a se fazer contra os direitos humanos?
Ler jornais, conversar no bar da esquina, dialogar nos locais de trabalho, não importa o lugar, sempre vamos ouvir falar mal dos direitos humanos, mas as críticas se limitam apenas a um dos direitos, a integridade física, e mais especificamente, a integridade física de presos. Os direitos humanos são mais amplos do que isso, eles vão desde a liberdade política, direitos trabalhistas, até direitos sobre preservação do meio ambiente; a integridade física dos presos é apenas uma vírgula nesse texto.
Mesmo fazendo a ressalva acima devemos dizer que a integridade física de um ser humano, seja ele preso, criminoso ou não,  é coerente com uma sociedade que luta tanto por melhorias de qualidade de vida e dignidade; mesmo assim podemos dizer que as críticas aqui são superficiais e movidas pelo conservadorismo amplamente apoiado em interesses de classes privilegiadas tidas como a de todas as classes pela “opinião pública”, meio de comunicação, sistema educacional, policial, e demais meios ideológicos.
Se faz muitas críticas aos direitos humanos relacionados muitas vezes aos direitos de classes proletárias, desempregados e marginalizados, e os direitos coroados pelos interesses burgueses, são também criticados? Direito a propriedade privada quando a maioria não tem propriedade, direito de explorar a força de trabalho lucrando em cima do mais valor produzido pelo trabalhador enquanto esse é desprovido do valor produzido por ele mesmo, isso é criticado?
Um dos pilares dos direitos humanos são a liberdade política e igualdade jurídica. Como falar em liberdade política quando as classes proletárias são colocadas fora do poder político? Uma dona de casa de classe média, um guarda municipal, um gari, uma operária da indústria, todos esses não são livres para escolher como será gasto o orçamento nacional, estadual ou municipal; não são livres para decidir os rumos da administração pública; todos são excluídos das decisões que são tomadas pelos burocratas políticos e ligados aos interesses de empresários, bancários, industriais, donos do capital que movimenta a máquina política e estatal.
“Somos todos iguais perante os olhos da lei”; frase bonita, de inefável poder, porém não condiz com a realidade; ideologicamente acreditamos nisso, pois nos é imposto a ideia da neutralidade e objetividade da lei, não é colocado que vivemos em uma sociedade classista onde a lei é feita por legisladores com determinados interesses, que fazem parte de determinada classe social. A lei não é a mesma para um empresário, para um gari, para um indivíduo e o Estado, veja a questão da criminalidade, a lei para criminosos negros, pobres, marginalizados, que roubam ou furtam patrimônio não é a mesma para homens brancos, ricos que poluem o meio ambiente, corrompem e dilapidam o bem público. A lei não é neutra, logo não há igualdade jurídica.
Além de não sermos iguais aos olhos da legislação não somos iguais em oportunidade, em status, em condições socioeconômicas. Como falar em igualdade onde um por cento da população mundial tem a maior parte da riqueza mundial, onde a maioria não tem cesso a educação, saúde, lazer e tempo livre, como falar que somos iguais se vivemos em um mundo capitalista que se baseia na desigualdade?
Logo podemos afirmar que não temos direitos humanos, não temos dignidade, como então criticar algo que nem existe? Se quisermos ter direitos humanos temos que demolir os muros que nos separam da dignidade, do bem-estar, da igualdade, e esse muro é minado pelo conservadorismo, pela defesa do mundo como ele é, por ideologias burguesas que se apoiam também nas armas que defendem o Estado e na ignorância, alienação da maioria das pessoas.

domingo, 18 de junho de 2017

Cifrões são mais importantes do que corações: ou a poesia do capital.



Essa poesia cinza que sai das bocas fumegantes, cuspidoras de poluentes, indecentes partículas esfumaçadas de progresso, de lucros, de cancerígenos que matam pulmões, porém, fazem viver contas bancárias. Essa poesia é linda e cadavérica, o futuro é brilhantemente infortúnio, desgraças em forma mercadológica que reina na lógica irracional das calculadoras sem coração, sem tesão, mas cheias de indústrias.

A poesia é romântica, amor que sai das bocas ingênuas e burguesas, sonoramente encantadora; arrasa a dor, o odor é ameno, o suor incendeia as narinas, não tem romantismo a labuta de baixa renda, as rendas das calcinhas são mais bonitas.
Beleza que dói nos olhos com a luz incandescente, poesia solar que lambe as epidermes alvas nas manhãs românticas e queima as peles proletárias nas tardes infernais em busca de alimentos. Como é poético carregar o mundo nas costas, como é agradabilíssimo obnubilar os subterfúgios sub-reptícios dos patrícios nessa era sem gelo, apenas o sol pode nos salvar com câncer e morte ligeira.
A vida é pura poesia, ideias puras, lógica que transcende as condicionantes, as estruturas, essas correntes nuas, sem adornos, sem descrições fúteis e pomposas como as palavras ditas no escuro.
Os cifrões são mais importantes do que os corações, eis a verdade transgressora e opressora que chega poeticamente e sem verdades estridentes, apenas os belos e rebuscados versos encantam esse mundo; o capital é tão belo quanto o eterno, o pleno e verdadeiro sol platônico que nos cega fora da caverna; mas não seria uma caverna luminosa essa onde a verdade burguesa nos ludibria com firulas, verborragias, publicidades?
A poesia avermelhada que some no horizonte com o final da tarde traz melancolia, traz a letargia sonífera que nos fazem sonhar, embala beijos verbais, obstaculiza revoluções; somos tão conservadores quando apelamos apenas às formas, os conteúdos nem sempre são tão poéticos.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Meretrício do Capital e putaria assalariada.



A música com toques de guitarra, um romantismo barato regado com canção cara, um turbilhão frenético no frenesi desconexo dessa modernidade liquefeita, neoliberal e de formas abstratas; uma memória sem coletivo, um trânsito livre barrado no baile; Scorpions toca no rádio, a chuva cai suave e fria como o manto da carcomida roupa moderna, eis que surge as belas morenas, loiras, ruivas e até uma japonesa; o desfile promete. E prometendo como político em véspera eleitoral decidimos qual pedaço de carne levar; são meretrizes se oferecendo em troca de moedas, notas, créditos que saem dessa navalha chamada cartão; mundo digital, libido explodindo dentro da genitália, aflorando pelos olhos gulosos que fitam as belas putas que se beneficiam do dinheiro, do gozo, do esporro financeiro do mundo.

Como na película onde o personagem de Nicholson dança com a prostitua ao som de Scorspions dançamos nos braços do destino com essas putas cheias de vida, a vida é uma putaria cara meus caros leitores, e o fleumático pensar torna tudo mais calmo, o agitado movimento pélvico transborda em carícias, desejos molhados.

Enquanto lembro-me de filmes e momentos em casas de meretrícios penso: as jovens garotas de programa sonham? Elas estão ali não pelo prazer, elas oferecem prazer, elas querem dinheiro, querem comprar roupas, comidas, querem comprar o que o mundo oferece em troca de moedas e notas, sejam elas físicas ou créditos; não seríamos nós também prostitutas e putos no mundo do Capital oferecendo nosso corpo por determinado tempo enquanto empresários, banqueiros, fazendeiros e, até o Estado, goze economicamente com isso?

Apoucados, achincalhados, entretanto, prontos para masturbar o sistema até ele jorrar cifrões em cofres; masoquistas que sorriem com as chicotadas e ainda lutam para manter esse sistema sádico, as roupas das fábricas e os uniformes de gravatas, ou saias sociais não seriam como as roupas de couros de bacanais sado masoquistas?

As garotas de programa se programam para o carnal, para o espírito sexual de negócios lascivos, aceitam sair com todo tipo de clientes; magros, feios, gordos, eleitores da extrema direita; assim como elas topamos fazer qualquer coisa, qualquer trabalho em troca de salário, a prostituição é legalizada no mundo do trabalho, dançamos a música coercitiva e coletiva pela coesão e manutenção da ordem, mesmo ela sendo as vezes um estupro moral, intelectual e intestinal.

A perfídia dos contratos, insidiosos comentários nas notas de roda pé, elegantes palavras de um arcabouço lexical cheio de parvoíce, cheio de verborragia sofisticada, mentecaptos dentro do escafandro borbulhando no mar agitado pelos ideólogos de discurso baratos. A civilização precisa dessas idiotices camufladas por belas palavras, o poder excita, mas o discurso é orgasmos verbal, escrita descomunal sob a pele arrepiada.

No meretrício do Capital somos mercantilizados e prostituídos, somos putas e putos assalariados contentes com as migalhas cuspidas por bocas suínas enquanto somos sodomizados por éticas protestantes e espíritos fantasmagóricos capitalistas, fetichismos monetários, fantasias mentecaptas de alienados embasbacados.

Ao som romântico das notas de solo de guitarra somos seduzidos pela fala mansa de quem acredita que o mundo deve ser assim, dançamos com clientes que se beneficiam da carne travestidos de oportunidades; no fim tudo adormece na noite suja e amanhece com o sol de esperança que continua a esperar até percebermos que só um lado goza e o outro é apenas instrumentalizado, romantismo barato. Como é caro viver no mundo onde a ereção é cobrada aos passivos que trabalham ativamente.