terça-feira, 30 de maio de 2017

Meretrício do Capital e putaria assalariada.



A música com toques de guitarra, um romantismo barato regado com canção cara, um turbilhão frenético no frenesi desconexo dessa modernidade liquefeita, neoliberal e de formas abstratas; uma memória sem coletivo, um trânsito livre barrado no baile; Scorpions toca no rádio, a chuva cai suave e fria como o manto da carcomida roupa moderna, eis que surge as belas morenas, loiras, ruivas e até uma japonesa; o desfile promete. E prometendo como político em véspera eleitoral decidimos qual pedaço de carne levar; são meretrizes se oferecendo em troca de moedas, notas, créditos que saem dessa navalha chamada cartão; mundo digital, libido explodindo dentro da genitália, aflorando pelos olhos gulosos que fitam as belas putas que se beneficiam do dinheiro, do gozo, do esporro financeiro do mundo.

Como na película onde o personagem de Nicholson dança com a prostitua ao som de Scorspions dançamos nos braços do destino com essas putas cheias de vida, a vida é uma putaria cara meus caros leitores, e o fleumático pensar torna tudo mais calmo, o agitado movimento pélvico transborda em carícias, desejos molhados.

Enquanto lembro-me de filmes e momentos em casas de meretrícios penso: as jovens garotas de programa sonham? Elas estão ali não pelo prazer, elas oferecem prazer, elas querem dinheiro, querem comprar roupas, comidas, querem comprar o que o mundo oferece em troca de moedas e notas, sejam elas físicas ou créditos; não seríamos nós também prostitutas e putos no mundo do Capital oferecendo nosso corpo por determinado tempo enquanto empresários, banqueiros, fazendeiros e, até o Estado, goze economicamente com isso?

Apoucados, achincalhados, entretanto, prontos para masturbar o sistema até ele jorrar cifrões em cofres; masoquistas que sorriem com as chicotadas e ainda lutam para manter esse sistema sádico, as roupas das fábricas e os uniformes de gravatas, ou saias sociais não seriam como as roupas de couros de bacanais sado masoquistas?

As garotas de programa se programam para o carnal, para o espírito sexual de negócios lascivos, aceitam sair com todo tipo de clientes; magros, feios, gordos, eleitores da extrema direita; assim como elas topamos fazer qualquer coisa, qualquer trabalho em troca de salário, a prostituição é legalizada no mundo do trabalho, dançamos a música coercitiva e coletiva pela coesão e manutenção da ordem, mesmo ela sendo as vezes um estupro moral, intelectual e intestinal.

A perfídia dos contratos, insidiosos comentários nas notas de roda pé, elegantes palavras de um arcabouço lexical cheio de parvoíce, cheio de verborragia sofisticada, mentecaptos dentro do escafandro borbulhando no mar agitado pelos ideólogos de discurso baratos. A civilização precisa dessas idiotices camufladas por belas palavras, o poder excita, mas o discurso é orgasmos verbal, escrita descomunal sob a pele arrepiada.

No meretrício do Capital somos mercantilizados e prostituídos, somos putas e putos assalariados contentes com as migalhas cuspidas por bocas suínas enquanto somos sodomizados por éticas protestantes e espíritos fantasmagóricos capitalistas, fetichismos monetários, fantasias mentecaptas de alienados embasbacados.

Ao som romântico das notas de solo de guitarra somos seduzidos pela fala mansa de quem acredita que o mundo deve ser assim, dançamos com clientes que se beneficiam da carne travestidos de oportunidades; no fim tudo adormece na noite suja e amanhece com o sol de esperança que continua a esperar até percebermos que só um lado goza e o outro é apenas instrumentalizado, romantismo barato. Como é caro viver no mundo onde a ereção é cobrada aos passivos que trabalham ativamente.

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