Kurossawa
é um diretor famoso por filmes de samurais, como sua obra prima Os Sete Samurais; porém ele tem filmes
essenciais em outro gênero, o drama. Um desses filme é Um Domingo Maravilhoso de 1947. Na obra citada o diretor, que
também é coautor do roteiro, narra a desventura amorosa e social de um casal de
namorados, Yuzo (Isao Numasaki) e Masako (Chieko Nakakita). O jovem casal sai
para um passeio de domingo, que seria algo banal e normal, mas o filme não é um
conto de fadas hollywoodiano, é uma contundente e poética visão sobre o Japão
após a segunda guerra mundial. O casal
que com pouco dinheiro tenta se divertir num Japão após a Segunda Guerra serve
como um microcosmo sobre a tragédia, as dificuldades e a condição social do
japonês na década de quarenta do século XX.
O
filme começa com o amargurado e pessimista Yuzo esperando sua namorada e
sonhadora Masako; uma cena chama a tenção, um pedaço de cigarro jogado no chão,
que é fitado com desejo pelo jovem, já faz dias que ele não fuma devido a falta
de dinheiro, já que ganha pouco. Após a
chegada de Musako começa a odisseia terrestre do casal, que com pouco dinheiro
tenta aproveitar o fim de semana; é difícil se divertir com pouco dinheiro, mas
o maior problema são os projetos, sonhos do casal que são colocados a prova.
A
obra como um todo é uma viagem pela pobreza humana, pela melancolia de uma
juventude empobrecida e de sonhos que terão de sobreviver a essa realidade difícil,
dolorida que obnubila a esperança, que eclipsa o que há de mais humano em nós.
Um
passeio por uma casa “modelo” é um dos martírios do casal que sonha em se
casar, mas quando pensam no valor dos imóveis se desesperam, mesmo quando veem
uma possibilidade de alugar um pequeno quarto, o valor é maior que seus
rendimentos.
Os
namorados vagueiam pelas ruas cheias de gente, numa fotografia em preto e
branco olhamos suas desventuras, suas frustrações ao não conseguirem ver uma
apresentação musical, ou ao não terem dinheiro suficiente para pagar lancha da
tarde. Mas há momento de ternura como o passeio ao zoológico, a brincaria com
as crianças jogando beisebol, e no momento áureo e máximo do filme, quando Yuzo
rege uma orquestra imaginária em um anfiteatro vazio, esse é o momento mágico e
utópico do filme.
O
filme é bonito, forte e simples ao mesmo tempo, ele nos ganha ao mostrar a dor
e sofrimento de um jovem casal com dificuldades financeiras de forma simples e
profunda concomitantemente. Por um lado, vemos a amargura e ceticismo do rapaz,
por outro a doçura e otimismo de uma mulher que sonha em vencer na vida e ficar
ao lado de seu amado, num mundo chacoalhado pela guerra, pela indiferença, pela
exploração do trabalho, e pintado com cores fortes pela miséria.
No
final não temos uma grande reviravolta, tragédias que nos chocariam ou um
entardecer ensolarado. No final temos o mesmo casal e a mesma situação do
início do filme, mas com a esperança de dias melhores e com a possibilidade que
isso se concretize.
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