terça-feira, 16 de outubro de 2018

Um Domingo Maravilhoso, ou uma poética de amor e miséria dirigida por Kurossawa


Kurossawa é um diretor famoso por filmes de samurais, como sua obra prima Os Sete Samurais; porém ele tem filmes essenciais em outro gênero, o drama. Um desses filme é Um Domingo Maravilhoso de 1947. Na obra citada o diretor, que também é coautor do roteiro, narra a desventura amorosa e social de um casal de namorados, Yuzo (Isao Numasaki) e Masako (Chieko Nakakita). O jovem casal sai para um passeio de domingo, que seria algo banal e normal, mas o filme não é um conto de fadas hollywoodiano, é uma contundente e poética visão sobre o Japão após a segunda guerra mundial.  O casal que com pouco dinheiro tenta se divertir num Japão após a Segunda Guerra serve como um microcosmo sobre a tragédia, as dificuldades e a condição social do japonês na década de quarenta do século XX.
O filme começa com o amargurado e pessimista Yuzo esperando sua namorada e sonhadora Masako; uma cena chama a tenção, um pedaço de cigarro jogado no chão, que é fitado com desejo pelo jovem, já faz dias que ele não fuma devido a falta de dinheiro, já que ganha pouco.  Após a chegada de Musako começa a odisseia terrestre do casal, que com pouco dinheiro tenta aproveitar o fim de semana; é difícil se divertir com pouco dinheiro, mas o maior problema são os projetos, sonhos do casal que são colocados a prova.
A obra como um todo é uma viagem pela pobreza humana, pela melancolia de uma juventude empobrecida e de sonhos que terão de sobreviver a essa realidade difícil, dolorida que obnubila a esperança, que eclipsa o que há de mais humano em nós.
Um passeio por uma casa “modelo” é um dos martírios do casal que sonha em se casar, mas quando pensam no valor dos imóveis se desesperam, mesmo quando veem uma possibilidade de alugar um pequeno quarto, o valor é maior que seus rendimentos.
Os namorados vagueiam pelas ruas cheias de gente, numa fotografia em preto e branco olhamos suas desventuras, suas frustrações ao não conseguirem ver uma apresentação musical, ou ao não terem dinheiro suficiente para pagar lancha da tarde. Mas há momento de ternura como o passeio ao zoológico, a brincaria com as crianças jogando beisebol, e no momento áureo e máximo do filme, quando Yuzo rege uma orquestra imaginária em um anfiteatro vazio, esse é o momento mágico e utópico do filme.
O filme é bonito, forte e simples ao mesmo tempo, ele nos ganha ao mostrar a dor e sofrimento de um jovem casal com dificuldades financeiras de forma simples e profunda concomitantemente. Por um lado, vemos a amargura e ceticismo do rapaz, por outro a doçura e otimismo de uma mulher que sonha em vencer na vida e ficar ao lado de seu amado, num mundo chacoalhado pela guerra, pela indiferença, pela exploração do trabalho, e pintado com cores fortes pela miséria.
No final não temos uma grande reviravolta, tragédias que nos chocariam ou um entardecer ensolarado. No final temos o mesmo casal e a mesma situação do início do filme, mas com a esperança de dias melhores e com a possibilidade que isso se concretize.

Nenhum comentário:

Postar um comentário