terça-feira, 2 de outubro de 2018

Discursos de ódio mais quentes do que tardes de setembro.


Momento conturbado, dias antecipando eleição, pessoas brigando verbalmente, digitando freneticamente nas redes sociais, disputas pelo poder fazem com que torcidas organizadas partam para o embate em nome de candidatos, partidos, ideais.
O que mais surpreende nesse momento não é o maniqueísmo partidário, as pugnas dos eleitores enraivecidos, do sangue virtual, mas sim os discursos de ódio, que não se limitam ao político partidário e eleitoral. O ódio e a intolerância estão presentes nos mais variados temas e grupos sociais; como segurança pública, índios, homossexuais, movimento sem-terra, imigração de venezuelanos para o Brasil etc.
Hoje, em menos de uma hora, ouvi uma avalanche de comentários sobre imigração, bandidos, índios e o assassinato de homossexuais no Brasil. Todos os comentários eram raivosos, as pessoas que proferiam as palavras eram sintomas da febre que convulsiona o tecido putrefato e cheio de úlceras de nossa sociedade. As palavras eram escarros sanguinários nas faces do bom senso.
O Brasil é um dos países onde mais se matam homossexuais no mundo, mas falar isso causa indignação e pessoas já armadas com argumentos patriarcais logo falam que, “esses indivíduos não morrem somente por questões homofóbicas, tem muito usuário de drogas, o país é muito populoso, dessa feita deve morrer mais homossexuais aqui mesmo.” Independente da causa das mortes o que vemos é que a maioria não quer saber, querem apenas não pensar que isso pode ser relacionado a preconceitos, raiva e ódio, pois com isso poderíamos estar tornando os homossexuais vítimas.
O indígena é algo supérfluo em nossa sociedade, não importa se muitos estão morrendo em decorrência da expansão da agricultura mortífera, da grilagem de terras,  do capital agrícola, pois no fundo são seres  não  cristãos, pelo menos uma parte, não são “civilizados”, sem falar de sua preguiça, já que não participam da ética do trabalho capitalista. Logo, suas mortes não são contabilizadas.
E esses venezuelanos fugindo de uma ditadura de capitalismo de Estado, a dita comunista, não deveriam correr para nossas terras aumentando desemprego, violência e criminalidade, deveriam ficar em seu país flagelado, problema não é nosso. Assim pensam algumas pessoas que tive a oportunidade de ouvir recentemente.
Falar em dignidade humana, respeito e diálogo são coisas que não são coerentes com o clima escaldante que desce desse vulcão contra os seres humanos. Direitos humanos são mesmo direitos para defender marginais, pessoas baixas, vis e supérfluas? No fim não teremos mais direitos, que já são superficiais e problemáticos, imagina sem eles?
A frustração, a crise econômica e política, a falta de perspectivas; trabalhadores perdendo empregos, outros ganhando pouco e trabalhando muito. Empresário preocupados em aumentar os lucros em épocas de declínio dos mesmos; grupos reivindicando mais espaço, outros apenas morrendo e deixando o espaço livre. O Estado cada dia mais mínimo para o social, e máximo para o penal. O contexto não é nada animador, ainda mais quando ele condiciona um ambiente insalubre de ódio e intolerância que vira combustível para aumento da violência.
               

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