Momento conturbado, dias antecipando eleição, pessoas brigando
verbalmente, digitando freneticamente nas redes sociais, disputas pelo poder
fazem com que torcidas organizadas partam para o embate em nome de candidatos,
partidos, ideais.
O que mais surpreende nesse momento não é o maniqueísmo partidário, as
pugnas dos eleitores enraivecidos, do sangue virtual, mas sim os discursos de
ódio, que não se limitam ao político partidário e eleitoral. O ódio e a
intolerância estão presentes nos mais variados temas e grupos sociais; como
segurança pública, índios, homossexuais, movimento sem-terra, imigração de
venezuelanos para o Brasil etc.
Hoje, em menos de uma hora, ouvi uma avalanche de comentários sobre
imigração, bandidos, índios e o assassinato de homossexuais no Brasil. Todos os
comentários eram raivosos, as pessoas que proferiam as palavras eram sintomas
da febre que convulsiona o tecido putrefato e cheio de úlceras de nossa
sociedade. As palavras eram escarros sanguinários nas faces do bom senso.
O Brasil é um dos países onde mais se matam homossexuais no mundo, mas
falar isso causa indignação e pessoas já armadas com argumentos patriarcais logo
falam que, “esses indivíduos não morrem somente por questões homofóbicas, tem
muito usuário de drogas, o país é muito populoso, dessa feita deve morrer mais
homossexuais aqui mesmo.” Independente da causa das mortes o que vemos é que a
maioria não quer saber, querem apenas não pensar que isso pode ser relacionado
a preconceitos, raiva e ódio, pois com isso poderíamos estar tornando os
homossexuais vítimas.
O indígena é algo supérfluo em nossa sociedade, não importa se muitos
estão morrendo em decorrência da expansão da agricultura mortífera, da grilagem
de terras, do capital agrícola, pois no
fundo são seres não cristãos, pelo menos uma parte, não são “civilizados”,
sem falar de sua preguiça, já que não participam da ética do trabalho
capitalista. Logo, suas mortes não são contabilizadas.
E esses venezuelanos fugindo de uma ditadura de capitalismo de Estado, a
dita comunista, não deveriam correr
para nossas terras aumentando desemprego, violência e criminalidade, deveriam
ficar em seu país flagelado, problema não é nosso. Assim pensam algumas pessoas
que tive a oportunidade de ouvir recentemente.
Falar em dignidade humana, respeito e diálogo são coisas que não são coerentes
com o clima escaldante que desce desse vulcão contra os seres humanos. Direitos
humanos são mesmo direitos para defender marginais, pessoas baixas, vis e supérfluas?
No fim não teremos mais direitos, que já são superficiais e problemáticos,
imagina sem eles?
A frustração, a crise econômica e política, a falta de perspectivas;
trabalhadores perdendo empregos, outros ganhando pouco e trabalhando muito. Empresário
preocupados em aumentar os lucros em épocas de declínio dos mesmos; grupos reivindicando
mais espaço, outros apenas morrendo e deixando o espaço livre. O Estado cada dia
mais mínimo para o social, e máximo para o penal. O contexto não é nada
animador, ainda mais quando ele condiciona um ambiente insalubre de ódio e
intolerância que vira combustível para aumento da violência.
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