segunda-feira, 22 de maio de 2017

NOITES FRIAS: ESPERMA, SANGUE E MERCANTILIZAÇÃO



A chuva ácida escorre pelas noites frias, propagandas são propagadas sem autorizar escolhas, somos escolhidos pela publicidade e suas luzes que cegam nas noites ácidas, góticas e cheias de charme fúnebre.
A madruga cheira a sangue, romance, esperma e cinza de cigarro; o medo consome a alma, deuses digladiam com espadas imaginárias enquanto o sol não chega para queimar a pele de vampiros que sugam a libido, a vida e o sangue dos vermes que perambulam pelas noites frias. Os morcegos voam, os carros passam, prostituas, drogados, bêbados e policiais vagam na escuridão.
Mendigos com roupas sujas e mau hálito sonham com camas bem feitas e comida de graça, eis a desgraça que se desfaz com a luminosidade da chegada do sol cancerígeno, que abre mais um dia de labuta capitalista e mercantilização da vida; grita rouca a velha banguela que pulsa nos pulsos dos trabalhadores, nas joias reluzentes de madames decadentes, Vida!
Eis a vida oxidada, eivada e conspurcada pelo suor, pelo odor, pela dor dessas carnes putrefatas, o horror de quem apodrece nas noites frias, enquanto romances são cantados ao brilho de luas cheias, luas que somem pelas nuvens negras, neblinas que evaporam pelos poros das latrinas, das chaminés, das fábricas de desventura que fabricam o progresso da desilusão, os escombros da construção dessa civilização grávida de barbárie que se liquefaz em chuvas ácidas nas noites quentes, borbulhantes que esfriam em contato com os corações gélidos, instrumentais do sistema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário