A chuva ácida escorre pelas
noites frias, propagandas são propagadas sem autorizar escolhas, somos
escolhidos pela publicidade e suas luzes que cegam nas noites ácidas, góticas e
cheias de charme fúnebre.
A madruga cheira a sangue,
romance, esperma e cinza de cigarro; o medo consome a alma, deuses digladiam
com espadas imaginárias enquanto o sol não chega para queimar a pele de
vampiros que sugam a libido, a vida e o sangue dos vermes que perambulam pelas
noites frias. Os morcegos voam, os carros passam, prostituas, drogados, bêbados
e policiais vagam na escuridão.
Mendigos com roupas sujas e mau
hálito sonham com camas bem feitas e comida de graça, eis a desgraça que se
desfaz com a luminosidade da chegada do sol cancerígeno, que abre mais um dia
de labuta capitalista e mercantilização da vida; grita rouca a velha banguela
que pulsa nos pulsos dos trabalhadores, nas joias reluzentes de madames
decadentes, Vida!
Eis a vida oxidada, eivada e
conspurcada pelo suor, pelo odor, pela dor dessas carnes putrefatas, o horror
de quem apodrece nas noites frias, enquanto romances são cantados ao brilho de
luas cheias, luas que somem pelas nuvens negras, neblinas que evaporam pelos
poros das latrinas, das chaminés, das fábricas de desventura que fabricam o
progresso da desilusão, os escombros da construção dessa civilização grávida de
barbárie que se liquefaz em chuvas ácidas nas noites quentes, borbulhantes que
esfriam em contato com os corações gélidos, instrumentais do sistema.
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