A
música com toques de guitarra, um romantismo barato regado com canção cara, um
turbilhão frenético no frenesi desconexo dessa modernidade liquefeita,
neoliberal e de formas abstratas; uma memória sem coletivo, um trânsito livre
barrado no baile; Scorpions toca no rádio, a chuva cai suave e fria como o
manto da carcomida roupa moderna, eis que surge as belas morenas, loiras,
ruivas e até uma japonesa; o desfile promete. E prometendo como político em
véspera eleitoral decidimos qual pedaço de carne levar; são meretrizes se oferecendo
em troca de moedas, notas, créditos que saem dessa navalha chamada cartão;
mundo digital, libido explodindo dentro da genitália, aflorando pelos olhos
gulosos que fitam as belas putas que se beneficiam do dinheiro, do gozo, do
esporro financeiro do mundo.
Como
na película onde o personagem de Nicholson dança com a prostitua ao som de
Scorspions dançamos nos braços do destino com essas putas cheias de vida, a vida
é uma putaria cara meus caros leitores, e o fleumático pensar torna tudo mais
calmo, o agitado movimento pélvico transborda em carícias, desejos molhados.
Enquanto
lembro-me de filmes e momentos em casas de meretrícios penso: as jovens garotas
de programa sonham? Elas estão ali não pelo prazer, elas oferecem prazer, elas
querem dinheiro, querem comprar roupas, comidas, querem comprar o que o mundo
oferece em troca de moedas e notas, sejam elas físicas ou créditos; não seríamos
nós também prostitutas e putos no mundo do Capital oferecendo nosso corpo por
determinado tempo enquanto empresários, banqueiros, fazendeiros e, até o Estado,
goze economicamente com isso?
Apoucados,
achincalhados, entretanto, prontos para masturbar o sistema até ele jorrar cifrões
em cofres; masoquistas que sorriem com as chicotadas e ainda lutam para manter
esse sistema sádico, as roupas das fábricas e os uniformes de gravatas, ou saias
sociais não seriam como as roupas de couros de bacanais sado masoquistas?
As
garotas de programa se programam para o carnal, para o espírito sexual de negócios
lascivos, aceitam sair com todo tipo de clientes; magros, feios, gordos,
eleitores da extrema direita; assim como elas topamos fazer qualquer coisa,
qualquer trabalho em troca de salário, a prostituição é legalizada no mundo do
trabalho, dançamos a música coercitiva e coletiva pela coesão e manutenção da
ordem, mesmo ela sendo as vezes um estupro moral, intelectual e intestinal.
A
perfídia dos contratos, insidiosos comentários nas notas de roda pé, elegantes
palavras de um arcabouço lexical cheio de parvoíce, cheio de verborragia sofisticada,
mentecaptos dentro do escafandro borbulhando no mar agitado pelos ideólogos de discurso
baratos. A civilização precisa dessas idiotices camufladas por belas palavras,
o poder excita, mas o discurso é orgasmos verbal, escrita descomunal sob a pele
arrepiada.
No
meretrício do Capital somos mercantilizados e prostituídos, somos putas e putos
assalariados contentes com as migalhas cuspidas por bocas suínas enquanto somos
sodomizados por éticas protestantes e espíritos fantasmagóricos capitalistas, fetichismos
monetários, fantasias mentecaptas de alienados embasbacados.
Ao
som romântico das notas de solo de guitarra somos seduzidos pela fala mansa de
quem acredita que o mundo deve ser assim, dançamos com clientes que se beneficiam
da carne travestidos de oportunidades; no fim tudo adormece na noite suja e amanhece
com o sol de esperança que continua a esperar até percebermos que só um lado
goza e o outro é apenas instrumentalizado, romantismo barato. Como é caro viver
no mundo onde a ereção é cobrada aos passivos que trabalham ativamente.