A nostalgia abre espaços virtuais no
meio do deserto nadificante da
consciência, tomamos ciência que há algo sentimental, porém, nos vem de forma
inconsciente. Músicas oitentistas, séries como Star Trek, desenhos animados, olhos de Thundera, novelas com personagens protagonizados por Lima Duarte,
dentre elas cito O Salvador da Pátria com seu quixotesco sertanejo Sassá
Mutema; mas por que essa novela? Primeiro, minha família assistia; segundo, meu
pai gostava; e terceiro, o protagonista me lembra meu pai.
Entre músicas eletrônicas, queda do
muro de berlin, turbilhão efervescente da redemocratização, movimentos
feministas, AIDIS, crescimento urbano, pós-modernidade e monopólio político do
PMDB em Goiás tem minha infância cheia de trilhas sonoras de westerns, sonhos
melosos e iluministas, imaginação encharcada de ficção-científica e um casal
simples que saiu do interior do estado e veio tentar a sorte na cidade do
pecado, das ilusões e da promessa da metrópole do centro do Brasil, Goiânia. Esse
casal de pouca escolaridade, meu pai quase analfabeto, veio morar na periferia
da cidade que brotava no meio do cerrado, meu pai acabou entrando para o
serviço público, guarda municipal, e minha mãe o ajudou a me criar ( depois
veio minha irmã); mas também o ajudou na sua odisseia grega, a odisseia do “Grego”
Jairo, apelido advindo de sua língua presa.
Meu pai tinha um jeito pouco burguês
de ser, gostava da vida comunitária, casa cheia, algazarra e de ajudar pessoas
carentes, próximas ou estranhas, adorava ser o samaritano e ajudar enfermos;
nossa residência sempre tinha pessoas vindas do interior, de sua cidade natal,
para fazer tratamento na capital. Mesmo descapitalizado ele os ajudava e de boa
vontade, essa Kantiana sem utilitarismo, pragmatismo, onde o ser humano é um
fim em si mesmo, tem valor; e não um meio, uma coisa, um preço etiquetado nas
costas do destino ingrato.
Dessa odisseia caseira o Odisseu
Jairo acabou fazendo escola e surgiram casas de apoio baseadas nas já
existentes, porém, incentivadas pelo seu esforço. Hoje ele tem sua própria casa
de apoio com um sócio e presta serviços a prefeituras, dentre elas a de sua
cidade natal, Santa Rita do Araguaia, cidade onde nunca morei, mas guardo
lembranças de visitas de finais de ano, sabor de manga e água gelada de rio.
Depois da última eleição municipal o
atual prefeito, e candidato, dessa cidade fez de forma sub-reptícia, e com subterfúgios
mesquinhos, a quebra de contrato, do dia para a noite e sem aviso prévio com a
casa de apoio do Heleno do sertão goiano e seu sócio de nome germânico, Clóvis.
Devido a atuação de meu progenitor no lado adversário ao da situação, logo,
inimigo do rei. O prefeito é do PSDB, partido do autoritário Marconi,
absolutista pseudo republicano que bebeu nas águas de Pedro Ludovico, Coronel
centralizador que fez o coronelismo centralista de estado, onde os chefes
rurais se curvavam ao fascista aliado de Getúlio. Sem mais delongas podemos ver
o perfil do prefeito dentro do contexto da política partidária goiana de
direita.
A dialética do poder
instrumentalizado na perseguição, na quebra de contrato, na falta de palavra e
no rancor, que Nietzsche chamaria de moral do escravo, não é algo incoerente
com a forma como os partidos político, instituições burocráticas, fazem. Apesar
de serem burocracias, os partidos bebem da mina cordial de nossa cultura, como
Sergio Buarque de Holanda analisou de forma magistral no clássico Raízes do
Brasil, os políticos são homens cordiais, mais coração do que razão, mais raiva
do que reflexão, mais paixão do que bom senso. As vezes mais amor, as vezes
mais ódio.
Saindo da caverna platônica e passando
pelos mares revoltos da Odisseia de Homero vejo aquele homem com sua bicicleta monark barra circular, vejo a nostalgia
de minha infância que agora tem cabelos brancos, a admiração de várias cidades
e a inimizade de políticos limitados pela luta do poder sem socialização, sem
democratização, sem o povo, melhor, cidadãos, pois povo geralmente é massa de
manobra para projetos autoritários fascistas. Sassá Mutema e Dom Quixote, ou
seria um Sancho de pseudônimo Grego? Depois da guerra de Troia, de sereias com
cantos fúnebres, ciclopes enfurecidos e eleições amargas o herói da epopeia
goiana sai fortalecido, e o prefeito com sua imagem esmagada pela soberba
bárbara de políticos cordiais.
Cheguei a arrepiar, mas é isso mesmo primo.
ResponderExcluirSaiu com sua imagem esmagada.
Nossa senhora, a população santarritense e quem conhece o seu pai, estão todos revoltados.