terça-feira, 4 de outubro de 2016

Grego, o Quixote do cerrado contra o prefeito de orgulho ferido



A nostalgia abre espaços virtuais no meio do deserto nadificante da consciência, tomamos ciência que há algo sentimental, porém, nos vem de forma inconsciente. Músicas oitentistas, séries como Star Trek, desenhos animados, olhos de Thundera, novelas com personagens protagonizados por Lima Duarte, dentre elas cito O Salvador da Pátria com seu quixotesco sertanejo Sassá Mutema; mas por que essa novela? Primeiro, minha família assistia; segundo, meu pai gostava; e terceiro, o protagonista me lembra meu pai.
Entre músicas eletrônicas, queda do muro de berlin, turbilhão efervescente da redemocratização, movimentos feministas, AIDIS, crescimento urbano, pós-modernidade e monopólio político do PMDB em Goiás tem minha infância cheia de trilhas sonoras de westerns, sonhos melosos e iluministas, imaginação encharcada de ficção-científica e um casal simples que saiu do interior do estado e veio tentar a sorte na cidade do pecado, das ilusões e da promessa da metrópole do centro do Brasil, Goiânia. Esse casal de pouca escolaridade, meu pai quase analfabeto, veio morar na periferia da cidade que brotava no meio do cerrado, meu pai acabou entrando para o serviço público, guarda municipal, e minha mãe o ajudou a me criar ( depois veio minha irmã); mas também o ajudou na sua odisseia grega, a odisseia do “Grego” Jairo, apelido advindo de sua língua presa.
Meu pai tinha um jeito pouco burguês de ser, gostava da vida comunitária, casa cheia, algazarra e de ajudar pessoas carentes, próximas ou estranhas, adorava ser o samaritano e ajudar enfermos; nossa residência sempre tinha pessoas vindas do interior, de sua cidade natal, para fazer tratamento na capital. Mesmo descapitalizado ele os ajudava e de boa vontade, essa Kantiana sem utilitarismo, pragmatismo, onde o ser humano é um fim em si mesmo, tem valor; e não um meio, uma coisa, um preço etiquetado nas costas do destino ingrato.
Dessa odisseia caseira o Odisseu Jairo acabou fazendo escola e surgiram casas de apoio baseadas nas já existentes, porém, incentivadas pelo seu esforço. Hoje ele tem sua própria casa de apoio com um sócio e presta serviços a prefeituras, dentre elas a de sua cidade natal, Santa Rita do Araguaia, cidade onde nunca morei, mas guardo lembranças de visitas de finais de ano, sabor de manga e água gelada de rio.
Depois da última eleição municipal o atual prefeito, e candidato, dessa cidade fez de forma sub-reptícia, e com subterfúgios mesquinhos, a quebra de contrato, do dia para a noite e sem aviso prévio com a casa de apoio do Heleno do sertão goiano e seu sócio de nome germânico, Clóvis. Devido a atuação de meu progenitor no lado adversário ao da situação, logo, inimigo do rei. O prefeito é do PSDB, partido do autoritário Marconi, absolutista pseudo republicano que bebeu nas águas de Pedro Ludovico, Coronel centralizador que fez o coronelismo centralista de estado, onde os chefes rurais se curvavam ao fascista aliado de Getúlio. Sem mais delongas podemos ver o perfil do prefeito dentro do contexto da política partidária goiana de direita.

A dialética do poder instrumentalizado na perseguição, na quebra de contrato, na falta de palavra e no rancor, que Nietzsche chamaria de moral do escravo, não é algo incoerente com a forma como os partidos político, instituições burocráticas, fazem. Apesar de serem burocracias, os partidos bebem da mina cordial de nossa cultura, como Sergio Buarque de Holanda analisou de forma magistral no clássico Raízes do Brasil, os políticos são homens cordiais, mais coração do que razão, mais raiva do que reflexão, mais paixão do que bom senso. As vezes mais amor, as vezes mais ódio.
Saindo da caverna platônica e passando pelos mares revoltos da Odisseia de Homero vejo aquele homem com sua bicicleta monark barra circular, vejo a nostalgia de minha infância que agora tem cabelos brancos, a admiração de várias cidades e a inimizade de políticos limitados pela luta do poder sem socialização, sem democratização, sem o povo, melhor, cidadãos, pois povo geralmente é massa de manobra para projetos autoritários fascistas. Sassá Mutema e Dom Quixote, ou seria um Sancho de pseudônimo Grego? Depois da guerra de Troia, de sereias com cantos fúnebres, ciclopes enfurecidos e eleições amargas o herói da epopeia goiana sai fortalecido, e o prefeito com sua imagem esmagada pela soberba bárbara de políticos cordiais.

Um comentário:

  1. Cheguei a arrepiar, mas é isso mesmo primo.
    Saiu com sua imagem esmagada.
    Nossa senhora, a população santarritense e quem conhece o seu pai, estão todos revoltados.

    ResponderExcluir