sábado, 17 de setembro de 2016

TRAGÉDIA GREGA E LUTA DE CLASSES NA POLÍCIA CIVIL DE GOIÁS



Ai de mim, ai de mim! Somente com um gemido grego, trágico como as falas escritas por Sófocles, Eurípedes ou Ésquilo, como um Prometeu acorrentado ou um Édipo cegado pela verdade caminho pela tragédia, pela luta do herói trágico contra o destino traçado pelas moiras, parece inevitável, como a morte temos apenas que deixar a escuridão obnubilar a luz solar, mas esse eclipse não pode ser o eclipse da razão, o cálculo sem coração, o discurso sem o afeto, a constatação sem a possibilidade de mudança. É trágico ouvir de uma representante sindical que o SINPOL-GO, sindicato dos policiais civis de Goiás não pode falar em nome da categoria, em nome da polícia civil, pois ela abrange, além de agentes, escrivãs, papiloscopistas, e outros profissionais da polícia técnico científica; abrange delegados também, logo me vem à cabeça: agentes e escrivães não são policiais civis ou delegados não o são?
Uma certa arrogância relampeja no céu nublado da fala tempestuosa da líder sindical, um “discurso competente” é abstraído nas entrelinhas, somente a classe dominante, os chefes podem falar em nome da polícia, nós, o alicerce que ideologicamente não temos o poder simbólico do cargo e da tradição conservadora, não temos competência pata falar por nós mesmo, assim como os partidos bolcheviques achavam que os trabalhadores não tinham voz e precisavam de partidos , de uma burocracia para falar por eles? O não dito aqui é mais gritante do que a balburdia pronunciada.
Para completar com subterfúgios equivocados a mesma pessoa que tenta desarticular a luta dos trabalhadores da base vem com argumentos no mínimo levianos no que se refere ao reajuste de 12,33%, dizendo que nós estamos atrapalhando a todos da segurança pública a ganhar essa parcela, pois bem, vamos lá. Em primeiro lugar só temos direito em lei a esse reajuste por que agentes, escrivães e membros da polícia técnico científica fizeram greve, manifestações, invadiram assembleia legislativa e derrubaram o portão do castelo de Grayskull! Não vi nenhum delegado ao lado dos policiais nas trincheiras da guerra, durante a batalha eles na verdade ficaram do lado do eixo inimigo cortando pontos, perseguindo grevistas e por fim, ainda fizeram chantagem para terem o mesmo reajuste pelo qual lutamos, sangramos e derramamos salgadas e pesadas lágrimas que escorreram pelos sulcos de rostos cansados.
Enquanto nossa estrutura for arcaica sem carreira única, enquanto formos divididos em classes com interesses distintos seremos inimigos, pois a classe dominante sempre se utilizará da dominação para a exploração e para tirar vantagem com o Estado, o Leviatã que na visão de Hobbes impedia a luta de todos contra todos, porém, ele próprio é fruto da luta de classes e representa uma classe.
Nas linhas mestras de Dom Quixote “razão demais é loucura, mas, loucura maior é ver o mundo como ele é e não como deveria ser”, para mim apenas constatar é conservar e manter essa desventura, essa labuta e ação antitética entre policiais civis e delegados, temos que ver como deveria ser e mudar dentro das possibilidades que a conjuntura nos dá. Enquanto não mudamos vamos lutando e combatendo essas injustiças, mesmo elas sendo legalizadas, pois a justiça transcende o legal, assim como a justiça era contrária ao legalismo do nazismo, ou, como a justiça divina de Antígona era contrária ao legalismo do tirano Creonte na tragédia de Sófocles.   


2 comentários: