quinta-feira, 28 de agosto de 2014

DELEGADOS E O CANTO DA SEREIA



Olhando para o pensamento aristocrático platônico e revendo a ideia dos reis filósofos penso que essa ideia ainda é bem forte, a ideia de que uma elite detentora de um conhecimento “divino” deve dominar, governar e guiar os pobres ignorantes, sem esclarecimento, sem razão, a plebe animalesca. Talvez essa ideia não seja totalmente absurda, de um ponto de vista nietzschiano poderíamos pensar que não dá para todos serem iguais, logo não tem como todos governarem, todos serem elite, isso seria o pensamento do rebanho que ele chama de cristão, democrático, doente e baixo.
Depois dessa primeira pincelada, superficial como será todo o texto, pois não vou escrever um tratado aqui, posso afirmar que entre os extremos, ou como diria Aristóteles, entre dois vícios há a virtude, e essa virtude é a mediana, o meio termo, vamos falar sobre isso então dentro de uma outra realidade, dentro da realidade da polícia ou polícias estaduais do Brasil, mais especificamente da polícia civil. Nessa instituição reina o pensamento platônico do rei filósofo, pelo menos por parte dos que se acham esses reis, os delegados, os mesmo acham que são detentores de um poder divino, de um conhecimento transcendental a humilde, baixa e desprezível capacidade da plebe de agentes, investigadores, e escrivãs de polícia civil. Os delegados que se acham os reis filósofos se esquecem que muitos agentes e escrivães tem conhecimento mais complexos do o jurídico, muitos são conhecedores literários, fenomenológicos, químicos, etc. O conhecimento desses vão muito além do conhecimento jurídico exigido na prática policial que é tipificar crimes. Outro problema é achar que o conhecimento jurídico é algo que somente juristas, e delegados, possam alcançar e dominar, seria parecido com a ignorância sobre o processo do senhor K na literatura de Kafka, absurdo e sofisticada e não somente absurda como as ideias de nossos delegados platônicos.
Você deve estar se perguntando onde está o meio termo que disse logo acima, calma, chegaremos lá, volto a falar dos delegados. Esse pensamento aristocrático e quase místico de um pequeno e seleto grupo de chefes absolutos é contrário a instalação da carreira única na polícia brasileira, eles, nossos reis filósofos de delegacia, não acreditam que agentes e escrivãs possam ser chefes, na verdade temem perder prestígio, poder e hierarquia, falar em acabar com a carreira de delegado, arcaica e que só existe no Brasil, é uma blasfêmia para esse chefes engravatados que tem pavor de ascensão dentro da carreira, com isso querem manter engessado o sistema da polícia, arcaico, desatualizado e pouco exitoso na sua função investigativa, repressiva e dinâmica como cumpridora da justiça.

E o meio termo? Calma novamente. Ao atravessar um mar cheio de sereias Ulisses no livro Odisseia de Homero manda seus homens o amarrarem e que os mesmo colocassem cera em seus ouvidos para não ouvirem o canto das sereias e chocarem o navio contra as pedras, mas Ulisses ordena que somente ele fique sem ceras nos ouvidos, por isso amarram-no, para não cair nos encantos dos cantos das mitológicas sereias. Os delegados ao serem contra a carreira única, contra a ascensão de policiais aos cargos de chefes como acontece em países como Estados Unidos, negam o canto da sereia a esses profissionais, monopolizam como Ulisses esse canto e acham que é privilégio apenas de uma meia dúzia de reis platônicos. Aqui entra o meio termo, não tem como todos serem chefes, todos serem iguais, Nietzsche tinha lá suas razões, mas absolutizar e negar a ascensão de pessoas por merecimento e tempo de serviço é o cúmulo da falta de gestão e de mentalidade feudal no trato da carreira pública. Enquanto não houver carreira única esse conflito árabe israelense estará em a dentro do coração das trevas de nossas polícias civis e por analogia polícia federal. Nem todos serão chefes, não ao mesmo tempo, somente aqueles que tem tempo de serviço e merecimento com cursos e capacitação.

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