Olhando para o
pensamento aristocrático platônico e revendo a ideia dos reis filósofos penso
que essa ideia ainda é bem forte, a ideia de que uma elite detentora de um
conhecimento “divino” deve dominar, governar e guiar os pobres ignorantes, sem esclarecimento,
sem razão, a plebe animalesca. Talvez essa ideia não seja totalmente absurda,
de um ponto de vista nietzschiano poderíamos pensar que não dá para todos serem
iguais, logo não tem como todos governarem, todos serem elite, isso seria o
pensamento do rebanho que ele chama de cristão, democrático, doente e baixo.
Depois dessa primeira
pincelada, superficial como será todo o texto, pois não vou escrever um tratado
aqui, posso afirmar que entre os extremos, ou como diria Aristóteles, entre
dois vícios há a virtude, e essa virtude é a mediana, o meio termo, vamos falar
sobre isso então dentro de uma outra realidade, dentro da realidade da polícia
ou polícias estaduais do Brasil, mais especificamente da polícia civil. Nessa
instituição reina o pensamento platônico do rei filósofo, pelo menos por parte
dos que se acham esses reis, os delegados, os mesmo acham que são detentores de
um poder divino, de um conhecimento transcendental a humilde, baixa e
desprezível capacidade da plebe de agentes, investigadores, e escrivãs de
polícia civil. Os delegados que se acham os reis filósofos se esquecem que
muitos agentes e escrivães tem conhecimento mais complexos do o jurídico,
muitos são conhecedores literários, fenomenológicos, químicos, etc. O
conhecimento desses vão muito além do conhecimento jurídico exigido na prática
policial que é tipificar crimes. Outro problema é achar que o conhecimento
jurídico é algo que somente juristas, e delegados, possam alcançar e dominar,
seria parecido com a ignorância sobre o processo do senhor K na literatura de
Kafka, absurdo e sofisticada e não somente absurda como as ideias de nossos
delegados platônicos.
Você deve
estar se perguntando onde está o meio termo que disse logo acima, calma,
chegaremos lá, volto a falar dos delegados. Esse pensamento aristocrático e
quase místico de um pequeno e seleto grupo de chefes absolutos é contrário a
instalação da carreira única na polícia brasileira, eles, nossos reis filósofos
de delegacia, não acreditam que agentes e escrivãs possam ser chefes, na
verdade temem perder prestígio, poder e hierarquia, falar em acabar com a
carreira de delegado, arcaica e que só existe no Brasil, é uma blasfêmia para
esse chefes engravatados que tem pavor de ascensão dentro da carreira, com isso
querem manter engessado o sistema da polícia, arcaico, desatualizado e pouco
exitoso na sua função investigativa, repressiva e dinâmica como cumpridora da
justiça.
E o meio
termo? Calma novamente. Ao atravessar um mar cheio de sereias Ulisses no livro
Odisseia de Homero manda seus homens o amarrarem e que os mesmo colocassem cera
em seus ouvidos para não ouvirem o canto das sereias e chocarem o navio contra
as pedras, mas Ulisses ordena que somente ele fique sem ceras nos ouvidos, por
isso amarram-no, para não cair nos encantos dos cantos das mitológicas sereias.
Os delegados ao serem contra a carreira única, contra a ascensão de policiais
aos cargos de chefes como acontece em países como Estados Unidos, negam o canto
da sereia a esses profissionais, monopolizam como Ulisses esse canto e acham
que é privilégio apenas de uma meia dúzia de reis platônicos. Aqui entra o meio
termo, não tem como todos serem chefes, todos serem iguais, Nietzsche tinha lá
suas razões, mas absolutizar e negar a ascensão de pessoas por merecimento e
tempo de serviço é o cúmulo da falta de gestão e de mentalidade feudal no trato
da carreira pública. Enquanto não houver carreira única esse conflito árabe
israelense estará em a dentro do coração das trevas de nossas polícias civis e
por analogia polícia federal. Nem todos serão chefes, não ao mesmo tempo,
somente aqueles que tem tempo de serviço e merecimento com cursos e
capacitação.
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