Esse gemido grego que
percorre as paredes sonoras de minha alma e me mostra a trágica a e bela
aventura do viver, esse paraíso infernal com anjos, demônios e dúvidas, essa
angustiante liberdade condicionada pelas contingências, mas o que é belo em si?
As paixões maltratam as razões e sem motivo continuam a bailar, a gritar nos
silêncios dos calabouços, quem espera nunca alcança, essa boiada de fé ainda
tem muito o que aprender com os nobres de vontade que não esperam, agem e movimentam
suas vidas dentro das determinações do destino.
Olho pelo retrovisor,
vejo um casal, a mulher engole freneticamente o pênis ereto do homem com cara
de jogador de futebol, não vejo a cena, apenas imagino, pelo retrovisor a vida
fica no pretérito e longe, a imaginação me excita, enquanto aquele barbudo de
olhos futebolísticos geme de prazer crianças na faixa de Gaza gemem de dor, os
judeus são teatrais com suas armas mortíferas, os terroristas palestinos são cruéis
com seus escudos humanos, como é piegas defender um povo sem pátria,
terroristas sem coração apenas por que vemos a morte de centenas de crianças
pela televisão. O homem acaba de gozar na boca da morena de cabelo ondulado, o
semáforo abre, o verde me permite ir em frente, atrás um casal excitado, o
sangue escorrendo pelas ruas, ao vencedor as batatas como diria Machado, quero
um gole de lucidez, o carro percorre as ruas quentes e movimentadas da cidade
Babel, minha boca seca, sede, minha mente cheia, turbulência, esperma e sangue
entre notícias e inexoráveis movimentos de consciência.
As eleições se
aproximam, ainda me lembro dos discursos estudantis, das barreiras tímidas, dos
textos ilegíveis pelos olhos saídos da caverna, como dói a verdade, ainda mais
a artificial criada pela mente humana, não é a única que existe? A democracia é
uma festa, plebeia, de massas e cheia de falatórios sem nexo, mas uma ditadura
não é pior? O boquete no carro visto pelo retrovisor me excita novamente,
imagens de crianças sangrando e gemendo de dor correm pela mente, o gemido
grego no palco do teatro é o gemido de Édipo ao ver sua mãe enforcada, ele
perfura seus olhos, como dói a verdade e o trágico.
Você pode escolher o
candidato social democrata, o candidato neoliberal, mas não pode mais escolher
o candidato defunto, assim como não pode escolher não escolher, você está
condenado a liberdade, determinado a sempre escolher condicionado pela ingerência
da vida, pelo destino não escrito, mas traçado pelas vontades dos viventes,
como vive bem quem come como verme as carnes putrefatas, as palavras baratas,
como é caro viver bem, o esperma escorre pela boca da mulher no carro, o sangue
escorre pela história, mas a paz não existe e a igualdade é lema de revoluções
sangrentas, gozar e guerrear são fatos, mas a notícia com mais ibope é sempre a
mais desventurosa, desgraça vende mais, como é uma desgraça poder escolher,
poder escolher candidatos, a roupa, se vamos ou não dormir, não podemos
escolher não existir.
O carro para, a vida
não para, não sou antissemita, os judeus criaram um deus interessante, sou
contra o terrorismo, mas crianças mortas ainda mexem comigo, sexo oral também,
oralmente falando, não falo muito, escrevo mais, como era lindo o Brasil antes
das bombas atômicas, a desigualdade reina, a sociedade é desigual, só há
igualdade na massa, na plebe, não quero morrer como uma criança palestina,
quero gozar como o barbudo com cara de jogador.
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