Quando
Pedro nasceu o formigueiro já era da forma atual, sua organização, sua forma,
seu jeito de ser, mas Pedro achou que ele sempre foi assim, pois o que você vê de
uma forma quando nasce e não muda deve ser porque sempre foi assim,
axiologicamente Pedro estava preso a tradição, ou a ideologia? Respostas nem
sempre ajudam nesse caso e o acaso colocou Pedro no mundo, no formigueiro comandado
pelas formigas deltas, mal sabe ele que o formigueiro Tupi é o único no mundo
comandado pelas formigas deltas, mas para ele é normal, para ele todos os
formigueiros do mundo são comandados pelas formigas deltas que já nasceram
predestinadas pelo deus formiga para comandar os formigueiros, mal sabe ele que
também o deus único, o formiga-mor, só existe em Tupi, mas Pedro crê e é o que
importa.
Aquelas
antenas agitadas e nervosas eram sensuais, Pedro adorava a fala agitada de Mel,
sua amiga de infância, paixão platônica, mas Mel não era platônica, era
materialista, o idealismo ela deixava para formigas como Pedro, que achava que
existia uma verdade em si, um paraíso das formigas no céu e que todas as
formigas eram boas por natureza, mal sabia ele que a natureza é sacana, Mel
sabia, a sacanagem reina no mundo formiga, mesmo em Tupi. Com sua voz rouca e
agitada Mel pergunta a Pedro “por que você é tão ingênuo?”, Pedro um pouco
constrangido responde perguntando “Por que você me acha ingênuo?” Um eterno
retorno de perguntas são lançadas até que Mel, mais objetiva, afirma que Pedro é
alienado, não vê o mundo de forma crítica, ela diz que ele está dentro do
formigueiro matrix, como no filme que assistiram no cinema. Por fim Pedro fica
sentado sozinho em um banco de praça refletindo as palavras da formiga mais
bonita que ele conhece, Mel...
Os
anos passam, Pedro agora não é mais tão ingênuo, é uma formiga adulta e tem um
emprego no formigueiro Tupi, ele é policial civil no estado de Lava Pè, no
centro oeste de Tupi. Orgulho para os pais, tristeza da namorada Barbara, que
barbaridade esse menino entrar nessa, pensava a ranzinza formiga fêmea. A vida
andava como a dialética, com suas contradições e falta de sentido, os dias
passavam com sol, chuva, noite, dia, mas o formigueiro Tupi seguia firme e
forte comandado pelas formigas deltas e abençoado pela formiga-mor, mas Pedro
já questionava a santidade dessa formiga transcendental e achava estranho na
polícia nunca subir de cargo, somente as formigas deltas podiam ser delegados,
até que um dia ele descobre que em outros formigueiros pelo mundo não são
comandados pelas formigas deltas, existia uma tal de democracia, não existe
somente um deus e que na polícia não existe divisões e o mais intrigante, todas
as formigas sobem na carreira, não há exclusividade de chefia pelas deltas. Caminhava
Pedro para a desilusão, o conhecimento é melancólico, os desinformados e
ignorantes são mais felizes, como no filme que assistiu na adolescência de mãos
dadas com Mel, aquela doce e nervosa formiga que o tempo levou...
GREVE!
No jornal em letras garrafais estava estampada a palavra maldita, blasfêmia!
Toada a polícia estava em greve, Pedro se junta ao motim, melhores salários,
condições de trabalho eram o que eles pediam, mas não sabiam que receberiam na
verdade perseguições, cortes de ponto, transferências, assédios e demais infortúnios
por parte dos deltas, formigas com sede de poder e medo de quebra de
hierarquia, mas Pedro não se intimida, avança com seus companheiros formigas em
busca da utópica conquista trabalhista. A sede acaba com o afogamento do
movimento pelas águas da perseguição, inconformado Pedro escreve ao jornal
local sobre o acontecido, mas é censurado por ordem do governado Virmondes
Brilho, o formigão chefe das deltas.
É
domingo, Pedro come batata frita enquanto lê Nietzsche, na televisão fala-se de
corrupção, mortes, estupros, novelas com baixa audiência, Pedro segue sua vida
agora de um cinquentão, lembra da época da faculdade, dos beijos sem sexo com
Mel, de sua ex esposa Bárbara, de seus filhos mortos pelo terremoto que quase
destruiu Tupi e se lembra também da época em que as deltas dominavam o
formigueiro, agora são as formigas Gamas que dominam, mas Pedro ainda sonha com
um formigueiro democrata, enquanto esse formigueiro não chega ele vê a
juventude lutar contra essa nova praga burocrata e com sede de poder, beber Coca-Cola
ainda é a salvação em dias quentes.
Meus parabéns pelo texto Nobre Guerreiro Clodoaldo Bastos.
ResponderExcluirGrande abraço.
Alexandre Martins
Obrigado Alexandre, valeu!
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